Questão 11b14c09-fd
Prova:UNICENTRO 2017
Disciplina:Português
Assunto:Encontros vocálicos: Ditongo, Tritongo, Hiato, Encontros consonantais: Dígrafos, Fonologia

Assinale a única alternativa em que ocorrem ditongo, hiato e dígrafo, respectivamente.

O animal satisfeito dorme,
Mário Sérgio Cortella

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece. Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas.
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento. 
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, EMAGRECER etc.) ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando… 
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente. 
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”… 

Excerto do livro “Não nascemos prontos! – provocações filosóficas”. De Mário Sérgio Cortella.
Disponível em:<http://www.contioutra.com/o-animal-satisfeito-dorme-texto-de-mario-sergio-cortella/> 

A
Amém, cair, sentinela.
B
Presença, flébil, anarquia.
C
Itaipu, paulatinamente, salgueiro.
D
Palhoça, seringueira, transatlântico.
E
Transeunte, traumatológico, Biologia.

Gabarito comentado

J
João Costa Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda Fonologia, especificamente os conceitos de ditongo, hiato e dígrafo. Reconhecer e diferenciar esses fenômenos é essencial em provas vestibulares, pois são temas recorrentes e de fácil confusão.

Conceitos importantes:
Ditongo: Encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma sílaba (ex: pai = “ai”).
Hiato: Sequência de duas vogais em sílabas diferentes (ex: saída = sa-í-da).
Dígrafo: Duas letras que representam um só fonema, podendo ser consonantais (ch, nh, lh) ou vocálicos (am, em etc).

Análise da alternativa correta (A):

Amém: Apresenta dígrafo vocálico (“em”, nasaliza o “e”).
Cair: Apresenta hiato (“a” e “i” estão em sílabas separadas: ca-ir).
Sentinela: Contém ditongo decrescente (“ei”, na 1ª sílaba: sen-ti-ne-la).

Ordem solicitada: dígrafo – hiato – ditongo.

Análise das alternativas incorretas:

B) “Presença” traz dígrafo (“en”), mas “flébil” não tem hiato, e “anarquia” não tem ditongo.
C) “Itaipu” apresenta hiato, “paulatinamente” ditongo, mas a ordem da questão (ditongo, hiato e dígrafo) não é seguida e “salgueiro” não possui apenas ditongo.
D) “Palhoça” tem dígrafo (“lh”), “seringueira” ditongo, mas falta hiato em “transatlântico”.
E) “Transeunte” tem hiato, “traumatológico” ditongo, mas “Biologia” não possui dígrafo, além da ordem solicitada não ser atendida.

Atenção! Provas costumam inverter a ordem dos conceitos ou colocar palavras de estrutura similar, exigindo leitura atenta das palavras e análise sílaba por sílaba.

Referência normativa: A classificação apresentada segue a norma-padrão e a divisão silábica defendida em gramáticas de referência como Celso Cunha & Lindley Cintra, além de Evanildo Bechara.

Resumo final: A alternativa A é a única correta: identifica precisamente dígrafo, hiato e ditongo nesta ordem.

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