Leia o texto a seguir.

"Quando os colonizadores europeus chegaram nesta região, nas primeiras décadas do século XVI, encontraram aqui um conjunto de sociedades indígenas, composto por etnias representantes de três dos quatros troncos linguísticos que forma o universo etno-linguístico brasileiro. Eram várias centenas de milhares de índios portadores de sistemas culturais ricamente diferenciados. Esses grupos, às vezes, possuíam divergências entre si mas respondiam bem, cada segmento ao seu modo, às equações colocadas pela paisagem que também era múltipla e variada. Em função disso, desde os primeiros momentos da colonização ibérica no continente, a área de Mato Grosso do Sul, apesar de sua distância dos centros econômicos mercantilistas na América do Sul, foi, de imediato, inserida na estratégia econômica do sistema colonial na condição de importante fonte fornecedora de uma mercadoria vital para o funcionamento desse modelo: a mão-de-obra compulsória.

Durante os cinco séculos da presença europeia em Mato Grosso do Sul, a resistência indígena à ocupação colonial de seu território foi a tônica das relações intercivilizatórias. O Pantanal sulmato-grossense foi o cenário da maior e mais obstinada oposição nativa à presença colonizadora ibérica na história do Brasil."

MARTINS, Gilson Rodolfo. Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul. 2. ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2002. p. 11-12. 

O texto acima nos apresenta um panorama da ocupação de Mato Grosso do Sul, muito comum em todo o Brasil colonial. Assinale a alternativa correta sobre a história dos povos indígenas e a relação estabelecida com os colonizadores portugueses que aqui chegaram:

Resposta correta: Alternativa D

Tema central: trata-se da interação entre povos indígenas do atual Mato Grosso do Sul e os colonizadores ibéricos — especialmente a utilização forçada de indígenas como mão‑de‑obra (chamados de “negros da terra”) e a persistente resistência indígena, notadamente no Pantanal. Compreender isso exige conhecer práticas coloniais (escravização indígena, incursões de bandeirantes) e a etno‑diversidade regional.

Resumo teórico rápido: no período colonial os indígenas foram frequentemente alvo de apresamento e escravização; o termo “negros da terra” aparece nas fontes coloniais para designar essa condição. Ao mesmo tempo a resistência indígena — guerras, fugas, alianças — marcou a ocupação do interior. Fontes: MARTINS, Gilson R. (Breve painel etno‑histórico de Mato Grosso do Sul, UFMS, 2002); para panorama nacional, Manuela Carneiro da Cunha.

Por que a alternativa D está correta:

A afirmação identifica duas ideias centrais e verdadeiras: (1) indígenas foram integrados ao sistema colonial como mão‑de‑obra e eram chamados nos documentos coloniais de negros da terra; (2) a diversidade indígena foi simultaneamente obstáculo — pela resistência ativa contra aprisionamentos — e estímulo para os portugueses, porque a região era acessível aos grupos coloniais (bandeirantes paulistas) interessados em apresamentos e em exploração. Ambas as ideias concordam com a historiografia regional (Martins) e com estudos sobre escravização indígena.

Análise das alternativas incorretas:

A: Falsa — romantiza a relação. Não houve ampla associação de confiança; predominou conflito, escravização e apropriação de terras.

B: Incorreta — diz que os nativos apoiaram os colonos; contradiz o texto que enfatiza resistência e uso compulsório da mão‑de‑obra indígena.

C: Errada — afirma ausência de resistência por conta de conflitos internos; na verdade o texto e a historiografia destacam a obstinação da resistência indígena (especialmente no Pantanal).

E: Parcialmente falsa — reduz o processo a uma “vitória” total dos portugueses; a ocupação foi marcada por contínua resistência e por coexistência forçada. Além disso, é impreciso afirmar que MS hoje tem “uma das menores populações indígenas” sem contextualizar (há populações Terena, Guarani Kaiowá e outras com presença significativa).

Dica de interpretação para provas: procure termos-chave do enunciado (ex.: “mão-de-obra”, “resistência”, “Pantanal”, “negros da terra”) e cheque se a alternativa reproduz essas ideias centrais. Elimine opções que romantizam relações coloniais ou simplificam processos complexos.

Fontes: MARTINS, Gilson R., Breve painel etno‑histórico de Mato Grosso do Sul (UFMS, 2002); Carneiro da Cunha, Manuela (estudos sobre índios e colonização no Brasil).

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