“Quantos “cariris” cabem no espaço hoje
conhecido pelo mesmo nome? Quantos nomes, vozes e histórias ajudaram a
construí-lo como lugar incomum e plural para tantas gerações de intelectuais, artistas,
políticos e religiosos? Cariri, espaço simbólico, monumentalizado em
narrativas, cantado e poetizado por homens como José Bernardino da Silva,
Patativa do Assaré, Manoel Caboclo; esculpido em formas belas e estranhas como
as da escola de artistas populares inaugurada por Noza, Ciça do Barro Cru, Nino
e tantos outros que se destacaram ao longo do século XX; xilogravado por
Stêncio Diniz, José Lourenço, Nilo, dentre outros. Tantas cores, palavras e
nuances que, encontrar uma síntese de definição tem sido tarefa complexa a qual
muitos dedicaram a vida.” (MENESES, Sônia. Apresentação do livro Cariri,
Cariris: outros olhares sobre um lugar (in) comum. MENESES, Sônia (org.).
Crato: Universidade Regional do Cariri (URCA); Recife: Imprima, 2016.
Considerando o trecho acima da historiadora Sônia Meneses, é correto afirmar
sobre o Cariri e sua história e território:
Um
fator importante para o processo de construção da identidade do caririense foi
a participação nos movimentos políticos do início do século XIX, quando os
principais núcleos familiares da região, tendo como liderança a Dona Bárbara de
Alencar, se colocaram em defesa da monarquia portuguesa (1817) e da monarquia brasileira
(1824);
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C
Tema central: a questão trata da construção historiográfica e territorial do Cariri (região do sul do Ceará), ou seja, como historiadores e moradores definem suas fronteiras, natureza e identidade cultural. Para responder é preciso distinguir entre base etnocultural (origem do nome), configuração física (Chapada do Araripe, clima, vegetação) e as interpretações históricas produzidas por pesquisadores locais.
Resumo teórico: o Cariri é uma região com identidade plural: marcada pela Chapada do Araripe (relevo de planalto), transição de vegetações (trechos de caatinga e formações mais úmidas), e por forte tradição cultural (literatura, artes populares). A historiografia regional — especialmente a tradição iniciada por Irineu Pinheiro e José de Figueiredo Filho — ressaltou justamente essas especificidades físicas e sociais, descrevendo o Cariri como área com características diferenciadas do sertão típico do Nordeste. (Ver: Meneses, S. Apresentação em Cariri, Cariris: outros olhares sobre um lugar (2016)).
Por que a alternativa C está correta: ela sintetiza a interpretação historiográfica citada: Pinheiro e Figueiredo Filho contribuíram para ver o Cariri como um espaço com natureza, clima e vegetação que o distinguem do restante do sertão nordestino. Essa leitura é a que fundamenta muitos estudos regionais e legitima o Cariri como unidade de análise própria.
Análise das alternativas incorretas
A — incorreta: embora "Cariri/ Kariri" remeta a grupos indígenas, a afirmação exagera uma narrativa de migração específica (vindos do sul da América Portuguesa fugindo de espanhóis) — é imprecisa sobre fluxos e contexto colonial e simplifica a complexa distribuição dos povos kariri na Região Nordeste.
B — incorreta: apresenta “exclusivamente” os vales altiplanos da Chapada do Araripe como significado do termo. Errado: o uso cotidiano e cultural do Cariri é mais amplo e plural, abrangendo cidades do sul do Ceará e zonas limítrofes, não sendo reduzido apenas aos vales.
D — incorreta: a criação de instituições culturais no Cariri (como centros e institutos) visa preservar, estudar e promover a cultura regional; não se trata de um movimento fundado para negar autores anteriores, como Pinheiro e Figueiredo — essa versão é distorcida.
E — incorreta: distorce a atuação histórica de líderes locais. Dona Bárbara de Alencar participou das lutas de 1817 (caráter revolucionário/repúblico), não na defesa da monarquia; a alternativa troca posições políticas e confunde cronologias.
Dica de interpretação: desconfie de termos absolutos (ex.: "exclusivamente") e afirmações que simplificam papeis históricos. Relacione enunciado, contexto físico e tradição historiográfica para escolher com segurança.
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