Leia com atenção os textos abaixo, a respeito do Festival Internacional da Canção ocorrido no Rio de Janeiro em 1968, e depois escolha a alternativa correta.

Vou voltar/Sei que ainda vou voltar para o meu lugar/Foi lá e é ainda lá/Que eu hei de ouvir cantar/ Uma sabiá

Sabiá. Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim

Vem vamos embora que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Pra não dizer que não falei das flores. Geraldo Vandré

As 20 mil pessoas que estavam no Maracanãzinho [em 1968] transformaram-se em coral dessa variante melódica do conceito marighelista de que 'a vanguarda faz a ação'. 'Sabiá' derrotou 'Caminhando', mas Tom Jobim mal conseguiu tocá-la. A arquibancada vaiou-o por 23 minutos. Talvez tenha sido a mais longa das vaias ouvidas nos auditórios do país. Não era a Tom que se apupava, muito menos ao júri, que deixara 'Caminhando' em segundo lugar. A vaia era contra a ditadura, e aquela seria a última manifestação vocalista das multidões brasileiras. Passariam uma década em silêncio, gritando pouco mais que 'gol'. Poucas semanas depois, o governo proibiu a execução de 'Caminhando' nas rádios e em locais públicos. Temia que se tornasse 'o ponto de partida para a aceleração e ampliação de um processo de dominação das massas'.

Gaspari, Elio, A ditadura envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002, p. 322.

Alternativa correta: B

Tema central: o Festival Internacional da Canção (1968) como episódio simbólico da relação entre cultura e política durante a ditadura militar — em especial a reação do público à vitória de "Sabiá" sobre "Caminhando" e a posterior censura à canção de Geraldo Vandré.

Resumo teórico e fontes: o episódio mostra como manifestações culturais funcionavam como espaço de contestação e mobilização. A obra de referência usada no enunciado, Elio Gaspari, A ditadura envergonhada (Companhia das Letras, 2002), registra que a vaia foi dirigida ao regime e que logo depois "Caminhando" foi proibida. Também é útil lembrar o contexto legal: Ato Institucional nº 5 (AI-5), de 13/12/1968, ampliou a repressão estatal naquele ano.

Justificativa da alternativa B: o texto indica que a arquibancada vaiou a apresentação vencedora porque o público queria a vitória de "Caminhando" (Vandré). "Caminhando" tinha letra de forte apelo à ação coletiva e era associada à esquerda; por isso muita gente vaiou em apoio a Vandré e contra o regime. Assim, a alternativa B explica corretamente a motivação da vaia — apoio à canção de Vandré e ao conteúdo contestatório dela.

Análise das alternativas incorretas (estratégia: verificar cronologia e causalidade):

A — Incorreta. O AI-5 foi resultado de um conjunto de fatores e da escalada repressiva, não apenas do festival; trata-se de simplificação causal.

C — Incorreta. A proibição de "Caminhando" decorreu do receio do regime em relação à mobilização popular; não foi porque estimulou conspirações contra João Goulart (Goulart já havia sido deposto em 1964).

D — Incorreta. Ao contrário, houve forte interação entre radicalização política e cultura; os festivais foram arenas de contestação.

E — Incorreta. É exagerado afirmar que todos os festivais subsequentes foram marcados por intensa radicalização e repetidas represálias; após o AI-5 a repressão às manifestações públicas aumentou e a cena cultural sofreu censura mais rigorosa.

Dica de prova: leia o enunciado buscando quem sofre/quem age (quem vaiou? por quê?). Verifique datas e causalidade: fatos isolados raramente são causa única de medidas como o AI-5.

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