Leia o texto:
Desolado com a possibilidade de extinção da língua portuguesa, deputado apresenta projeto
de lei com o objetivo de proibir o uso de palavras de outros idiomas em meios de
comunicação, nomes comerciais, documentos oficiais, etc. [...]
A identidade das línguas não se esconde nos vocabulários, mas na maneira como eles se
articulam. Seus segredos estão em palavras que a maioria dos mortais relega a segundo
plano como artigos, preposições, conjunções, ou em processos relacionais como regências,
concordâncias, flexões, declinações, sintaxes. Enquanto os fanáticos por computadores
conjugarem o anglicismo “escanear” como se fosse “escaneio, escaneias, escaneia...” tudo
está bem: estão apenas repetindo processos que nos deram palavras preciosas como
“desolado” ou “parlamento”... – a última , um caso particularmente interessante, por nos
fornecer uma palavra latina por tabela, sua raiz é latina, mas sua existência se deve aos
ingleses. No dia em que começarmos a lidar com respeitáveis palavras de ascendência
diretamente romana como “falar” em termos de “eu fala, tu fala, ele fala, nós fala”, aí talvez
seja o momento de profetizar a agonia da “última flor de Lácio” [...]
O simples fato de determinada comunidade usar ou não determinada expressão contém
significado que jamais poderá ser traduzido por outra palavra. Voltando ao nosso apaixonado
por computadores, se ele começar a disparar verbos como “escanear”, “printar”, deletar ou
congêneres, saberemos de sua condição de info-fanático. Ninguém precisará nos dizer isso.
Além de nos informar que vai imprimir ou apagar algo, ele está nos dizendo, também, que
se quiser pode estourar o disco rígido de nosso computador sem que notemos. Quando um
executivo fala em personal banking, ele não se refere apenas à relação personalizada que
a informática permite entre ele e seu banco, informa-nos, também, sobre a tribo à qual
pertence [...] A lei contém, portanto, elemento limitador da expressão. Quando pretende se
impor a meios de comunicação, o problema torna-se mais grave. Além da redução
quantitativa de informações que permite à comunidade, realiza, também, uma redução
qualitativa: estabelece que certas categorias de informações simplesmente não podem ser
transmitidas. Antigamente isso se chamava censura.
(Texto adaptado de: AVELAR, Marcelo Castilho. O idioma está acima do controle das leis.
Estado de Minas, Belo Horizonte, 17 set. 2000. Espetáculo/Opinião, p.4.)
O dois-pontos usado no fragmento “[...] tudo está bem: estão apenas repetindo processos
que nos deram palavras preciosas [...]” dá idéia de ________ e pode ser substituído por
________.
Completa corretamente as lacunas:
Leia o texto:
Desolado com a possibilidade de extinção da língua portuguesa, deputado apresenta projeto de lei com o objetivo de proibir o uso de palavras de outros idiomas em meios de comunicação, nomes comerciais, documentos oficiais, etc. [...] A identidade das línguas não se esconde nos vocabulários, mas na maneira como eles se articulam. Seus segredos estão em palavras que a maioria dos mortais relega a segundo plano como artigos, preposições, conjunções, ou em processos relacionais como regências, concordâncias, flexões, declinações, sintaxes. Enquanto os fanáticos por computadores conjugarem o anglicismo “escanear” como se fosse “escaneio, escaneias, escaneia...” tudo está bem: estão apenas repetindo processos que nos deram palavras preciosas como “desolado” ou “parlamento”... – a última , um caso particularmente interessante, por nos fornecer uma palavra latina por tabela, sua raiz é latina, mas sua existência se deve aos ingleses. No dia em que começarmos a lidar com respeitáveis palavras de ascendência diretamente romana como “falar” em termos de “eu fala, tu fala, ele fala, nós fala”, aí talvez seja o momento de profetizar a agonia da “última flor de Lácio” [...] O simples fato de determinada comunidade usar ou não determinada expressão contém significado que jamais poderá ser traduzido por outra palavra. Voltando ao nosso apaixonado por computadores, se ele começar a disparar verbos como “escanear”, “printar”, deletar ou congêneres, saberemos de sua condição de info-fanático. Ninguém precisará nos dizer isso. Além de nos informar que vai imprimir ou apagar algo, ele está nos dizendo, também, que se quiser pode estourar o disco rígido de nosso computador sem que notemos. Quando um executivo fala em personal banking, ele não se refere apenas à relação personalizada que a informática permite entre ele e seu banco, informa-nos, também, sobre a tribo à qual pertence [...] A lei contém, portanto, elemento limitador da expressão. Quando pretende se impor a meios de comunicação, o problema torna-se mais grave. Além da redução quantitativa de informações que permite à comunidade, realiza, também, uma redução qualitativa: estabelece que certas categorias de informações simplesmente não podem ser transmitidas. Antigamente isso se chamava censura. (Texto adaptado de: AVELAR, Marcelo Castilho. O idioma está acima do controle das leis. Estado de Minas, Belo Horizonte, 17 set. 2000. Espetáculo/Opinião, p.4.)
O dois-pontos usado no fragmento “[...] tudo está bem: estão apenas repetindo processos que nos deram palavras preciosas [...]” dá idéia de ________ e pode ser substituído por ________.
Completa corretamente as lacunas:
Gabarito comentado
Tema central: Pontuação, com foco no uso dos dois-pontos e sua relação semântica na comunicação.
No trecho analisado, os dois-pontos marcam a passagem para uma explicação que revela a causa da afirmação anterior. Explicando pela norma culta, conforme Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), os dois-pontos podem introduzir uma oração que esclarece, detalha ou justifica o enunciado anterior. Neste caso, justificam por que "tudo está bem": isso ocorre porque (ou "uma vez que") estão apenas repetindo processos já comuns à língua.
A alternativa correta é a letra A:
Causa / uma vez que
Justificativa: A expressão após os dois-pontos explica o motivo para considerar natural o uso de palavras estrangeiras adaptadas: a língua já passa por esse processo historicamente. Daí, "uma vez que", conjunção causal, encaixa-se perfeitamente, mantendo o sentido original.
Análise das alternativas incorretas:
B) Consequência / porque: "Porque" é causal, mas, em conjunto com "consequência", distorce o sentido. O trecho não expressa um resultado, mas sim o motivo de a situação ser vista como aceitável.
C) Exemplificação / por isso: "Por isso" é conectivo de consequência, e o trecho não fornece um exemplo, mas sim uma causa.
D) Explicação / logo: Embora o uso dos dois-pontos possa indicar explicação, "logo" expressa ideia de conclusão, diferente do efeito explicativo-causal do contexto.
Estratégia para provas: Sempre observe atentamente a relação semântica introduzida após os dois-pontos: é causa, explicação, consequência ou exemplificação? Busque conectivos adequados e teste a substituição para não cair em pegadinhas!
Regra resumida: Segundo Cunha & Cintra, os dois-pontos podem introduzir causas e justificativas, podendo ser trocados por conjunções como "uma vez que", "porque", "já que" – sempre sem alterar o sentido original.
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