Na reportagem, cientistas acenaram com a possibilidade de uma criança ser gerada com o material genético de dois pais, necessitando de uma mulher apenas para a “barriga de aluguel”. Um dos pais doaria o espermatozoide e o outro uma amostra de células da pele que, revertidas ao estado iPS, dariam origem à um ovócito pronto para ser fecundado in vitro.
Isto ocorrendo, a criança:
Eu e meus dois papais
No futuro, quando alguém fizer aquele velho comentário sobre crianças fofinhas: “Nossa, é a cara do pai!”, será preciso perguntar: “Do pai número um ou do número dois?”. A ideia parece absurda, mas, em princípio, não tem nada de impossível. A descoberta de que qualquer célula do nosso corpo tem potencial para retornar a um estado primitivo e versátil pode significar que homens são capazes de produzir óvulos, e mulheres têm chance de gerar espermatozoides.
Tudo graças às células iPS (sigla inglesa de “células-tronco pluripotentes induzidas”), cujas capacidades “miraculosas” estão começando a ser estudadas. Elas são funcionalmente idênticas às células-tronco embrionárias, que conseguem dar origem a todos os tecidos do corpo. Em laboratório, as células iPS são revertidas ao estado embrionário por meio de manipulação genética.
(Revista Galileu, maio 2009.)
Gabarito comentado
Resposta correta: C — poderia ser um menino ou uma menina.
Tema central: reprogramação celular (células iPS) e determinação sexual humana. A questão avalia se o uso de um ovócito obtido a partir de células reprogramadas altera a regra básica da determinação do sexo.
Resumo teórico: em humanos o sexo cromossômico é determinado pelos cromossomos sexuais: XX → fenótipo feminino; XY → fenótipo masculino. O ovócito funcional contribui com um cromossomo X; o espermatozoide pode contribuir X ou Y. Assim, na fecundação o espermatozoide é o fator que determina se o zigoto será XX (menina) ou XY (menino) na maioria dos casos. Fontes úteis: Takahashi & Yamanaka (2006) para iPS; livros de Biologia/Genética (ex.: Campbell Biology) para determinação sexual.
Justificativa da alternativa C: mesmo que o ovócito tenha origem em células reprogramadas de um dos pais, a fecundação envolve fusão de material genético dos dois gametas. Se o espermatozoide trouxer X, o zigoto será XX; se trouxer Y, será XY. Portanto a criança poderia ser menino ou menina.
Análise das alternativas incorretas:
A e B (necessariamente masculino / feminino): Erradas porque ignoram que a combinação cromossômica final depende de qual tipo de espermatozoide (X ou Y) fecunda o óvulo.
D e E (seria clone genético de quem forneceu espermatozoide/pele): Erradas porque clonagem implica progenitor geneticamente idêntico em todo o genoma. Aqui há fusão de dois genomas (pai do espermatozoide + doador do ovócito), e, além disso, a formação do gameta envolve redução cromossômica (meiose) e recombinação, gerando um genoma único, não uma cópia idêntica de nenhum dos doadores.
Dica de prova: ao ver palavras absolutas como "necessariamente" ou termos técnicos como "clone", questione-os — em biologia reprodutiva raramente há absolutismos. Identifique quem fornece cada cromossomo sexual.
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