Há concordância nominal INADEQUADA em:
ACHADO NÃO É ROUBADO
Fabrício Carpinejar
Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. Eu me virava como dava.
Recebia casa, comida e roupa lavada e não havia como miar, latir e __________________ mais
nada aos pais, só agradecer.
As minhas fontes de renda eram praticamente duas: procurar dinheiro nas
bolsas vazias da mãe, torcendo para que deixasse alguma nota na pressa da troca dos
acessórios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros.
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia disciplina e profissionalismo. Saía
de casa pelas 13h e caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao meio-fio como pedra
em estilingue. Varria a poeira com os pés e cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana.
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro Petrópolis ao centro. Voltava
quando atingia a entrada do viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia monetária no
outro lado da rua.
Levava um saquinho para colher as moedas. Cada tarde rendia o equivalente a
três reais. Encontrar correntinhas, colares e __________________ salvava o dia. Poderia
revender no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em jujubas, bolo inglês e guaraná.
Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência o Liquinho, vulgo Ricardo.
Mais forte do que eu, ajudava a levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava com a
responsabilidade de descer_________ profundezas do lodo. Tirava toda a roupa – a mãe não
perdoaria o petróleo do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o fundo com as mãos.
Esquecia a nojeira imaginando as recompensas. Repartia os lucros com os colegas que me
acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto Alegre. Lembro que compramos uma
bola de futebol com a arrecadação de duas semanas.
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os professores paravam no
meu colégio, acreditava na greve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam dos
bolsos para protestar por melhores condições.
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia dinheiro a ninguém. Desde cedo,
descobri que vadiar é também trabalhar duro.
Disponível em: < http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/achado-nao-e-roubado.html >
Acesso em: 22 jun. 2016.
Gabarito comentado
Tema central: Esta questão aborda concordância nominal, ou seja, o uso correto dos adjetivos para concordar em gênero e número com as palavras que acompanham. Trata-se de um ponto essencial na norma-padrão, frequentemente cobrado em vestibulares e concursos públicos.
Alternativa correta: A
A frase “É proibida entrada em bueiros.” está em desacordo com as regras da concordância nominal segundo a norma culta da Língua Portuguesa. Quando expressões como proibido, permitido, necessário são empregadas com o verbo “ser” e o substantivo não vem precedido de artigo, o adjetivo deve permanecer no masculino singular:
✔ É proibido entrada em bueiros. (Forma adequada)
✘ É proibida entrada em bueiros. (Forma inadequada)
De acordo com Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), “Se o substantivo vier acompanhado de artigo, faz-se a flexão: ‘É proibida a entrada’.” Portanto, a alternativa apresenta concordância inadequada e está correta quanto ao enunciado pedido.
Análise das demais alternativas:
B) “O menino achou bastantes moedas no bueiro.”
"Bastante" como pronome adjetivo concorda em gênero/número. Aqui, “bastantes” está correto, pois indica quantidade de “moedas” (feminino plural).
C) “Ele escolheu mau lugar e hora para a expedição.”
"Mau" está corretamente no masculino para concordar com “lugar”. Não se aplica a “hora”, mas não há erro na estrutura.
D) “A primeira e a segunda expedições da tarde eram bem sucedidas.”
A expressão “bem-sucedidas” faz a concordância correta com “expedições” (feminino plural). O uso do hífen, embora importante, não era foco do enunciado.
Dica competitiva:
Fique atento ao determinante (artigo, pronome) antes do substantivo! Ele é o elemento-chave para definir a concordância correta nas frases com "é proibido/é proibida". Essa é uma pegadinha clássica de prova!
Em resumo: Apenas a alternativa A apresenta erro de concordância nominal de acordo com a norma-padrão. Praticando a identificação do determinante, você estará preparado para acertar questões desse tipo!
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