Em menos de 40 anos, entre as décadas de 1940 e 1980, a população brasileira passou de predominantemente rural para majoritariamente urbana. Impulsionado pela migração de um vasto contingente de pobres, esse movimento socioterritorial, um dos mais rápidos e intensos de que se tem notícia, ocorreu sob a égide de um modelo de desenvolvimento urbano que privou as faixas de menor renda de condições básicas de urbanidade e inserção efetiva à cidade. Além de excludente, tal modelo mostrou-se também altamente concentrador: 60% da população urbana vivem hoje em em 224 municípios com mais de 100 mil habitantes, dos quais 94 pertencem a aglomerados urbanos e regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes.

(ROLNIK, Raquel. Disponível em: A lógica da desordem. http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=220. Acesso em: 31 ago. 2014, às 17h00.)

Em relação aos problemas e características da urbanização brasileira, julgue as afirmativas abaixo:

I. A urbanização é acelerada e caótica, assim como em outros países emergentes, que apresentam elevado crescimento urbano desde 1920.

II. Há no Brasil quatro metrópoles globais (de acordo com a hierarquia urbana). São elas: Brasília, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo.

III. Há no país grande ocorrência de favelas, as quais passam por intenso processo de verticalização, ocasionado pela falta de espaço combinada ao aumento populacional.

Está (ão) correta (s):

Gabarito: C — III apenas

Tema central: urbanização brasileira — processos históricos de migração rural‑urbana, concentração metropolitana e dinâmica das favelas. Para resolver a questão é preciso conhecer o período de maior urbanização no Brasil, o conceito de metrópole global (cidade‑mundo) e as transformações físicas nas áreas informais.

Resumo teórico rápido: - A urbanização brasileira foi mais intensa entre as décadas de 1940 e 1980, impulsionada pela industrialização e migração interna (fonte: IBGE/Censos; estudos de geografia urbana). - “Cidade‑mundo” ou metrópole global refere‑se a centros com forte atuação econômica, financeira e conexões globais (Sassen). No Brasil, São Paulo é o principal exemplo; o Rio tem papel mundial, mas nem todas as capitais são cidades‑mundo. - Favelas são assentamentos informais com alto contingente populacional; em contextos de pressão fundiária e valorização do solo, ocorre adensamento e, em alguns casos, verticalização informal (ex.: acréscimos de pavimentos), sobretudo em grandes metrópoles.

Justificativa da alternativa correta (III): Há, de fato, grande ocorrência de favelas no país. Em muitas delas nota‑se um processo de adensamento e verticalização parcial — casas ganham andares, surgem blocos mais altos em áreas consolidadas — devido à escassez de terrenos e ao crescimento populacional nas metrópoles. Estudos urbanos e relatórios (UN‑Habitat; pesquisas locais em Rio e SP) documentam esse fenômeno como tendência em áreas com valorização imobiliária e pouca oferta de moradia formal.

Análise das alternativas incorretas: - I (incorreta): Erro temporal/absoluto. A afirmação generaliza dizendo que o alto crescimento urbano ocorre “desde 1920”. No Brasil o processo mais acelerado ocorreu entre 1940–1980. Além disso, equiparar automaticamente a trajetória brasileira à de todos os países emergentes é generalização indevida. - II (incorreta): Nomeia quatro “metrópoles globais” incluindo Brasília e Manaus, o que está errado. Brasília é a capital federal com função política; Manaus é central regional; cidades‑mundo no Brasil são, na prática, São Paulo (e, em menor grau, Rio de Janeiro), segundo a hierarquia urbana e autores como Saskia Sassen.

Dica de interpretação: fique atento a datas, termos técnicos (cidade‑mundo vs. metrópole regional) e palavras absolutas. Ao avaliar afirmações, confronte‑as com marcos históricos (ex.: períodos de urbanização) e com conceitos acadêmicos consolidados.

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