O Brasil produziu, na safra 2009/2010, 4,9 milhões de toneladas de trigo. Nos
últimos três anos, consumiu 10,7 milhões de toneladas, grande parte delas
importadas de outros países. O Brasil também é dependente de importações no que
diz respeito a outros produtos de primeira necessidade, como o arroz irrigado e a
cebola. Entre os motivos que levaram o Brasil a não ser autosuficiente na produção
de alguns alimentos que consome, é correto afirmar que:
Tomando como base a história do capitalismo brasileiro e o processo de globalização
comparados com o texto abaixo (publicado originalmente em 1966), responda à questão.
“Em conclusão, apesar das grandes transformações por que passou a economia
brasileira, e que se vêm acentuando nestes últimos decênios, ela não logrou superar
algumas de suas principais debilidades originárias, e libertar-se de sua dependência
e subordinação no que respeita ao sistema econômico e financeiro internacional de
que participa e em que figura em posição periférica e marginal. /.../ é um progresso
que pela maneira como se realiza , ou se realizou até hoje, se anula em boa parte
e se autolimita, encerrando-se em estreitas perspectivas. Isso porque se subordina
a circunstâncias que, embora aparentemente distintas do antigo sistema colonial,
guardam com esse sistema, na sua essência, uma grande semelhança. /.../
Em suma, /.../ o antigo sistema colonial em que se constituiu e evoluiu a
economia brasileira, apesar de todo o progresso e as transformações realizadas,
fundamentalmente se manteve, embora modificado e adotando formas diferentes.
E o processo de integração econômica nacional, embora se apresente maduro
para sua completa e definitiva eclosão, se mostra incapaz de chegar a termo e
se debate em contradições que não consegue superar. Das contradições que no passado solapavam a economia brasileira, passamos a outras de natureza diferente,
mas nem por isso menos graves. Essas contradições se manifestam sobretudo, e
agudamente, como vimos, na permanência, e até no agravamento da tendência
ao desequilíbrio de nossas contas externas, embora apresentando-se agora sob
novas formas, e implicando diretamente a ação imperialista. São as nossas relações
financeiras com o sistema internacional do capitalismo – e nisso se distingue a nossa
situação atual da do passado – que comandam o mecanismo das contas externas
do país. Não são mais unicamente as vicissitudes da exportação brasileira, como
ocorria anteriormente, que determinam o estado daquelas contas. E sim sobretudo
e decisivamente os fluxos de capitais controlados do exterior e que sob diversas
formas (inversões, financiamentos, empréstimos, amortizações, rendimentos etc.)
se fazem num e noutro sentido em função dos interesses da finança internacional.
Ou por fatores de ordem política que em última instância também se orientam por
aqueles interesses”.
PRADO, Jr. Caio. A revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1966.
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa C
Tema central: razões estruturais da dependência alimentar do Brasil — vínculo entre um modelo agrícola orientado à exportação e a insuficiência de produção de certos alimentos para o mercado interno.
Resumo teórico: desde meados do século XX o capitalismo brasileiro desenvolveu um setor agropecuário fortemente direcionado para o mercado externo — soja, cana‑de‑açúcar, laranja — beneficiado por políticas públicas, crédito e infraestrutura voltados à exportação. Esse padrão gera concentração fundiária e prioridades de produção que nem sempre atendem às necessidades alimentares regionais, obrigando o país a importar produtos como trigo e alguns hortifrutícolas. (ver Prado Jr., 1966; dados do IBGE/Ministério da Agricultura).
Por que a alternativa C está correta: ela identifica corretamente a opção por um modelo exportador, sustentado por incentivos fiscais e políticas de apoio, como fator-chave para a distorção da pauta produtiva em prejuízo da oferta interna de determinados alimentos. Esse argumento dialoga diretamente com o trecho de Prado Jr. sobre subordinação do país ao mercado internacional e a persistência de estruturas econômicas que limitam a integração plena do mercado interno.
Análise das alternativas incorretas:
A — mistura fatos reais (expansão da cana) com afirmativa generalizada sobre áreas de proteção ambiental como causa principal; porém a estagnação da fronteira não é o fator determinante da dependência de trigo e cebola.
B — atribui a causa a transnacionais que importam da Ásia a preços baixos; não corresponde à lógica do problema: as importações de trigo e outros vêm de mercados concorrentes e de decisões estruturais de produção, não à competição direta promovida por empresas estrangeiras que vendem “produtos chineses” no Brasil.
D — sobre oferta do Mercosul/Argentina: a influência comercial existe, mas não explica a política interna de incentivo à produção de exportação nem os fatores estruturais mencionados no enunciado.
E — tributos e crédito afetam produtores, mas grandes produtores de exportação têm acesso a financiamentos e benefícios; essa alternativa simplifica demais a questão e não explica a escolha de culturas voltadas ao mercado externo.
Dica de prova: busque termos como “modelo de produção”, “incentivos”, “exportação vs mercado interno” e relacione com o contexto histórico (industrialização dependente e integração periférica) — isso ajuda a identificar a alternativa que traduz explicação estrutural, não apenas sintomas.
Fontes sugeridas: Prado Jr. (1966), IBGE, Ministério da Agricultura, FAO para dados sobre comércio agrícola.
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