“(...) Assistiam, atônitos, à demolição da Cidade Flutuante. Os moradores xingavam os demolidores, não queriam morar longe do pequeno porto, longe do rio. Halim balançava a cabeça, revoltado, vendo todas aquelas casinhas serem derrubadas. (...) Chorou muito enquanto arrancavam os tabiques, cortavam as amarras dos troncos flutuantes, golpeavam brutalmente os finos pilares de madeira. Os telhados desabavam, caibros e ripas caíam na água e se distanciavam da margem do Negro. Tudo se desfez num só dia, o bairro todo desapareceu. Os troncos ficaram flutuando, até serem engolidos pela noite.”

A passagem acima foi extraída de Dois Irmãos, de Milton Hatoum, e descreve a demolição de um bairro portuário em Manaus, em 1967, por determinação do governo de Castelo Branco, para possibilitar a construção da Zona Franca de Manaus. Sobre esse projeto, é correto afirmar que:

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: a criação da Zona Franca de Manaus (1967) como política industrial regional — instrumento de incentivos fiscais para atrair indústrias, reduzir custos de produção e fortalecer o mercado interno frente à expansão das empresas transnacionais.

Resumo teórico: zonas francas são áreas com benefícios fiscais e administrativos para estimular investimentos e industrialização em regiões específicas. No caso de Manaus, o Estado brasileiro instituiu incentivos (isenções e incentivos tributários, apoio logístico via SUFRAMA) para atrair fábricas e gerar emprego, buscando integrar a Amazônia à economia nacional. Esse modelo visava compensar custos logísticos e de transporte, não a exploração direta de recursos naturais nem proteção exclusiva à indústria nacional.

Fontes consultadas (exemplos): informações e histórico disponíveis em SUFRAMA (suframa.gov.br) e estudos de geografia econômica e história do desenvolvimento industrial brasileiro (relatórios do IBGE e bibliografia sobre políticas industriais dos anos 1960‑70).

Por que a alternativa C é correta: ela descreve com precisão o principal mecanismo e objetivo da Zona Franca de Manaus — concessão de incentivos fiscais para atrair indústrias, reduzir custos de produção e fortalecer o mercado interno num contexto de crescente transnacionalização do capital. Esses incentivos foram centrais para a estratégia do governo militar de promover concentração industrial na região.

Análise das alternativas incorretas:

A: imprecisa. Embora a ZFM tenha gestão federal pela SUFRAMA e infraestrutura pública tenha sido apoiada, a alternativa foca em “utilização dos recursos naturais da região” como propósito principal — o objetivo real foi industrializar via incentivos, não primariamente explorar recursos naturais.

B: parcialmente verdadeira, mas enganosa. Houve intenção de gerar desenvolvimento regional, porém a alternativa enfatiza “descentralizar a produção” como objetivo central e vincula isso estritamente à “jurisdição federal”; o instrumento-chave foi fiscal (incentivos) e o efeito espacial foi complexo (atração de empresas, nem sempre descentralização efetiva).

D: incorreta. A ZFM não foi um projeto para “combater o capital externo”; ao contrário, recebeu empresas multinacionais e buscou atrair capital privado (nacional e estrangeiro). Também é impreciso ligar diretamente a ZFM como causa principal do “milagre econômico”.

E: incorreta e excessivamente restrita. A ZFM não foi criada apenas para isentar impostos de indústrias de eletrodomésticos; o foco foi amplo — diversos ramos industriais — para fortalecer o mercado interno e a presença industrial na região.

Dica de prova: busque palavras-chave no enunciado (ex.: “incentivos fiscais”, “Zona Franca”, “1967”) e elimine alternativas que sejam muito genéricas, excessivamente específicas ou que invertam causa/efeito (por exemplo, transformar um instrumento em fim).

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