“Nos anos 20, Henry Ford fabricava mais de dois milhões de automóveis por ano, cada
um idêntico nos mínimos detalhes ao anterior e ao próximo da linha de montagem.
Certa vez, Ford comentou ironicamente que seus clientes podiam escolher qualquer cor
que quisessem para seu modelo T, contanto que fosse preto. Este princípio de produtos
padronizados fabricados em massa definiu a regra para a industrialização, por mais de
meio século” (Jeremy Rifkin, O fim dos empregos: o declínio dos níveis dos empregos e a
redução da força global de trabalho). Sobre o conceito de fordismo, é correto afirmar:
A partir da leitura do texto “De volta à condição proletária”, de Ruy Braga e Marco
Aurélio Santana, responda à questão.
“Berço histórico do chamado ‘novo sindicalismo’ brasileiro, o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC comemorou 50 anos de existência no último dia 12 de maio. É praticamente
impossível lembrar dessa efeméride sem associá-la àquele movimento grevista do ano de
1978 que renovou o cenário político brasileiro catalisando o fim da ditadura e impulsionando a luta pela redemocratização do país por meio, principalmente, da criação do Partido
dos Trabalhadores (PT) – e, posteriormente, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). (…)
Amalgamada pelo desenvolvimento industrial acelerado, pelo despotismo fabril, por
condições de trabalho degradantes, pelo autoritarismo estatal e por intensos fluxos migratórios, essa ‘nova’ classe trabalhadora fordista, periférica, do ABC paulista não tardaria a
contradizer os prognósticos sociológicos do início dos anos 1970. Em vez de politicamente
‘passiva’, pois carente de ‘tradições’ organizativas, ela seria militante e rebelde. (…)
Contudo, como indicava a filósofa Simone Weil, ‘a condição operária muda continuamente’ (…)
As razões para o desmanche da classe mobilizada e o retorno a uma condição proletária
indiferenciada são conhecidas e enlaçam processos econômicos, políticos e simbólicos. Indo
do geral ao particular, parece-nos que a mundialização capitalista, tendo os mercados financeiros à frente, responde por parte substantiva dos motivos que geraram essa realidade.
Nos países capitalistas avançados, após a longa transição dos anos 1970, a entrada em
cena de quantidades desmedidas de capitais financeiros – na forma de fundos de pensão,
fundos mútuos, seguros e fundos hedge – reconfigurou o modelo de desenvolvimento
fordista que vigorava até então. Resultante da desregulamentação dos mercados de capitais e da contraonfesiva política neoliberal, somadas ao desenvolvimento das tecnologias
da informação, um novo regime de acumulação financeirizado emergiu para restabelecer a
lucratividade da empresas. (…)
No Brasil, a década de 1990 foi marcada por essas características. As transformações
produtivas incrementaram o desemprego e degradaram o ambiente laboral, desestruturando ainda mais nosso mercado de trabalho. O aumento da concorrência entre os trabalhadores foi acompanhado pela multiplicação das formas, até então atípicas, de contratação
de trabalho. (…)
Uma imagem capaz de ilustrar com nitidez o especial significado das transformações do
mundo do trabalho no Brasil contemporâneo talvez seja a da ocupação que mais cresceu
em termos numéricos nos anos recentes: os operários de telemarketing. Amalgamado
pelos investimentos no setor de serviços, pelas privatizações, pelas tercerizações, pela rotatividade, pela informatização e pela financeirização das empresas, esse ‘infoproletariado’,
carente de tradições organizativas e, portanto, despolitizado e com baixa aparição coletiva
na cena pública, é a verdadeira antítese da classe mobilizada das greves de 1978”.
“De volta à condição proletária”, Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, Revista Cult, ano 12, número
139. Texto adaptado.
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: entende-se aqui o conceito de fordismo — modelo de organização da produção industrial associado a Henry Ford e ao desenvolvimento das linhas de montagem no início do século XX. É importante diferenciá‑lo de conceitos posteriores (toyotismo/just‑in‑time, trabalho em equipe polivalente, financeirização), pois perguntas de concurso costumam explorar essas distinções.
Resumo teórico (claro e progressivo): o fordismo combina a produção em massa com a especialização extrema do trabalho, uso intensivo de linhas de montagem e padronização de produtos. Herdou princípios do taylorismo (administração científica) — divisão rigorosa entre planejamento e execução, controle do ritmo pelo gerenciamento, tarefas repetitivas e desqualificadas para o operário. Fontes: Frederick W. Taylor (administração científica) e estudos sobre Ford/produção em massa; Jeremy Rifkin (citado no enunciado) discute impactos laborais desse modelo.
Por que a alternativa B está certa: ela define corretamente o fordismo como uma forma específica de organização do trabalho industrial que aprimora princípios tayloristas, centraliza decisões de concepção e ritmo na gerência e reduz o trabalhador a tarefas pré‑definidas e repetitivas — características centrais do fordismo clássico.
Análise das alternativas incorretas:
A — confunde fordismo com práticas do pós‑fordismo/lean (just‑in‑time). O JIT e redução de estoques são marcas do toyotismo, não do fordismo que valorizava produção em massa e estoques elevados.
C — descreve trabalho em equipe polivalente (multifuncional), prática típica do toyotismo/post‑fordismo; opõe‑se à especialização e repetição do fordismo.
D — fala de engenharia cooperativa e integração de todas as etapas (produção, projeto, marketing) — característica de modelos flexíveis e integração interfuncional, não do fordismo rígido e segmentado.
E — mistura taylorismo com a ideia de supressão da hierarquia e equipes polivalentes — contradição: taylorismo/fordismo mantêm hierarquia e separação entre planejamento e execução; equipes polivalentes pertencem ao pós‑fordismo.
Estratégia para provas: busque termos‑chave: “linha de montagem”, “produção em massa”, “tarefas repetitivas” → fordismo/taylorismo; “just‑in‑time”, “polivalência”, “equipes” → toyotismo/pós‑fordismo. Evite alternativas que misturam princípios opostos.
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