Questão c29cfb09-7f
Prova:IMT - SP 2020
Disciplina:Português
Assunto:Colocação Pronominal, Morfologia - Pronomes

A palavra grifada em A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste, exerce a mesma função em

I. Releio algumas linhas, que me desagradam.
II. E, falando assim, compreendo que perco o tempo.
III. ...para que serve esta narrativa?
IV. Compreendo que perco o tempo.
V. ...deixava que a sombra nos envolvesse...

Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.

E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever.

Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as ideias não vêm, ou vêm muito numerosas - e a folha permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel.

Emoções indefiníveis me agitam - inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: desespero, raiva, um peso enorme no coração.

Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão.


(Graciliano Ramos) 

A
II e III.
B
apenas I.
C
I e IV.
D
I, II, III, IV e V.
E
II, III e V.

Gabarito comentado

A
André AlvesMonitor do Qconcursos

Comentário - Questão sobre as funções morfossintáticas da palavra “que”

Tema central: A questão aborda a função morfossintática do pronome relativo “que”, conceito fundamental no estudo da oração subordinada adjetiva na Língua Portuguesa.

Análise do enunciado: No trecho “A culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste”, “que” retoma “vida agreste” e exerce a função de sujeito da oração seguinte (“que me deu uma alma agreste”). Trata-se de um caso típico de pronome relativo funcionando como sujeito.

Regra gramatical: Segundo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), o pronome relativo assume a função que seu antecedente teria na oração subordinada: sujeito, objeto direto, agente da passiva, entre outros. Nesta questão, queremos saber qual alternativa apresenta o “que” com a mesma função (sujeito).

Análise das alternativas:

I. “Releio algumas linhas, que me desagradam.”
Aqui, o “que” retoma “algumas linhas” e funciona como sujeito de “me desagradam”. É a única alternativa correta.

II. “...compreendo que perco o tempo.”
Neste caso, “que” é conjunção integrante, introduzindo oração subordinada substantiva, não pronome relativo.

III. “para que serve esta narrativa?”
Aqui, “que” é um pronome interrogativo (ou conjunção de finalidade) e não pronome relativo.

IV. “Compreendo que perco o tempo.”
Semelhante à II, “que” é conjunção integrante.

V. “deixava que a sombra nos envolvesse...”
Mais uma vez, “que” é conjunção integrante.

Conclusão:
A função morfossintática do “que” no enunciado aparece apenas na alternativa I, pois, em ambos os períodos, ele é pronome relativo com função de sujeito. Nas demais, atua como conjunção ou em outros papéis. Portanto, a alternativa correta é a B).

Dica para provas: Ao analisar “que” em questões, busque o termo que ele retoma (antecedente) e verifique se exerce função sintática típica de pronome relativo (sujeito, objeto, etc). Atenção a pegadinhas: nem todo “que” é pronome relativo!

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