Questão 296d9570-de
Prova:Esamc 2014
Disciplina:Português
Assunto:Uso dos conectivos, Sintaxe

Releia o trecho: “O grau da expectativa futebolístico-messiânica é altíssimo, e não é de se espantar que o time brasileiro entre em colapso em certas situações cruciais. Aliás, isso já aconteceu pelo menos três vezes: lá no Maracanazo [Copa de 1950], agora no Mineiraço, e na final de 1998 na França [...].” O termo “aliás”, na segunda sentença, estabelece com a antecedente uma relação de

Texto para a questão:


Complexo de d. Sebastião

Neymar expia a culpa pela derrota, mas as mudanças em

nosso futebol não podem mais esperar, diz autor

Entrevista de Ivan Marsiglia com José Miguel Wisnik



ESTADÃO - A palavra mais usada nas avaliações da derrota da seleção brasileira para a alemã, por 7 a 1, na Copa de 2014, foi “apagão”. Concorda com ela?


WISNIK - Prefiro “implosão”. “Apagão” sugere uma falha de energia, um acidente de percurso, um lapso momentâneo. A comissão técnica, que se especializou na negação da evidência e da amplitude dos fatos, apega-se a essa versão. Implosão, em vez disso, significa que uma estrutura cedeu a pressões que ela não pôde mais suportar. Acho que é claramente esse o caso. Ou, pelo menos, é esse o claro enigma.


ESTADÃO - Outra palavra muito repetida foi 'vexame', e de tal proporção que teria redimido a histórica derrota na final de 1950 para o Uruguai.

WISNIK - “Vexame” dá uma inflexão moral a essa catástrofe futebolística, e quem dirá que não se trata de uma tremenda humilhação esportiva? Mas martelar a palavra soa como uma atualização do gozo regressivo da eleição do bode expiatório. Não vejo mais essa necessidade de achar nos jogadores o novo Barbosa e o novo Bigode, [jogadores culpabilizados pela derrota da seleção na Copa de 1950] felizmente. O que não passou, no entanto, é a permanente espera mágica pela vitória por goleada, independente da existência do adversário, combinada com a precária análise dos dados de realidade. Esse desequilíbrio pesa sobre os jogadores. O grau da expectativa futebolístico-messiânica é altíssimo, e não é de se espantar que o time brasileiro entre em colapso em certas situações cruciais. Aliás, isso já aconceu pelo menos três vezes: lá no Maracanazo [Copa de 1950], agora no Mineiraço, e na final de 1998 na França, depois da convulsão de Ronaldo. Não me consta que outras seleções nacionais passem pela mesma síndrome. Uma vez é um acidente. Duas, uma coincidência. Mas três é uma estrutura.


ESTADÃO - E de onde vem essa estrutura?

WISNIK - Essas partidas fazem pensar na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, durante a qual, segundo relatos, o jovem rei português d. Sebastião foi tomado por estranha catatonia, antes de desaparecer no deserto e ter a sua volta aguardada durante séculos pelos portugueses. [...] Em 1950, a equipe, encolhida na partida final ante a enormidade do sucesso ou do fracasso inéditos, esteve paralisada abaixo do seu tamanho. Em 2014, sucumbiu ante a expectativa maciça, projetada sobre ela, por algo maior do que seu tamanho. Nos dois casos, espelhados sintomaticamente em território brasileiro, há uma resistente dificuldade de dimensionar, isto é, de encarar o real, que se junta à euforização publicitária, à cobertura da Rede Globo, aos oportunismos políticos de todo tipo e ao baixo nível médio da cultura futebolística. Tudo continua muito parecido com o ambiente que cercou a final de 1950, embora sem a mesma inocência trágica.


ESTADÃO - Você escreveu que 'a glorificação frenética de Neymar, justificada pela excepcionalidade do jogador, disfarça uma ansiedade compensatória de fundo'. Por quê?

WISNIK - Sem querer me repetir, [a figura de Neymar] ferida encarnava d. Sebastião em batalha, desaparecido do campo, mas preservado misteriosamente da desgraça explícita e ocupando mais ainda o lugar mítico do Desejado.

(O Estado de S. Paulo, 12/07/2014. Disponível em http://m.estadao.com.br/ O Estado de S. Paulo noticias/ali%C3%A1s,complexo-de-d-sebastiao,1527395,0.htm, acesso em 01/09/2014)

A
concessão
B
causa
C
finalidade
D
retificação
E
tempo

Gabarito comentado

M
Martina MedinaMonitor do Qconcursos

Tema central: A questão explora coesão textual e o uso semântico do advérbio "aliás", buscando avaliar o entendimento do aluno sobre a função dos conectores em um texto.

Comentário e justificativa da alternativa correta:

No trecho analisado, o termo "aliás" atua como um marcador de retificação. Ele é empregado para introduzir uma informação que corrige, esclarece ou acrescenta detalhes à ideia anterior. Veja a sequência:

“...não é de se espantar que o time brasileiro entre em colapso (...). Aliás, isso já aconteceu pelo menos três vezes...”

Pela norma-padrão, conforme as gramáticas de Evanildo Bechara e Cunha & Cintra, "aliás" é advérbio que pode significar ‘ou melhor’, ‘digo’, ‘isto é’, trazendo sempre a ideia de correção ou esclarecimento.

Logo, assinale como correta:

D) retificação

Análise das alternativas incorretas:

  • A) concessão: Concessão pressupõe contraste (como “embora”, “apesar de”), o que não ocorre aqui.
  • B) causa: “Aliás” não introduz causa, mas sim reforça ou corrige a informação anterior.
  • C) finalidade: Não há ideia de objetivo ou intenção, mas sim de adição/correção.
  • E) tempo: “Aliás” não marca momento, período ou simultaneidade.

Estratégias e dica importante:

Em questões de conectivos, sempre leia o período anterior e o posterior ao termo. Identifique se o conector faz contraste, causa, consequência, explicação, retificação, etc. Atenção: palavras como “aliás”, “digo”, “melhor dizendo” são marcadores clássicos de retificação!

Entender a função dos conectores ajuda a interpretar e a produzir textos coesos, competência central em provas de Vestibular e concursos.

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