Leia, a seguir, o poema Soneto da separação, de Vinícius de Moraes.

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente

(MORAES, Vinícius. Livro de Sonetos – 1957/1967. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.)

Considere as seguintes afirmações sobre o poema de Vinícius de Moraes.

I. O amor, e sua rima mais conhecida e banalizada, a dor, sempre caminharam juntos da poética de Vinícius de Moraes.

II. Nos inúmeros poemas de amor de Vinícius, a influência da poesia camoniana é muito forte e pode ser observada na tentativa de analisar o amor, na preferência pelo soneto como forma poética, e no uso frequente de antíteses para expressar a ausência total de contradições próprias desse sentimento.

III. A ideia central de Soneto da separação, em que as antíteses mostram o impacto da perda do amor na vida das pessoas, é o amor como um sentimento poderoso e fugaz.

Está(ão) correta(s):

Gabarito: C) apenas I e III.

Tema central:

O foco da questão é a interpretação de elementos literários usados por Vinícius de Moraes em “Soneto da separação”, sobretudo os temas do amor e da dor e o uso de antíteses como recurso de estilo, associando-os à tradição característica dos sonetos e a possíveis influências da poesia de Camões.

Explicação do conteúdo:

Vinícius de Moraes explora, ao longo de sua obra, temáticas ligadas à intensidade e à transitoriedade do amor, frequentemente associando o amor à dor e à separação. O poeta também segue a tradição camoniana de utilizar o soneto como forma poética, empregando antíteses (contrastes) para marcar as mudanças bruscas e contraditórias dos sentimentos.

Justificativa das alternativas:

I. Correta. Vinícius de Moraes realmente une o amor à dor em sua poética, como se vê neste soneto. As transformações do sentimento são brutais e repentinas, fazendo da alegria uma dor profunda: “do riso fez-se o pranto”.

II. Incorreta. De fato, há influência camoniana e o uso do soneto e de antíteses. Porém, o erro está em afirmar que as antíteses representam a ausência total de contradições do amor. O contrário é correto: as antíteses servem exatamente para evidenciar a natureza contraditória e paradoxal do sentimento.

III. Correta. O soneto demonstra como o impacto da separação é súbito e radical. O amor, sendo poderoso e fugaz, transforma rapidamente o que é riso em pranto e o que é presença em ausência, como marcam as antíteses (exemplo: “Da calma fez-se o vento”).

Análise crítica das alternativas incorretas:

Fique atento: em questões como essa, palavras como “ausência total de contradições” são sinais de erro, pois contrariam os princípios básicos do uso de antíteses e da tradição lírica tanto em Camões quanto em Vinícius.

Dicas de prova:

1. Leia cuidadosamente expressões absolutas (sempre, nunca, total, ausência completa): em Literatura, costumam indicar respostas erradas, pois a arte lida com nuances e ambivalências.
2. Relembre recursos estilísticos clássicos: antítese, metáfora, paradoxos e escolha da forma poemática (como o soneto).

Autores e obras de referência:
Candido e Castello, Presença da literatura; Afrânio Coutinho, Introdução à literatura no Brasil.

Resumo: A alternativa C está correta porque apenas as afirmativas I e III refletem, com precisão, a abordagem de Vinícius sobre o amor e seus recursos estilísticos no “Soneto da separação”.

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