O reformador da natureza
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de botar defeito em todas
as coisas. O mundo para ele estava errado e a Natureza só
fazia tolices.
-Tolices, Américo?
- Pois então?!... Aqui neste pomar você tem a prova disso.
Lá está aquela jabuticabeira enorme sustendo frutas pequeninas
e mais adiante vejo uma colossal abóbora presa ao caule duma
planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário?
Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria
as bolas – punha as jabuticabas na aboboreira e as abóboras na
jabuticabeira. Não acha que tenho razão?[...]
- Mas o melhor – concluiu – é não pensar nisso e tirar uma
soneca à sombra destas árvores, não acha?
E Américo Pisca-Pisca, pisca-piscando que não acabava
mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. [...] De repente, porém, no melhor do
sono, plaft!, uma jabuticaba cai do galho bem em cima do seu
nariz. Américo despertou de um pulo. Piscou, piscou. Meditou
sobre o caso e afinal reconheceu que o mundo não estava tão
mal feito como ele dizia. E lá se foi para casa, refletindo:
- Que espiga! ... Pois não é que se o mundo tivesse sido
reformado por mim, a primeira vítima teria sido eu mesmo? Eu,
Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta em
lugar de jabuticaba? Him! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo
como está que está tudo muito bom.
Adaptado de: LOBATO, Monteiro. A reforma da natureza. 17 ed. São
Paulo: Editora Brasiliense S.A. : 1980, p. 8 - 10.
A humanidade, nem sempre com a ingenuidade de Américo
Pisca-Pisca, e muitas vezes em nome dos avanços tecnológicos
e científicos, faz também as suas “reformas”. Sobre algumas
ações antrópicas ao meio ambiente, pode-se afirmar:
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C
Tema central: impactos antrópicos no meio ambiente e riscos à saúde humana (poluição atmosférica e intoxicações). É preciso relacionar processos ecológicos e efeitos fisiológicos conhecidos.
Resumo teórico: o monóxido de carbono (CO) é um gás produzido por combustão incompleta. No organismo, o CO se liga à hemoglobina formando carboxihemoglobina, que reduz a capacidade de transporte de O2 e causa hipóxia tecidual. Em exposições altas ou prolongadas, isso leva à perda de consciência e morte. (Fontes: OMS/WHO; protocolos de intoxicação por CO).
Justificativa da alternativa C: A alternativa descreve corretamente que o aumento da emissão de CO eleva a formação de carboxihemoglobina, aumentando risco de mortes por asfixia. Conceitualmente isso é correto: maior concentração de CO no ar → maior substituição do O2 na hemoglobina → menor entrega de oxigênio → efeitos tóxicos e óbitos em casos graves.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. A caça indiscriminada tende a reduzir populações e aumentar risco de extinção, não favorecer especiação. Especiação exige isolamento reprodutivo e tempo; caça abrupta leva à perda de diversidade.
B — Incorreta. Organismos transgênicos têm genes introduzidos de outras espécies (ou rearranjos que não são apenas transferência intraespécies). Existe distinção entre transgênese e cisgênese, mas a afirmação de “sempre da mesma espécie” é falsa (CTNBio/EMBRAPA explicam essas definições).
D — Incorreta. Espécies exóticas alteram fortemente a competição interespecífica, predatismo e redes tróficas (ex.: mexilhão-dourado, tilápia, jacaré-açu em algumas áreas). Invasões são uma das principais causas de perda de biodiversidade (IBAMA, programas de controle de invasoras).
E — Incorreta. É verdade que mercúrio é usado em garimpo e contamina peixes no Brasil, mas os efeitos neurotóxicos do mercúrio (ex.: doença de Minamata, impactos cognitivos e motores) são bem documentados — não é correto afirmar que “pouco se tem conhecimento”. Convenção de Minamata, OMS e estudos nacionais detalham os riscos.
Estratégia para provas: busque termos fisiológicos e consequências diretas (ex.: “CO → carboxihemoglobina → hipoxia”), desconstrua frases absolutas (“sempre”, “pouco se tem conhecimento”) e relacione com exemplos reais e normas reconhecidas.
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