“Tudo delira e todos nós estamos atacados de megalomania. De quando em quando, dá-nos essa moléstia
e nós esquecemos de obras vistas, de utilidade geral e
social, para pensar só nesses arremedos parisienses,
nessas fachadas e ilusões cenográficas.
Não há casas, entretanto, queremos arrasar o morro do
Castelo, tirando habitação de alguns milhares de pessoas”
“Megalomania”, Lima Barreto
De acordo com essa crônica de 1920 sobre o projeto do
prefeito Carlos Sampaio para a cidade do Rio de Janeiro,
é INCORRETO afirmar que o autor:
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: crítica de Lima Barreto (1920) às reformas urbanas no Rio — obras de embelezamento inspiradas em Paris que expulsavam populações pobres e priorizavam a aparência sobre necessidades sociais. É preciso conhecer a Reforma Passos, o contexto republicano oligárquico e o modelo higienista/haussmanniano para interpretar o texto.
Resumo teórico: no início do século XX, autoridades cariocas adotaram intervenções higienistas/estéticas (demolições, alargamentos, fachadas) que removeram cortiços e trabalhadores do Centro. Intelectuais como Lima Barreto denunciaram o caráter excludente dessas intervenções — prioridade ao “espetáculo” urbano em detrimento da moradia e da igualdade social.
Por que A é a resposta certa (INCORRETO afirmar)? A alternativa mistura duas ideias: (1) que o autor questiona elementos antidemocráticos — verdadeiro; (2) que esses elementos não correspondiam à concepção de República das elites — falso. Na verdade, Lima Barreto critica precisamente ações que condizem com a visão republicana das elites: modernização seletiva que consolidava desigualdades. Como a alternativa contém essa afirmação errada, ela é a INCORRETA solicitada pelo enunciado.
Análise das demais alternativas (por que não são INCORRETAS):
B — correto: Barreto critica obras superficiais e de aparência, não voltadas aos interesses da maioria.
C — correto: ele aponta que demolições aumentavam a crise habitacional ao retirar moradias populares.
D — correto: opõe‑se ao arrasamento do Morro do Castelo que seguia a lógica expulsiva observada desde a Reforma Passos.
E — correto: rejeita a ideia de transformar o Rio em uma “Paris tropical”; critica a imitação acrítica do modelo parisiense.
Dica de interpretação: atenção às negativas e às orações coordenadas nas alternativas. Se uma parte da frase for falsa (aqui: “não correspondiam…”), toda a alternativa torna‑se equivocada. Busque o núcleo do argumento do autor e compare cada segmento da alternativa com esse núcleo.
Fontes sugeridas: crônicas de Lima Barreto (1920), estudos sobre a Reforma Passos e o higienismo urbano; leituras introdutórias sobre Haussmann e urbanismo republicano brasileiro.
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