As normas da concordância verbal são, socialmente,
bastante valorizadas na definição da língua portuguesa
‘’culta’. Está conforme tais normas a seguinte
alternativa:
TEXTO 1
A valorização da ética
(1) Há um paradoxo na nossa relação com a ética. Pais,
filósofos e educadores concordam quanto aos valores a
serem transmitidos e preservados. A questão é que a
crença nos valores se dá no atacado e no abstrato,
enquanto sua transmissão se faz no concreto das relações
cotidianas. Aí se instala a contradição.
(2) Ficam desacreditadas as solenes exposições
pedagógicas sobre disciplina e respeito aos direitos do
outro quando a escola é conivente com brincadeiras
agressivas. Os repetidos sermões sobre limites ficam sob
suspeita se os pais passam pelo acostamento quando a
estrada está congestionada ou param em fila dupla na
frente da escola. Nossas conversas sobre integridade ficam
comprometidas quando compramos vídeos e discos
pirateados ou fazemos ligações clandestinas de TV a cabo.
(3) Talvez a coerência não seja um atributo dos humanos:
sentimentos contraditórios convivem tranquilamente dentro
de nós. Infelizmente, também somos muito distraídos: a
maior parte do tempo, funcionamos sob o comando de um
‘piloto automático’, que nos empurra para o caminho mais
fácil, esquecidos dos valores que deveriam nortear nossas
escolhas.
(4) Mas a hipocrisia está a um passo à frente do cinismo, na
medida em que o hipócrita sabe qual é o caminho do bem,
reconhece que deveria percorrê-lo, mas não consegue pôr
em prática sua crença teórica. Diferentemente do cínico,
que nega a validade de qualquer escolha e adota o
princípio do “não tenho nada com isso”, com um alienado
encolher de ombros.
(5) Talvez seja essa a verdadeira ameaça a nos desviar do
caminho de um futuro melhor. Uma geração de jovens
cínicos e alienados poderia, de fato, pôr tudo a perder. O
mundo será melhor quando cuidarmos para que nosso
comportamento reflita nossos princípios e transformarmos
os discursos sobre fraternidade em gestos de solidariedade.
Aí, então, a opção pelo caminho da ética se fará não por
temor à punição ou à censura, mas como exercício de
amor-próprio, como um componente da dignidade.
(Aratangy, Lídia Rosenberg. Claudia. São Paulo: Abril, jun. 2004,
p. 148-151. Adaptado)
Gabarito comentado
Tema central: Trata-se de uma questão sobre concordância verbal, ponto fundamental na sintaxe normativa da Língua Portuguesa para provas de vestibular e concursos. A regra diz que o verbo deve concordar em número (singular/plural) e pessoa com o sujeito.
Análise da alternativa correta (D):
A frase “Sociedades mais justas haviam-se consolidado no mundo se os ideais da solidariedade tivessem crescido.” emprega corretamente a concordância verbal: o sujeito "Sociedades mais justas" está no plural, e o verbo "haviam-se consolidado" concorda no plural ('haviam'). Aqui, “haver” é verbo auxiliar de voz reflexiva, portanto é pessoal e deve concordar com o sujeito. Esta é a forma exigida pela norma-padrão.
Análise das alternativas incorretas:
A) “Nenhuma das sociedades atuais podem se livrar [...]” — O núcleo do sujeito é “nenhuma” (singular). O verbo deveria estar no singular: “pode”. Regra: o verbo concorda com o pronome indefinido (Bechara).
B) “Qual das sociedades atuais conseguem dispensar [...]?” — “Qual” é pronome interrogativo no singular; verbo deveria ser “consegue”. Atenção: o adjunto “das sociedades atuais” não afeta o número do verbo.
C) “Haveriam sociedades mais justas [...]” — Regra clássica (Cunha & Cintra): quando ‘haver’ tem sentido de existir, é impessoal e fica no singular: “haveria”. Pegadinha comum em prova!
E) “Quais dos grupos brasileiros esteve [...]?” — “Quais” é plural, logo: “estiveram”. Observação: atenção aos pronomes interrogativos compostos!
Estratégias e pegadinhas: Questões de concurso frequentemente trocam o núcleo do sujeito por construção aparentando plural ou singular falso. Sempre localize o núcleo do sujeito e confira a flexão verbal antes de marcar sua resposta.
Referência: Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa.
Resumo: A alternativa D é a única plenamente correta pela concordância verbal conforme a norma culta. As demais possuem erros clássicos exigidos em provas de alto nível.
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