Questão 47a6c885-b1
Prova:UFAM 2017
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo, Escolas Literárias

Relacione os trechos retirados do livro Angústia, de Graciliano Ramos, às afirmações a seguir.

1. “Era como se a gente houvesse deixado a Terra. De repente surgiam vozes estranhas. Que eram? Ainda hoje não sei. Vozes que iam crescendo, monótonas, e me causavam medo”.
2. “Ia cheio de satisfação maluca. Não tirava a mão do bolso, apalpava as caixinhas, sentia através do papel de seda a macieza do veludo. Na alvura do braço roliço a fita do relógio faria uma cinta negra; a pedrinha branca faiscaria no dedo miúdo”.
3. “E Julião Tavares parado. Minutos antes andava na maciota, o cigarro aceso, o pensamento na cama da mocinha sardenta. Agora ali junto da cerca, estirado. Inconveniente ficar ao lado dele. Inconveniente”.
4. “Não haveria desatino: as duas mulheres eram fatalistas e queixavam-se da sorte. Malucas. Revoltava-me o recurso infantil de se xingarem, arrancarem os cabelos. Era evidente que Julião Tavares devia morrer. Não procurei investigar as razões desta necessidade. Ela se impunha, entravame na cabeça como um prego. Um prego me atravessava os miolos.”
5. “– D. Aurora, tenha paciência. Veja se me arranja um quarto mais barato. Os tempos andam safados, d. Aurora
[...]
Tudo pela hora da morte, seu Luís.
– É verdade, tudo pela hora da morte, d. Adélia.
– A senhora já reparou nos preços dos remédios? A farmácia tem uma goela!”

( ) O Brasil sentia os reflexos econômicos da queda da bolsa de Nova York, em 1929, e da revolução de 1930.
( ) Luís da Silva é um homem atormentado e sua narrativa revela confusão.
( ) Após o homicídio, a memória de Luís da Silva é fragmentada, passado e presente se confundem.
( ) Empolgado com o noivado, Luís da Silva se vê desejando entregar à Marina o presente que tanto lhe custara.
( ) Luís da Silva alimenta ódio por Julião Tavares. A gravidez e o abandono de Marina são a mola propulsora para o assassinato.

Assinale a alternativa que apresenta a numeração em sequência CORRETA, de cima para baixo.

Texto

    Quando eu ainda não sabia nadar, meu pai me levava para ali, segurava-me um braço e atirava-me num lugar fundo. Puxava-me para cima e deixava-me respirar um instante. Em seguida repetia a tortura. Com o correr do tempo aprendi natação com os bichos e livrei-me disso.Mais tarde, na escola de mestre Antônio Justino, li a história de um pintor e de um cachorro que morria afogado. Pois para mim era no poço da Pedra que se dava o desastre. Sempre imaginei o pintor com a cara de Camilo Pereira da Silva, e o cachorro parecia-se comigo.
    Se eu pudesse fazer o mesmo com Marina, afogá-la devagar, trazendo-a para a superfície quando ela estivesse perdendo o fôlego, prolongar o suplício um dia inteiro...
   Debaixo da chuva, a mangueira do quintal está toda branca. O papagaio na cozinha bate as asas, sacudindo os salpicos que vêm da biqueira. Afago o pelo macio do meu gato mourisco, que dorme enroscado numa cadeira. As ideias ruins desaparecem. Marina desaparece.
   Ponho-me a vagabundear em pensamento pela vila distante, entro na igreja, escuto os sermões e os desaforos que padre Inácio pregava aos matutos: – “Arreda, povo, raça de cachorro com porco.” Sento-me no paredão do açude, ouço a cantilena dos sapos. Vejo a figura sinistra de seu Evaristo enforcado e os homens que iam para a cadeia amarrados de cordas. Lembro-me de um fato, de outro fato anterior ou posterior ao primeiro, mas os dois vêm juntos. E os tipos que evoco não têm relevo. Tudo empastado, confuso. Em seguida os dois acontecimentos se distanciam e entre eles nascem outros acontecimentos que vão crescendo até me darem sofrível noção de realidade. As feições das pessoas ganham nitidez. De toda aquela vida havia no meu espírito vagos indícios. Saíram do entorpecimento recordações que a imaginação completou.
   A escola era triste. Mas, durante as lições, em pé, de braços cruzados, escutando as emboanças de mestre Antônio Justino, eu via, no outro lado da rua, uma casa que tinha sempre a porta escancarada mostrando a sala, o corredor e o quintal cheio de roseiras. Moravam ali três mulheres velhas que pareciam formigas.

A
3-2-4-5-1
B
4-1-3-2-5
C
4-5-1-3-2
D
5-1-3-2-4
E
5-4-3-1-2

Gabarito comentado

A
Ana OliveiraMonitor do Qconcursos

Gabarito: D) 5-1-3-2-4

Tema central: Esta questão avalia sua capacidade de relacionar trechos de uma obra literária com afirmações sobre seu contexto histórico, psicológico dos personagens e eventos marcantes. O foco está na compreensão profunda de Angústia, de Graciliano Ramos, livro fundamental do Modernismo brasileiro (segunda fase).

Explicação Teórica: A obra tem narrativa em primeira pessoa, destacando a introspecção psicológica e a fragmentação temporal (confusão entre passado e presente), características marcantes do autor durante uma época de crise social e econômica (década de 1930, pós-crise de 1929 e fase Vargas).

Justificativa da Alternativa Correta (D):

  • 5 – Mostra a motivação psicológica para o assassinato de Julião Tavares, com sentimento de ódio e obsessão de Luís da Silva.
  • 1 – Dialoga sobre dificuldades econômicas, contextualizando o Brasil pós-1929.
  • 3 – Representa a memória fragmentada após o homicídio, síntese da confusão mental do narrador.
  • 2 – Demonstra empolgação ao comprar presente para Marina; expectativa e sonho do protagonista.
  • 4 – Reforça o ódio por Julião como mola propulsora do crime e a necessidade “imposta” ao personagem.

O gabarito exige uma leitura cuidadosa dos enunciados e o domínio das nuances psicológicas dos personagens. Fique atento a:

  • Termos-chave como “fragmentação”, “confusão”, “empolgação”, “ódio”, presentes nas afirmações.
  • A ligação entre os acontecimentos históricos e o ambiente do romance.
  • Evitar a generalização ou a associação por palavras isoladas — foque no conteúdo do trecho!

Por que as alternativas incorretas estão erradas?

A ordem dos itens nas demais alternativas não respeita a sequência lógica de conexão entre trecho e afirmação, misturando, por exemplo, manifestações de angústia com situações econômicas, ou trocando trechos de introspecção pela cena do presente, o que quebra o fio narrativo do romance e o vínculo psicológico dos personagens.

Estratégia de prova: Leia atentamente cada expressão das afirmações; busque a essência do trecho, identificando emoções e contexto. Desconfie de alternativas que apelem só para associações superficiais ou troquem eventos importantes de ordem.

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