“Aos 60 anos, Rossmarc foi confinado na cadeia
Raimundo Pessoa em Manaus, dividindo uma cela com
80 detentos. Dormia no chão junto de uma fossa sanitária.”
O trecho retirado do Texto 8 faz menção a um problema
de saúde pública: a condição sanitária.
Sabe-se que os índices de mortalidade infantil também
estão associados ao acesso a serviços de água, esgoto
e destino adequado de lixo.
Marque a alternativa correta em relação ao tema
supracitado:
“Aos 60 anos, Rossmarc foi confinado na cadeia Raimundo Pessoa em Manaus, dividindo uma cela com 80 detentos. Dormia no chão junto de uma fossa sanitária.”
O trecho retirado do Texto 8 faz menção a um problema de saúde pública: a condição sanitária.
Sabe-se que os índices de mortalidade infantil também estão associados ao acesso a serviços de água, esgoto e destino adequado de lixo.
Marque a alternativa correta em relação ao tema supracitado:
TEXTO 8
Aos 60 anos, Rossmarc foi confinado na cadeia
Raimundo Pessoa em Manaus, dividindo uma cela
com 80 detentos. Dormia no chão junto de uma fossa
sanitária. Para manter-se vivo usava toda a sua inteligência
para fazer acordos com os detentos. Lá havia
de tudo: drogados, jagunços, pseudomissionários,
contrabandistas etc. Fora vítima do advogado. Com
toda a lábia, nunca fora a Brasília defender Rossmarc.
Por não ter apresentado a defesa, foi condenado a 13
anos de prisão. O advogado sumira, Rossmarc perdera
o prazo para recorrer. Como era estrangeiro, os
juízes temiam que fugisse do Brasil. O juiz ordenou
sua prisão imediata. A cela, com oitenta detentos, fervilhava,
era mais do que o inferno. Depressivo, mantinha-se
tartamudo num canto, remoendo sua história, recordando-se dos bons tempos em que navegava
pelos rios da Amazônia com seus amigos primatas.
Visitas? Só a de Pássaro Azul. Mudara-se também
para Manaus e, sem nada dizer a Rossmarc,
para obter dinheiro, prostituía-se num cabaré. Estava
mais magra e algumas rugas se mostravam em
seu rosto antes reluzente, agora de cor negra desgastada.
Com o intuito de obter dinheiro, tanto para
Rossmarc pagar as contas de dois viciados em crack
no presídio, como para as custas de um advogado
inexperiente, pouco se alimentava e ao redor dos
olhos manchas entumecidas apareciam, deixando-a
como alguém que consumia droga em exagero. As
noitadas no cabaré enfumaçado e fedorento deixavam-na
enfraquecida. Mas não deixara de amar o
biólogo holandês. Quando fugira do quilombola,
naquela noite, jurara amor eterno e não estava disposta
a quebrar o juramento.
Enquanto Pássaro Azul se prostituía para obter
os escassos recursos, Rossmarc, espremido entre os
oitenta detentos, procurava desesperadamente uma
luz no fim do túnel. Lembrava-se dos amigos influentes,
de jornalistas, de políticos, e cada vez que Pássaro
Azul o visitava, ele implorava que procurasse essas
pessoas. Pássaro Azul corria atrás, mas sequer era recebida. Quem daria ouvidos a uma negra que se dizia
íntima de Rossmarc, o biólogo que cometera crimes de
biopirataria? Na visita seguinte, Rossmarc indagava:
— E dai, procurou aquela pessoa?
Para não magoar o amado, ela respondia que todos
estavam muito interessados em sua causa. Dizia,
entretanto, sem entusiasmo, com os olhos acuados e
baixos, para não ver o rosto magro e chupado de Rossmarc.
Entregava-lhe o pouco dinheiro que economizava,
fruto da prostituição, e saia de lá com os olhos
rasos d’água, tolhendo os soluços.
Numa noite no cabaré, Pássaro Azul conheceu
um homem gordo e vesgo, que usava correntões de
ouro. Dizia-se dono de um garimpo no meio da selva.
Bebia e fumava muito, ria alto, com gargalhadas
por vezes irritantes. Entre todas as raparigas, escolheu
Pássaro Azul, que lhe fez todas as vontades, pervertendo-se
de forma baixa e vil. Foram três noitadas intermináveis,
mas Pássaro Azul aprendera a administrar a
bebida. Não era tola, como as demais, que se embebedavam
a ponto de caírem e serem arrastadas. Era carinhosa
com o fazendeiro e saciava-lhe todos os caprichos.
