Leia este fragmento de uma conferência realizada pela artista brasileira Maria Lina no Teatro Fênix, no Rio
de Janeiro, às vésperas da Primeira Guerra:
“Há uma opinião profundamente errada que pediria licença para me opor – a das danças consideradas
pouco sérias. Não há danças pouco sérias como não há danças morais. Tudo depende como se dança (...)
a dança é alegria. Não tem moral. Nós é que lhe pomos a moral, segundo a nossa educação.”
Fonte: VELLOSO, Mônica Pimenta. A dança como alma da brasilidade: Paris, Rio de Janeiro e o maxixe. Nuevo Mundo-Mundos
Nuevos. No. 7, 2007. Disponível em:< http://nuevomundo.revues.org/3709.>. Acesso em 29 maio 2017.
Nesse fragmento, a artista defende que:
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C
Tema central: a questão trata da Geografia Cultural — mais especificamente de como práticas culturais (a dança) funcionam como marcadores sociais e temporais: identificam nacionalidades, limites de época, identidades de gênero e modos de exibição. Este tipo de leitura é recorrente em provas que cobram interpretação de fontes culturais e de conceitos sobre identidade e representação.
Resumo teórico: na Geografia Cultural, elementos culturais (gestos, festas, danças) não têm um sentido natural e fixo: são socialmente construídos e interpretados. Autores úteis para fundamentar essa ideia: Clifford Geertz (interpretação simbólica), Doreen Massey (espaços de identidade) e estudos sobre performance/ritual (Victor Turner). No texto de apoio (Velloso) observa‑se que a dança recebe significados segundo normas sociais — logo, é um marcador cultural.
Por que a alternativa C está correta: o trecho afirma que “não há danças pouco sérias... tudo depende como se dança” e que “nós é que lhe pomos a moral, segundo a nossa educação.” Isso indica que a dança expressa e delimita valores de uma época, critérios de gênero e modos de exibição — ou seja, funciona como elemento identificador de “nacionalidades” e limites temporais e sociais. A alternativa C capta justamente essa ideia de que a dança identifica e delimita contextos culturais e históricos.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. Afirma supremacia da dança clássica europeia; o fragmento rejeita juízos de valor e moralização, não hierarquiza estilos.
B — Incorreta. Diz que a dança “carrega uma visão estereotipada da sensibilidade moderna”; o trecho critica a moralização e mostra que o sentido é atribuído socialmente, não que a dança, por si, reproduza uma visão estereotipada da modernidade. É exercício de leitura impreciso.
D — Incorreta. Trata de transformação em espetáculo erudito mediante coreografia — tema distinto: o fragmento discute significado e moralidade atribuída, não a possibilidade de institucionalização ou “elevação” de um gênero.
Dica de prova: busque no enunciado palavras‑chave que revelem a ideia central (“não tem moral”, “nós é que lhe pomos a moral”); elimine alternativas que acrescentam juízos não presentes (superioridade, espetacularização) e prefira a opção que traduz a construção social do significado cultural.
Fontes sugeridas: VELLOSO (2007); Geertz, C. (1973) The Interpretation of Cultures; Doreen Massey — textos sobre espaço e identidade.
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