O contato com a Literatura pode despertar em nós
sentimentos, emoções e, sobretudo, gosto estético. Os
poemas, especialmente, suscitam tudo isso. No caso
concreto desse poema de Vinicius, fica evidente:
1) uma espécie de volta à poética cultivada pelos
poetas do período literário do Parnasianismo.
2) a concepção de amor do eu-lírico, a qual foge da
idealização do ‘amor para sempre e eterno’.
3) o jogo de oposição entre a fugacidade do amor –
‘posto que é chama’ – e sua infinitude, ‘enquanto
dure’.
4) um certo afastamento das temáticas comuns à
vida do cotidiano social das pessoas.
Estão corretas:
Soneto de fidelidade.
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1998, p. 289.
Soneto de fidelidade.
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1998, p. 289.
Gabarito comentado
Tema central da questão: O tema é a análise interpretativa do soneto moderno de Vinicius de Moraes, especialmente quanto à visão de amor e o diálogo da forma poética com diferentes escolas literárias.
Explicação Didática: O “Soneto de Fidelidade” adota a estrutura clássica do soneto (2 quartetos e 2 tercetos, 14 versos), traço formal típico do Parnasianismo – escola do final do século XIX que prezava pela formalidade, impessoalidade e perfeição técnica (representada por Olavo Bilac, Alberto de Oliveira). No entanto, o conteúdo do poema de Vinicius reflete o Modernismo, priorizando subjetividade, intensidade de sentimentos e visão realista do amor.
Justificativa para a alternativa correta (A):
1) Correta: A “volta à poética parnasiana” se refere à retomada da forma clássica do soneto, embora não ao seu conteúdo. Estratégia de prova: cuidado! Não se trata de conteúdo impessoal, mas sim de estrutura.
3) Correta: O jogo de oposição citado realmente existe: “posto que é chama” (brevidade) X “infinito enquanto dure” (intensidade duradoura). Este paradoxo expressa a essência do poema.
4) Correta: A “vida do cotidiano social das pessoas” aparece, mas sob a perspectiva íntima do amor, afastando-se de temas exclusivamente sociais ou coletivos – foco no particular.
Análise das alternativas incorretas:
2) Incorreta: O poema, de fato, rejeita a ideia do “amor para sempre e eterno”, reconhecendo sua finitude e intensidade. Contudo, a alternativa correta abrange percepção de forma (item 1) e oposição (item 3), sendo o gabarito “A”.
Estratégia de prova: Atenção à distinção entre estrutura formal (Parnasianismo) e conteúdo emocional (Modernismo). Muitos alunos confundem a “volta à poética” como necessariamente conteúdo, mas a prova explora o uso técnico da forma clássica em contexto moderno.
Caso a banca misture forma e conteúdo, priorize aquela alternativa que melhor se encaixa no texto-base, mantendo atenção a palavras-chave como "forma", "estrutura" versus "sentimento", "idealização".
Resumo: O soneto de Vinicius une forma clássica a conteúdo moderno, e o amor, longe de ser idealizado, é vivido intensamente, mas consciente de sua brevidade.
Gabarito: Alternativa A
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