Questão 3698b410-b7
Prova:
Disciplina:
Assunto:
O nome da rapsódia é Macunaíma, mas não é só Macunaíma. Mario de Andrade quis dizer alguma coisa do seu protagonista e acrescentou
ao título um atributo paradoxal: O herói sem nenhum caráter. O nome, Macunaíma, centro da rapsódia. O epíteto, herói. A diferença está na
cauda de cada proposição: no começo, sem nenhum caráter; no fim, de nossa gente. O que se pode inferir é a presença viva, no autor, de duas
motivações tão fortes que se converteram em molas da composição da obra: a) por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno
de uma figura lendária que o fascinara pelos mais diversos motivos e que trazia em si os atributos do herói, entendido no senso mais lato
possível de um ser entre humano e mítico, que desempenha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças
extraordinárias, enfim, vence ou malogra. b) por outro lado, o desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente,
percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão
plural que é, beira a surpresa e a indeterminação; daí ser o herói sem nenhum caráter. Compreender Macunaíma é sondar ambas as motivações:
a de narrar, que é lúdica e estética; a de interpretar, que é histórica e ideológica.
BOSI. A. Situação de Macunaíma. In: ANDRADE. M. Macunaíma. São Paulo: Scipione Cultural, 1997 (adaptado).
Com base no fragmento acima do crítico literário Alfredo Bosi é possível inferir que o Macunaíma de Mário de Andrade
O nome da rapsódia é Macunaíma, mas não é só Macunaíma. Mario de Andrade quis dizer alguma coisa do seu protagonista e acrescentou
ao título um atributo paradoxal: O herói sem nenhum caráter. O nome, Macunaíma, centro da rapsódia. O epíteto, herói. A diferença está na
cauda de cada proposição: no começo, sem nenhum caráter; no fim, de nossa gente. O que se pode inferir é a presença viva, no autor, de duas
motivações tão fortes que se converteram em molas da composição da obra: a) por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno
de uma figura lendária que o fascinara pelos mais diversos motivos e que trazia em si os atributos do herói, entendido no senso mais lato
possível de um ser entre humano e mítico, que desempenha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças
extraordinárias, enfim, vence ou malogra. b) por outro lado, o desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente,
percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão
plural que é, beira a surpresa e a indeterminação; daí ser o herói sem nenhum caráter. Compreender Macunaíma é sondar ambas as motivações:
a de narrar, que é lúdica e estética; a de interpretar, que é histórica e ideológica.
BOSI. A. Situação de Macunaíma. In: ANDRADE. M. Macunaíma. São Paulo: Scipione Cultural, 1997 (adaptado).
Com base no fragmento acima do crítico literário Alfredo Bosi é possível inferir que o Macunaíma de Mário de Andrade
A
centra-se na figura de um herói mitológico, capaz de proezas mágicas, cujo contato com o real serve apenas para aceder a realidades sobre-humanas, longe do mundo desumanizador que caracteriza o Brasil da década de 20 do século passado.
B
postula um retorno a um Brasil onde predominavam culturas rurais e populares, vivendo em idílio com uma natureza selvagem e acolhedora.
C
na efervescente década de 20 do século passado, em que a literatura brasileira procurava pensar o Brasil com base nas mudanças
profundas por que passava a nação, é um romance lúdico à moda romântica, não contaminado pelo clima político-ideológico que dominou
a obra de seus contemporâneos.
D
constrói um conceito de identidade brasileira e interamericana que põe em cena diversas tradições (européia, negra e indígena, popular e
erudita, arcaica e moderna), cujo herói “sem nenhum caráter” não pode ser reduzido a um nacionalismo romântico redutor e xenófobo.
E
utiliza-se do recurso da diversidade linguística e folclórica com o fim de ironizar o caos cultural que a influência das vanguardas europeias,
mal digeridas por aqui, deixou na literatura do período, alvo da crítica de Mário em seu livro de poemas Paulicéia desvairada.