Leia o excerto de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”,
publicado em Sagarana (1946), de Guimarães Rosa, e
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
“E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais
excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura.
Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
– Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um
dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito
a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter
muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua
hora e a sua vez: você há de ter a sua.” [p. 356]
[...]
“Quando ficou bom para andar, escorando-se nas
muletas que o preto fabricara, já tinha os seus planos,
menos maus, cujo ponto de início consistia em ir para
longe, para o sitiozinho perdido no sertão mais longínquo
[...] que era agora a única coisa que possuía de seu.
Antes de partir, teve com o padre uma derradeira
conversa, muito edificante e vasta. E, junto com o casal
de pretos samaritanos, que, ao hábito de se desvelarem,
agora não o podiam deixar nem por nada, pegou chão,
sem paixão.
Largaram à noite, porque o começo da viagem teria de
ser uma verdadeira escapada. E, ao sair, Nhô Augusto
se ajoelhou, no meio da estrada, abriu os braços em
cruz, e jurou:
– Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por
mal!... E a minha vez a de chegar... P’ra o céu eu vou,
nem que seja a porrete!...
E os negros aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a
caminho do sertão.” [p. 357-358]
[...]
“E o povo, enquanto isso, dizia: – ‘Foi Deus quem
mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as
famílias da gente!...’” [p. 385]
“Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou:
– Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu falar no
nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas! [...]
Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos,
com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue,
e de seu rosto subia um sagaz contentamento. [...]
Depois, morreu.” [p. 386]
(ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984)
“E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais
excelentemente, porque era mesmo uma brava criatura.
Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
– Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um
dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito
a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter
muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua
hora e a sua vez: você há de ter a sua.” [p. 356]
[...]
“Quando ficou bom para andar, escorando-se nas
muletas que o preto fabricara, já tinha os seus planos,
menos maus, cujo ponto de início consistia em ir para
longe, para o sitiozinho perdido no sertão mais longínquo
[...] que era agora a única coisa que possuía de seu.
Antes de partir, teve com o padre uma derradeira
conversa, muito edificante e vasta. E, junto com o casal
de pretos samaritanos, que, ao hábito de se desvelarem,
agora não o podiam deixar nem por nada, pegou chão,
sem paixão.
Largaram à noite, porque o começo da viagem teria de
ser uma verdadeira escapada. E, ao sair, Nhô Augusto
se ajoelhou, no meio da estrada, abriu os braços em
cruz, e jurou:
– Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por
mal!... E a minha vez a de chegar... P’ra o céu eu vou,
nem que seja a porrete!...
E os negros aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a
caminho do sertão.” [p. 357-358]
[...]
“E o povo, enquanto isso, dizia: – ‘Foi Deus quem
mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as
famílias da gente!...’” [p. 385]
“Mas Nhô Augusto tinha o rosto radiante, e falou:
– Perguntem quem é aí que algum dia já ouviu falar no
nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas! [...]
Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos,
com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue,
e de seu rosto subia um sagaz contentamento. [...]
Depois, morreu.” [p. 386]
(ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Record, 1984)
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda o conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa, concentrando-se no papel da religiosidade na transformação e redenção do protagonista Nhô Augusto.
Compreensão essencial: A religiosidade apresentada no conto não se limita à doutrina, rito ou moral religiosa tradicional. Muito mais do que um conjunto de práticas, ela se expressa como caminho de autoconhecimento, aperfeiçoamento interior e busca pessoal de redenção. É a trajetória de um homem que, após sofrer grandes perdas e reconhecer sua própria limitação, compromete-se com uma mudança profunda em suas atitudes e valores.
Alternativa correta: B
Justificativa: A alternativa B interpreta corretamente o percurso de Nhô Augusto como uma busca de salvação baseada no aperfeiçoamento de sua consciência individual. Ao longo do conto, ele assume enfrentamento de suas falhas, aceita a orientação do padre e, com coragem, determina transformar-se pelo trabalho, pela fé e pelo bem que faz aos outros. Nessa jornada, há forte incentivo à autossuperação, ressignificação de suas experiências e busca sincera de redenção — e não estritamente por meio da obediência a dogmas.
Análise das demais alternativas:
A: Limita a religiosidade à fé cristã tradicional e à figura do herói santificado. Em Rosa, contudo, há maior complexidade: o protagonista experimenta uma transformação pessoal interna e não se restringe a ser símbolo de santidade.
C: Aponta para um religiosismo superficial, meramente como “socorro” ou culpa. O texto, porém, mostra uma transformação efetiva, concreta, de Nhô Augusto, que se entrega a uma missão de redenção verdadeira.
D: Foca na autopunição e na fusão entre amor humano/divino. Apesar de o arrependimento estar presente, não é o arrependimento em si o centro, mas sim a redenção ativa pela mudança de vida e atos altruístas.
E: Deturpa o texto ao propor uma religiosidade científica, racional e sem transcendência, que não corresponde ao movimento espiritual experimentado pelo personagem.
Estratégia: Atenção às nuances: quando a discussão envolver religiosidade em personagens literários, avalie se a transformação proposta é pessoal e interna (consciência) ou coletiva/tradicional (ideologia, dogma). Palavras como “consciência individual”, “redenção” e “autossuperação” são pistas importantes para a alternativa correta.
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