Analise um trecho da canção “As caravanas”, composta por
Chico Buarque.
É um dia de real grandeza, tudo azul
[...]
Quando pinta em Copacabana
[...]
A caravana do Irajá,
o comboio da Penha.
Não há barreira que retenha
esses estranhos
Suburbanos tipo muçulmanos
do Jacarezinho
[...]
Com negros torsos nus deixam
em polvorosa
A gente ordeira e virtuosa que apela
Pra polícia despachar de volta
O populacho pra favela
Ou pra Benguela, ou pra Guiné.
[...]
(Chico Buarque. “As caravanas”. Caravanas, 2017.)
Nessa letra, o compositor
Gabarito comentado
Resposta correta: D
Tema central: a questão explora relações socioespaciais na cidade — exclusão, estigmatização das periferias e a persistência de formas históricas de exploração social. Compreender isso exige leitura cuidadosa de símbolos (ex.: “Benguela, Guiné”) que remetem ao passado escravista e à continuidade da violência racial e social no presente urbano.
Resumo teórico: a literatura sobre urbanização mostra que processos históricos (colonialismo, escravidão, crescimento desigual) moldam a cidade contemporânea, gerando segregação e mecanismos de controle social (polícia, estigmatização). Autores úteis: Milton Santos, A Natureza do Espaço (sobre produção do espaço e desigualdade) e Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil (noções sobre heranças culturais). Também consulte Manuel Castells, A Questão Urbana.
Por que a alternativa D é correta: a letra relaciona práticas contemporâneas — expulsão, estigma, uso da polícia — a um passado de exploração ao remeter explicitamente a lugares ligados ao tráfico negreiro (“Benguela, Guiné”). O recorte apresenta continuidade histórica: os pobres urbanos são vistos como “populacho” a ser mandado de volta, repetindo mecanismos de exclusão e violência herdados da escravidão e do colonialismo. Logo, a canção conecta a sociedade contemporânea a um passado de exploração social.
Análise das alternativas incorretas:
A — fala em “passividade das classes dominadas”: incorreto. A letra mostra mobilidade e visibilidade dos subúrbios (as caravanas), não uma simples passividade histórica.
B — propõe “despolitização das elites”: incorreto. A canção evidencia reação e ação das elites (reprisão, apelo à polícia), não despolitização.
C — afirma “apenas aprofundamento da desigualdade num país cordial”: incorreto. Além de desigualdade, a letra insiste na continuidade histórica e racial da exploração; chamar o país de “cordial e pacífico” minimiza a crítica explícita à violência social.
E — acusa “desmantelamento do estado de bem‑estar”: incorreto. A crítica é mais ampla e histórica (exclusão, racismo, expulsão), não centradamente em políticas de bem‑estar ou sua retirada.
Dica de prova: busque termos-chaves e referências históricas no enunciado (nomes de lugares, ações como “despachar de volta”); eles apontam continuidade histórica e intenções críticas — sinal forte para a alternativa D.
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