Questão c4740479-e3
Prova:FAG 2015
Disciplina:Português
Assunto:Uso dos conectivos, Sintaxe

Como não se viam há algum tempo, logo que se encontraram no trânsito, os amigos ficaram felizes e puderam conversar um pouco.”

Considerando as palavras sublinhadas no fragmento acima, indique a alternativa que contém a relação semântica, na sequência, de cada uma delas: 

Texto 3


que da vida não se descreve...
Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!" Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...
O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?
Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.
Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.
Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...
Extraído: http://pensador.uol.com.br/textos_reflexivos_para_o_professor/ 

A
comparação / condicionalidade / explicação.
B
causalidade / temporalidade / causalidade.
C
comparação / adição / conclusão.
D
finalidade / temporalidade / explicação.
E
causalidade / temporalidade / adição.

Gabarito comentado

M
Marcelo Alves Monitor do Qconcursos

Tema central da questão: A questão exige identificar relações semânticas dos conectivos no contexto de um período composto. O foco está em reconhecer as funções de conjunções segundo a norma-padrão, assunto recorrente em questões de sintaxe e semântica.

Justificativa da alternativa correta (E):

Como: Causalidade → Conforme Celso Cunha e Lindley Cintra em "Nova Gramática do Português Contemporâneo", a conjunção "como", quando anteposta, confere valor causal à oração. No trecho, indica a razão de os amigos ficarem felizes.
Logo que: Temporalidade → Trata-se de locução conjuntiva temporal: a ação dos amigos acontecer (ficarem felizes e conversarem) ocorre imediatamente após o reencontro no trânsito.
E: Adição → Segundo Bechara (Gramática Escolar da Língua Portuguesa), "e" expressa adição de ideias, somando as duas ações: os amigos ficaram felizes e puderam conversar.

Análise das alternativas incorretas:

A) comparação / condicionalidade / explicação: "Como" não compara, mas indica causa. "Logo que" não é condição, é tempo. "E" não explica, apenas soma.
B) causalidade / temporalidade / causalidade: Só "como" exprime causa; "e" não tem valor causal.
C) comparação / adição / conclusão: "Como" não é comparação; "logo que" não adiciona, mas indica tempo; "e" não conclui, apenas adiciona.
D) finalidade / temporalidade / explicação: "Como" não sugere finalidade; "e" não introduz explicação.

Dica de prova: Atenção, pois conjunções polissêmicas (“como”, por exemplo) mudam de sentido conforme o contexto. Pergunte-se sempre: “Esta conjunção responde a quê? Causa, tempo, adição ou outro valor?”

Estratégia: Em períodos longos, releia cada oração e relacione-a ao verbo principal: isso ajuda a isolar a função semântica de cada conectivo — essencial para evitar “pegadinhas”!

Gabarito: E) causalidade / temporalidade / adição
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