Não o abandonava, sentava em seu colo gordo e
fazia-lhe agrados fingidos. Dava-lhe mais bebida e um
composto de viagra, e o rosto gordo se avermelhava
como de um leão enraivecido. Então, ela o puxava para
o quarto sórdido. Na cama, enfrentava como guerreira
o monte de carne e ossos, trepando sobre suas grandes
papadas balofas e cavalgando, como uma guerreira. O
homem resfolegava, gritava, gemia, uivava, mas Pássaro
Azul não parava aquela louca cavalgada.
[...]
(GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville:
Sucesso Pocket, 2014. p. 217-218.)
TEXTO 8
Aos 60 anos, Rossmarc foi confinado na cadeia Raimundo Pessoa em Manaus, dividindo uma cela com 80 detentos. Dormia no chão junto de uma fossa sanitária. Para manter-se vivo usava toda a sua inteligência para fazer acordos com os detentos. Lá havia de tudo: drogados, jagunços, pseudomissionários, contrabandistas etc. Fora vítima do advogado. Com toda a lábia, nunca fora a Brasília defender Rossmarc. Por não ter apresentado a defesa, foi condenado a 13 anos de prisão. O advogado sumira, Rossmarc perdera o prazo para recorrer. Como era estrangeiro, os juízes temiam que fugisse do Brasil. O juiz ordenou sua prisão imediata. A cela, com oitenta detentos, fervilhava, era mais do que o inferno. Depressivo, mantinha-se tartamudo num canto, remoendo sua história, recordando-se dos bons tempos em que navegava pelos rios da Amazônia com seus amigos primatas.
Visitas? Só a de Pássaro Azul. Mudara-se também para Manaus e, sem nada dizer a Rossmarc, para obter dinheiro, prostituía-se num cabaré. Estava mais magra e algumas rugas se mostravam em seu rosto antes reluzente, agora de cor negra desgastada. Com o intuito de obter dinheiro, tanto para Rossmarc pagar as contas de dois viciados em crack no presídio, como para as custas de um advogado inexperiente, pouco se alimentava e ao redor dos olhos manchas entumecidas apareciam, deixando-a como alguém que consumia droga em exagero. As noitadas no cabaré enfumaçado e fedorento deixavam-na enfraquecida. Mas não deixara de amar o biólogo holandês. Quando fugira do quilombola, naquela noite, jurara amor eterno e não estava disposta a quebrar o juramento.
Enquanto Pássaro Azul se prostituía para obter os escassos recursos, Rossmarc, espremido entre os oitenta detentos, procurava desesperadamente uma luz no fim do túnel. Lembrava-se dos amigos influentes, de jornalistas, de políticos, e cada vez que Pássaro Azul o visitava, ele implorava que procurasse essas pessoas. Pássaro Azul corria atrás, mas sequer era recebida. Quem daria ouvidos a uma negra que se dizia íntima de Rossmarc, o biólogo que cometera crimes de biopirataria? Na visita seguinte, Rossmarc indagava:
— E dai, procurou aquela pessoa?
Para não magoar o amado, ela respondia que todos estavam muito interessados em sua causa. Dizia, entretanto, sem entusiasmo, com os olhos acuados e baixos, para não ver o rosto magro e chupado de Rossmarc. Entregava-lhe o pouco dinheiro que economizava, fruto da prostituição, e saia de lá com os olhos rasos d’água, tolhendo os soluços.
Numa noite no cabaré, Pássaro Azul conheceu um homem gordo e vesgo, que usava correntões de ouro. Dizia-se dono de um garimpo no meio da selva. Bebia e fumava muito, ria alto, com gargalhadas por vezes irritantes. Entre todas as raparigas, escolheu Pássaro Azul, que lhe fez todas as vontades, pervertendo-se de forma baixa e vil. Foram três noitadas intermináveis, mas Pássaro Azul aprendera a administrar a bebida. Não era tola, como as demais, que se embebedavam a ponto de caírem e serem arrastadas. Era carinhosa com o fazendeiro e saciava-lhe todos os caprichos. Não o abandonava, sentava em seu colo gordo e fazia-lhe agrados fingidos. Dava-lhe mais bebida e um composto de viagra, e o rosto gordo se avermelhava como de um leão enraivecido. Então, ela o puxava para o quarto sórdido. Na cama, enfrentava como guerreira o monte de carne e ossos, trepando sobre suas grandes papadas balofas e cavalgando, como uma guerreira. O homem resfolegava, gritava, gemia, uivava, mas Pássaro Azul não parava aquela louca cavalgada.
[...]
(GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville:
Sucesso Pocket, 2014. p. 217-218.)