Questão 3ed2c73a-f9
Prova:UFRGS 2019
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo, Escolas Literárias

Instrução: A questão refere-se à obra Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.


Leia os fragmentos abaixo.


Quando eu fui catar papel encontrei um preto. Estava rasgado e sujo que dava pena. Nos seus trajes rôtos êle podia representar-se como diretor do sindicato dos miseráveis.

2 de maio de 1958 [ ... ] Passei o dia catando papel. A noite meus pés doíam tanto que eu não podia andar.

14 de junho ... Esta chovendo. Eu não posso ir catar papel. O dia que chove eu sou mendiga.

3 de maio ... Fui na feira da Rua. Carlos de Campos, catar qualquer coisa.

Depois fui catar lenha. Parece que vim ao mundo predestinada a catar. Só não cato a felicidade.


Considere as seguintes afirmac;6es sabre a ac;ao de "catar".


I - Relaciona-se ao título da obra, uma vez que Quarto de despejo serve de metáfora a situação da própria personagem, que vive na favela como um objeto descartado.

II - Associa-se a atividade da escritora, que recolhe da experiência de viver do lixo a própria matéria para a sua criação literária.

III- Refere-se a descoberta dos diários de Carolina pelo jornalista Audálio Dantas, graças ao qual ela se torna uma escritora de grande sucesso editorial, condição que lhe garante sustentabilidade financeira e saída definitiva da miséria.


Quais estão corretas?

A
Apenas I.
B
Apenas II.
C
Apenas III.
D
Apenas I e II.
E
I, II e III.

Gabarito comentado

W
Wendy Moura Monitor do Qconcursos

Comentário da questão – Quarto de despejo (Carolina Maria de Jesus)

Tema central: A questão aborda o significado simbólico e literário do verbo "catar" na obra "Quarto de Despejo". Essa ação revela a luta cotidiana pela sobrevivência da autora, além de servir como reflexão sobre identidade, marginalização e produção literária.

Justificativa da alternativa correta (D – Apenas I e II):

I) Correta. O verbo "catar" conecta-se diretamente ao título da obra, pois "Quarto de despejo" funciona como uma metáfora do espaço de exclusão, onde pessoas como Carolina vivem como objetos rejeitados socialmente. Essa ideia é reforçada na rotina de "catar", mostrando um ciclo de busca por algo que lhes é negado.

II) Correta. "Catar" representa não apenas a prática de subsistência, mas também o processo criativo da autora, que recolhe suas experiências e faz delas matéria literária. Observa-se aqui uma intersecção entre vida e arte, transformando vivências precárias em denúncia social e expressão artística, tal como evidenciado por estudiosos de literatura e pela própria crítica (cf. Afrânio Coutinho, “A literatura no Brasil”).

Por que as demais estão incorretas?

III) Incorreta. Apesar de Audálio Dantas ser vital na publicação do diário, Carolina não saiu definitivamente da miséria nem teve estabilidade financeira duradoura, como relatos biográficos e análises da época deixam claro. A afirmação exagera ao supor que o sucesso editorial resolveu seus problemas sociais.

Estratégias de interpretação:

Fique atento a verbetes usados várias vezes no texto e à relação entre prática social e criação literária, além do risco de generalizações ou promessas de final feliz, que raramente se aplicam em contexto de denúncia social.

Resumo: As ações "catar" na obra ligam-se tanto ao contexto de exclusão social (I) quanto à elaboração literária da autora (II). Já a alternativa III traz informação incorreta sobre a trajetória de vida real de Carolina.

Gabarito: D) Apenas I e II.

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