Questão 98608979-e8
Prova:FAME 2014
Disciplina:Português
Assunto:Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Releia estas duas passagens do texto.

(...) “segundo o IPEA, os 10% mais pobres tiveram entre 2001-2011 um crescimento de renda acumulado de 91,2%, enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%.”

(...) “há cerca de 60 milhões de famílias no Brasil, das quais cinco mil famílias extensas detêm 45% da riqueza nacional.”

Da relação entre os dados apresentados nessas duas passagens do texto, é CORRETO inferir que

Texto 1

            Somos uma sociedade injusta e segregacionista


O fenômeno dos centenas de rolezinhos que ocuparam shoppings centers no Rio e em São Paulo suscitaram as mais disparatadas interpretações. (...)

Eu, por minha parte, interpreto da seguinte forma tal irrupção:

Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias, sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins como saúde, escola, infra-estrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação.

Mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada. O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluídos no contrato social. Não adianta termos uma "constituição cidadã" que neste aspecto é apenas retórica, pois implementou muito pouco do que prometeu em vista da inclusão social. Eles estão fora, não contam, nem sequer servem de carvão para o consumo de nossa fábrica social (Darcy Ribeiro). Estar incluído no contrato social significa ter garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos bunkers do consumo? "Oia nóis na fita"; "nois não tamo parado";"nóis tamo aqui para zoar"(incomodar). Eles estão com seu comportamento rompendo as barreiras do aparheid social.(...)

Continuamos uma Brasilíndia: uma Bélgica rica dentro de uma Índia pobre. Tudo isso os rolezinhos denunciam, por atos e menos por palavras.

Em segundo lugar, eles denunciam a nossa maior chaga: a desigualdade social cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva constatar que, com as políticas sociais do governo do PT, a desigualdade diminuiu, pois, segundo o IPEA, os 10% mais pobres tiveram entre 2001-2011 um crescimento de renda acumulado de 91,2%, enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%. Mas esta diferença não atingiu a raiz do problema, pois o que supera a desigualdade é uma infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer que funcione e seja acessível a todos. Não é suficiente transferir renda; tem que criar oportunidades e oferecer serviços, coisa que não foi o foco principal no Ministério de Desenvolvimento Social.

O "Atlas da Exclusão Social" de Márcio Poschmann (Cortez 2004) nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias no Brasil, das quais cinco mil famílias extensas detém 45% da riqueza nacional. Democracia sem igualdade, que é seu pressuposto, é farsa e retórica. Os rolezinhos denunciam essa contradição. Eles entram no "paraíso das mercadorias" vistas virtualmente na TV para vê-las realmente e senti-las nas mãos. Eis o sacrilégio insuportável pelos donos dos shoppings. Eles não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses bárbaros. Sim, bem o viu T.Todorov em seu livro "Os novos bárbaros": os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos "consumidores felizes" e lhes dizer: esta ordem é ordem na desordem. Ela os faz frustrados e infelizes, tomados de medo, medo dos próprios semelhantes que somos nós.

Por fim, os rolezinhos não querem apenas consumir. Não são animaizinhos famintos. Eles têm fome sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar sua vida. Tudo isso lhes é negado, porque, por serem pobres, negros, mestiços sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na margem.

Esse tipo de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convém mais. Os rolezinhos mexeram numa pedra que começou a rolar. Só parará se houver mudanças.

BOFF, Leonardo. Jornal Zero Hora. 28 jan. 2014. (adaptado). Disponível em: . Acesso em 05 abr. 2014.


A
O crescimento da renda da parte mais rica da população não contribuiu para a concentração de renda nas famílias que detém 45% da riqueza nacional.
B
O crescimento da renda da parte mais rica da população não aumentou a distância entre sua renda acumulada e a renda acumulada dos 10% mais pobres da população.
C
O crescimento da renda dos 10% mais pobres da população não foi capaz de diminuir o número de famílias pobres no Brasil.
D
O crescimento da renda dos 10% mais pobres não foi suficiente para que essa parte da população obtivesse divisão igual dos 55% da riqueza nacional.

Gabarito comentado

T
Teodora BritoMonitor do Qconcursos

Comentário da Questão – Interpretação de Texto: Inferência Implícita

O foco desta questão é a interpretação de texto, especialmente a inferência de informações implícitas. Segundo Koch (1989), inferir significa deduzir informações novas a partir do que está dito, mesmo não estando explícito. Treinar essa habilidade é fundamental em provas de vestibular e concursos.

Justificativa da Alternativa Correta (D):

A alternativa (D) exige que o aluno entenda que o crescimento da renda dos 10% mais pobres, apesar de expressivo (91,2%), não resultou em uma divisão igualitária da riqueza nacional. O texto deixa claro que, mesmo com esse avanço, ainda há enorme concentração de riqueza (com cinco mil famílias detendo 45% da riqueza nacional). O restante da população, inclusive os mais pobres, divide os 55% restantes dessa riqueza de forma desigual, o que demonstra que as melhorias não “igualaram” o acesso a essa parcela, apenas atenuaram a desigualdade.

Essa inferência é construída a partir da comparação entre os dados e a análise do contexto, conforme recomendam autores como Celso Cunha & Lindley Cintra: o leitor deve relacionar conteúdos apresentados em diferentes trechos do texto e construir o sentido a partir das informações explícitas e do conhecimento prévio.

Análise das Alternativas Incorretas:

A) Errada. O texto em nenhum momento afirma que o crescimento dos mais ricos não contribuiu para a concentração da riqueza. Na verdade, a concentração permanece evidente.

B) Errada. Não há respaldo para afirmar que a diferença entre as rendas não aumentou; o texto mostra apenas que ambos cresceram, mas não compara diretamente as distâncias relativas.

C) Errada. Não se pode concluir, pelo texto, sobre alteração no número de famílias pobres, apenas sobre crescimento de renda.

Destaques e Estratégias:

Fique atento a expressões como “não foi suficiente”, “igual divisão”, “ainda”, “mesmo com o crescimento”, pois indicam limitações aos efeitos positivos mencionados. Pergunte-se sempre: o texto proporciona dados que sustentam a consequência afirmada?

Lembre-se: uma resposta por inferência necessita de leitura ativa, comparando informações e evitando conclusões extrapoladas.

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