Observe:
“Há coisa de trinta anos, eu ainda professora universitária, recebíamos as primeiras levas de
alunos saídos de escolas enfraquecidas pelas providências negativas...”
Recurso de concordância semelhante ao utilizado pela autora no período acima ocorre em:
Observe:
“Há coisa de trinta anos, eu ainda professora universitária, recebíamos as primeiras levas de alunos saídos de escolas enfraquecidas pelas providências negativas...”
Recurso de concordância semelhante ao utilizado pela autora no período acima ocorre em:
TEXTO I‘Educação: reprovada’, um artigo de Lya Luft
Há quem diga que sou otimista demais. Há quem diga que sou pessimista. Talvez eu tente apenas ser uma
pessoa observadora habitante deste planeta, deste país. Uma colunista com temas repetidos, ah, sim,
os que me impactam mais, os que me preocupam mais, às vezes os que me encantam particularmente.
Uma das grandes preocupações de qualquer ser pensante por aqui é a educação. Fala-se muito, grita-se muito, escreve-se, haja teorias e reclamações. Ação? Muito pouca, que eu perceba. Os males foram-se acumulando de tal jeito que é difícil reorganizar o caos.
Há coisa de trinta anos, eu ainda professora universitária, recebíamos as primeiras levas de alunos saídos
de escolas enfraquecidas pelas providências negativas: tiraram um ano de estudo da meninada, tiraram
latim, tiraram francês, foram tirando a seriedade, o trabalho: era a moda do “aprender brincando”.
Nada de esforço, punição nem pensar, portanto recompensas perderam o sentido. Contaram-me
recentemente que em muitas escolas não se deve mais falar em “reprovação, reprovado”, pois isso
pode traumatizar o aluno, marcá-lo desfavoravelmente. Então, por que estudar, por que lutar, por que
tentar?
De todos os modos facilitamos a vida dos estudantes, deixando-os cada vez mais despreparados
para a vida e o mercado de trabalho. Empresas reclamam da dificuldade de encontrar mão de obra
qualificada, médicos e advogados quase não sabem escrever, alunos de universidades têm problemas
para articular o pensamento, para argumentar, para escrever o que pensam. São, de certa forma,
analfabetos. Aliás, o analfabetismo devasta este país. Não é alfabetizado quem sabe assinar o nome,
mas quem o sabe assinar embaixo de um texto que leu e entendeu. Portanto, a porcentagem de
alfabetizados é incrivelmente baixa.
Agora sai na imprensa um relatório alarmante. Metade das crianças brasileiras na terceira série do
elementar não sabe ler nem escrever. Não entende para o que serve a pontuação num texto. Não sabe
ler horas e minutos num relógio, não sabe que centímetro é uma medida de comprimento. Quase a
metade dos mais adiantados escreve mal, lê mal, quase 60% têm dificuldades graves com números.
Grande contingente de jovens chega às universidades sem saber redigir um texto simples, pois
não sabem pensar, muito menos expressar-se por escrito. Parafraseando um especialista, estamos
produzindo estudantes analfabetos.
Naturalmente, a boa ou razoável escolarização é muito maior em escolas particulares: professores
menos mal pagos, instalações melhores, algum livro na biblioteca, crianças mais bem alimentadas e
saudáveis – pois o estado não cumpre o seu papel de garantir a todo cidadão (especialmente a criança)
a necessária condição de saúde, moradia e alimentação.
Faxinar a miséria, louvável desejo da nossa presidenta, é essencial para nossa dignidade. Faxinar a
ignorância – que é uma outra forma de miséria – exigiria que nos orçamentos da União e dos estados
a educação, como a saúde, tivesse uma posição privilegiada. Não há dinheiro, dizem. Mas políticos
aumentam seus salários de maneira vergonhosa, a coisa pública gasta nem se sabe direito onde,
enquanto preparamos gerações de ignorantes, criados sem limites, nada lhes é exigido, devem aprender
brincando. Não lhes impuseram a mais elementar disciplina, como se não soubéssemos que escola,
família, a vida sobretudo, se constroem em parte de erro e acerto, e esforço. Mas, se não podemos
reprovar os alunos, se não temos mesas e cadeiras confortáveis e teto sólido sobre nossa cabeça nas
salas de aula, como exigir aplicação, esforço, disciplina e limites, para o natural crescimento de cada
um?
Cansei de falas grandiloquentes sobre educação, enquanto não se faz quase nada. Falar já gastou, já
cansou, já desiludiu, já perdeu a graça. Precisamos de atos e fatos, orçamentos em que educação e saúde
(para poder ir à escola, prestar atenção, estudar, render e crescer) tenham um peso considerável: fora
isso, não haverá solução. A educação brasileira continuará, como agora, escandalosamente reprovada.
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/educacao-reprovada-um-artigo-de-lya-luft/
Gabarito comentado
Tema central: Concordância verbal com estrutura de sujeito composto posposto ou desdobrado. A questão pede que você identifique qual alternativa reproduz o recurso sintático presente no trecho do texto: a combinação de termos que especificam ou ampliam o sujeito, levando o verbo ao plural para indicar ação conjunta.
Regra gramatical fundamental: Conforme Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), quando temos estruturas com desdobramento do sujeito (por ex.: “eu, ainda professora universitária”), é comum ao autor expandir o sujeito, usando a concordância verbal no plural para englobar todos os elementos. É a chamada concordância atrativa ou desdobrada do sujeito, que exprime a soma ou a aproximação do eu (quem narra) e de outras pessoas na ação expressa pelo verbo.
Análise da alternativa correta (A):
Em “o grupo de alunos, debruçados sobre uma pilha de relatórios, procurávamos uma resposta...”, há a mesma estrutura de sujeito desdobrado: o grupo (núcleo) + de alunos (expansão explicativa). O verbo está no plural (procurávamos), como no exemplo do texto. Tal uso, embora gramaticalmente “irreal” (visto que o núcleo ‘grupo’ está no singular), ocorre para reforçar a ideia de que tanto o grupo quanto o eu-lírico participam ativamente da ação e, portanto, há atração para o plural. Em situações formais, essa construção é tolerada quando há intenção de envolver todos os elementos na ação (veja Cunha & Cintra, seção de Concordância).
Análise das alternativas incorretas:
B) “Nós, os professores, lutávamos...” – Aqui o sujeito já está explícito no plural (“nós”), não havendo desdobramento nem atração pelo núcleo, ou seja, não reproduz o recurso sintático do texto.
C) “Só eles se mostravam ansiosos...” – Não há sujeito desdobrado, apenas referência a “eles”; o verbo está normalmente no plural.
D) “Nós não pudemos chegar...” – Sujeito simples e explícito, sem expansão por aposição ou desdobramento.
Destaque – Estratégia de prova: Fique atento(a) ao sujeito desdobrado (por exemplo, “eu, professora universitária”, “o grupo de alunos, debruçados...”) seguido de verbo no plural: isso demonstra concordância por sentido, e não apenas pela estrutura formal. Reforço: o Manual de Redação oficial orienta que, em casos assim, a clareza é essencial para não ferir a lógica da concordância, sobretudo em textos normativos.
Resumo final: A alternativa A apresenta, apesar de não ser perfeita à luz da norma culta, a estrutura de concordância verbal semelhante à do texto-modelo, ao desdobrar o sujeito e trazer o verbo para o plural.
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