“O tédio existe em função da vida sob a coação do trabalho e sob a rigorosa divisão do trabalho. Não teria de existir. Sempre que a conduta no tempo livre é verdadeiramente autônoma, determinada pelas próprias pessoas enquanto seres livres, é difícil que se instale o tédio. Ocorre com ele algo semelhante ao que se dá com a apatia política. A razão mais importante para essa última é o sentimento, de nenhum modo injustificado da população, de que, com a margem de participação na politica que lhes é reservada pela sociedade, pouco podem mudar em sua existência”.

ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002. (adaptado)

Em relação à atuação politica da população, a situação exposta por Adorno neste texto reflete um sentimento de:

Alternativa correta: A - impotência derivada da limitada participação das pessoas na vida política.

Tema central: o trecho trata da relação entre tédio, apátia política e as condições sociais do trabalho e da participação política — conceito caro à crítica da indústria cultural (Adorno) que mostra como estruturas sociais reduzem a autonomia individual.

Resumo teórico: Adorno argumenta que o tédio e a apatia não são traços naturais das pessoas, mas efeitos de uma vida social em que o trabalho é coercitivo e a divisão do trabalho limita a autonomia. Quando a população percebe que sua margem de participação é insuficiente para provocar mudança, instala‑se um sentimento de impotência e desengajamento. Fontes: Adorno, Theodor. Indústria cultural e sociedade (São Paulo: Paz e Terra, 2002); Adorno & Horkheimer, Dialética do Esclarecimento (crítica à indústria cultural).

Por que a alternativa A é correta: o enunciado afirma que a população sente que, com a participação que lhe é reservada, "pouco podem mudar em sua existência". Essa formulação descreve exatamente um sentimento de impotência política — percepção de falta de poder real para influir. Logo, A reflete com precisão a ideia de Adorno.

Análise das alternativas incorretas:

B – aversão à atuação nas questões de interesse público: incorreta porque a passagem não fala de repulsa ou desgosto inerente, mas de uma sensação causada por limitações estruturais; não é preferência, é desmotivação por impotência.

C – revolta contra as instituições públicas: errado — revolta pressupõe ação e oposição ativa; o texto descreve apatia e tédio, isto é, passividade, não insurgência.

D – falência do sistema político: incorreto por ser uma conclusão institucional forte. O texto aponta um sentimento social (impotência/apátia), não a declaração de colapso do sistema.

E – natural desinteresse das massas por questões políticas: equivocado porque Adorno enfatiza a origem social e histórica desse desinteresse (condições do trabalho e participação limitada), não uma característica natural das massas.

Dica de prova: procure palavras-chave no enunciado — aqui, "margem de participação" e "pouco podem mudar" indicam sensação de falta de poder. Diferencie sentimentos estruturais (impotência, apatia) de atributos pessoais (aversão, desinteresse natural) ou eventos extremos (revolta, falência).

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