Questão 508af688-f7
Prova:UNEMAT 2016
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo, Escolas Literárias

CUNHATÃ


Vinha do Pará

Chamava Siquê.

Quatro anos. Escurinha. O riso gutural da raça.

Piá branca nenhuma corria mais do que ela.


Tinha uma cicatriz no meio da testa:

- Que foi isto, Siquê?

Com voz de detrás da garganta, a boquinha tuíra:

- Minha mãe (a madrasta) estava costurando

Disse vai ver se tem fogo

Eu soprei eu soprei eu soprei não vi fogo

Aí ela se levantou e esfregou com minha cabeça na brasa


Rui, riu, riu


Uêrêquitáua.

O ventilador era a coisa que roda.

Quando se machucava, dizia: Ai Zizus!


BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 138.


O poema de Bandeira foi publicado em 1930 e traz algumas palavras da língua indígena misturadas ao português. Já em seu título comparece uma palavra de origem da língua tupi, cunhatã, que significa “menina, moça, mulher adolescente”.


Ao fazer o uso de uma língua indígena nesse poema, observa-se que o autor:

A
Aponta para a questão racial sugerindo a separação entre brancos e negros, sobretudo na primeira estrofe que traz com ênfase as palavras “Escurinha” e “Piá branca”.
B
Ressalta uma marca da cultura indígena, que se mantém bastante presente não somente na produção cultural brasileira, mas também integrada na língua portuguesa do Brasil.
C
Propõe a valorização da língua tupi com o objetivo de dar ênfase à origem do povo brasileiro e de mostrar o valor dos povos da região norte do Brasil, quando cita o lugar de onde veio a menina, Pará.
D
Promove uma crítica com um toque de humor ao português falado fora do padrão culto, ao fazer a reprodução da oralidade.
E
Faz uma crítica bastante severa à violência praticada às crianças no seio familiar.

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