Leia os versos abaixo
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é
feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do
poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as
concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima:
Gabarito comentado
Gabarito: B
Tema central: O poema de Carlos Drummond de Andrade explora a tensão existencial entre o “eu” lírico e sua comunidade, evidenciando como o ambiente (Itabira, marcada pelo ferro e pela distância afetiva) influencia profundamente a identidade e os sentimentos do indivíduo.
Fundamentação e análise da alternativa correta (B):
O Modernismo brasileiro, especialmente na segunda fase (década de 1930), é marcado pela introspecção, crítica social e aproximação entre individual e coletivo. Em “Confidência do Itabirano”, o autor utiliza imagens como “Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas” para mostrar como a realidade material da cidade (o ferro da mineração) adentra as pessoas, tornando-se também parte de suas emoções e comportamentos. Essa união entre o exterior e o interior evidencia, de forma exemplar, como sociedade e mundo moldam o indivíduo.
Outro ponto essencial: o fechamento do poema mostra uma ruptura — “Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!” — traduzindo a nostalgia e a influência ainda viva das origens na vida adulta.
Estratégias de resolução: Ao analisar questões desse tipo, observe sempre como o autor constrói imagens e metáforas para dar conta de temas individuais e coletivos. Atenção também para as passagens em que o eu-lírico se refere ao passado ou à comunidade.
Análise das alternativas incorretas:
A) A “fase heroica” do Modernismo caracteriza-se por ruptura linguística e experimentalismo radical da década de 1920. O poema já é mais introspectivo e crítico, situando-se na fase de maturidade do Modernismo.
C) O discurso lírico é marcado pela subjetividade, não por objetividade e apresentação de fatos históricos. O eu-lírico fala de sentimentos e impressões, não de dados concretos.
D) Não há crítica irônica à inutilidade do poeta nem comparação depreciativa entre poesia e prendas materiais. O tom do poema é mais nostálgico e reflexivo do que irônico.
E) Embora aborde saudade e individualidade, o poema é direto e econômico, sem o rebuscamento típico do Romantismo. O Modernismo buscava simplicidade e aproximação da fala cotidiana.
Resumo: O poema de Drummond é um exemplo claro de como o Modernismo articula a relação entre indivíduo e meio social, sendo fundamental identificar essas nuances para acertar questões de escolas literárias.
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