Questõesde UNICAMP sobre Português

1
1
Foram encontradas 143 questões
d89e73b2-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Intertextualidade, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

(...)
Eu tenho uma ideia.
Eu não tenho a menor ideia.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde.
Autobiografia. Não, biografia.
Mulher.
Papai Noel e os marcianos.
Billy the Kid versus Drácula.
Drácula versus Billy the Kid.
Muito sentimental.
Agora pouco sentimental.
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o seu]

amor de ontem.
Gertrude: estas são ideias bem comuns.
Apresenta a jazz-band.
Não, toca blues com ela.
Esta é a minha vida.
Atravessa a ponte.
(...)

(Ana Cristina Cesar, A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 9.)

Esse trecho do poema de abertura de A teus pés, de Ana Cristina Cesar,

A
expressa nostalgia do passado, visto que mobiliza referências à cultura pop dos anos 1970.
B
requisita a participação do leitor, já que as referências biográficas são fragmentárias.
C
exclui a dimensão biográfica, pois se refere a personagens imaginários e de ficção.
D
tematiza a descrença na poesia, uma vez que a poeta se contradiz continuamente.
d89a8b4f-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“...Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indicando os nomes dos futuros deputados. Alguns nomes já são conhecidos. São reincidentes que já foram preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de Troia que aparece de quatro em quatro anos.”

(Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo. São Paulo: Ática, 2014, p. 43.)

O trecho anterior faz parte das considerações políticas que aparecem repetidamente em Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Considerando o conjunto dessas observações, indique a alternativa que resume de modo adequado a posição da autora sobre a lógica política das eleições.

A
Por meio das eleições, políticos de determinados partidos acabam se perpetuando no exercício do poder.
B
Os políticos se aproximam do povo e, depois das eleições, se esquecem dos compromissos assumidos.
C
Os políticos preteridos são aqueles que acabam vencendo as eleições, por força de sua persistência.
D
Graças ao desinteresse do povo, os políticos se apropriam do Estado, contrariando a própria democracia.
d8939373-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Para driblar a censura imposta pela ditadura militar, compositores de música popular brasileira (MPB) valiam-se do que Gilberto Vasconcelos chamou de “linguagem da fresta”, expressão inspirada na canção “Festa imodesta”, de Caetano Veloso.

(...)
Numa festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua testa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E que o otário silencia
Toda festa que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida.

Acima do coração que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular

(Gilberto de Vasconcelos, Música popular: de olho na fresta. Rio de Janeiro: Graal, 1977.)

É correto afirmar que, na canção, essa “linguagem da fresta” transparece

A
na contradição entre “festa” e “fresta”, que funciona como crítica ao malandro.
B
na repetição de palavras com pronúncia semelhante para louvar a MPB.
C
na referência à “fresta” como forma de o compositor se pronunciar.
D
na incoerência da rima entre “festa” e “imodesta” para prestigiar o compositor.
d88ff489-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Uma página do Facebook faz humor com montagens que combinam capas de livros já publicados e memes que circulam nas redes sociais. Uma dessas postagens envolve a obra de Henry Thoreau, para quem a desobediência civil é uma forma de protesto legítima contra leis ou atos governamentais considerados injustos pelo cidadão e que ponham em risco a democracia.



(Fonte: Página de Facebook Obras Literárias com capas de memes genuinamente brasileiros.)

O efeito de humor aqui se deve ao fato de que a montagem

A
refuta as razões para a desobediência civil com base na desculpa apresentada pela criança.
B
antecipa uma possível avaliação negativa da desobediência sustentada pelo livro.
C
equipara as razões da desobediência civil à justificativa apresentada pela criança.
D
contesta a legitimidade da desobediência civil defendida por Thoreau.
d88c5488-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Morfologia - Verbos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia o texto a seguir, publicado no Instagram e em um livro do @akapoeta João Doederlein.



(João Doederlein, O livro dos ressignificados. São Paulo: Paralela, 2017, p. 17.)

A ressignificação de estrela ocorre porque o verbete apresenta

A
diversas acepções dessa palavra de modo amplo, literal e descritivo.
B
cinco definições da palavra relativas à realidade e uma definição figurada.
C
vários contextos de uso que evidenciam o caráter expositivo do gênero verbete.
D
uma entrada formal de dicionário e acepções que expressam visões particulares.
d8870c55-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Intertextualidade, Variação Linguística, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Alguns pesquisadores falam sobre a necessidade de um “letramento racial”, para “reeducar o indivíduo em uma perspectiva antirracista”, baseado em fundamentos como o reconhecimento de privilégios, do racismo como um problema social atual, não apenas legado histórico, e a capacidade de interpretar as práticas racializadas. Ouvir é sempre a primeira orientação dada por qualquer especialista ou ativista: uma escuta atenta, sincera e empática. Luciana Alves, educadora da Unifesp, afirma que "Uma das principais coisas é atenção à linguagem. A gente tem uma linguagem sexista, racista, homofóbica, que passa pelas piadas e pelo uso de termos que a gente já naturalizou. ‘A coisa tá preta’, ‘denegrir’, ‘serviço de preto’... Só o fato de você prestar atenção na linguagem já anuncia uma postura de reconstrução. Se o outro diz que tem uma carga negativa e ofensiva, acredite”.

(Adaptado de Gente branca: o que os brancos de um país racista podem fazer pela igualdade além de não serem racistas. UOL, 21/05/2018)

Segundo Luciana Alves, para combater o racismo e mudar de postura em relação a ele, é fundamental

A
ouvir com atenção os discursos e orientações de especialistas e ativistas.
B
reconhecer expressões racistas existentes em práticas naturalizadas.
C
passar por um “letramento racial” que dispense o legado histórico.
D
prestar atenção às práticas históricas e às orientações da educadora.
d8839a64-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Intertextualidade, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na década de 1950, quando iniciava seu governo, Juscelino Kubitschek prometeu “50 anos em 5”. Na campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O Brasil voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não tinha como dar certo; era como comparar vinho com água. E mais: havia uma vírgula no meio do caminho. Na propaganda, apenas uma vírgula impede que a leitura, ao invés de ser positiva e associada ao progressismo de Juscelino, se transforme numa mensagem de retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito nesses últimos dois anos; para trás.

(Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia uma vírgula no meio do caminho. Nexo Jornal, 21/05/2018.)

Considerando o gênero propaganda institucional e o paralelo histórico traçado pela autora, é correto afirmar que o slogan do atual governo fracassou porque

A
o uso da vírgula provocou uma leitura negativa do trecho que alude ao slogan da década de 1950.
B
a mensagem projetada pelo slogan anterior era mais clara, direta, e não exigia o uso da vírgula.
C
a alusão ao slogan anterior afasta o público jovem e provoca a perda de seu poder persuasivo.
D
o duplo sentido do verbo “voltar” gerou uma mensagem que se afasta daquela projetada pelo slogan anterior.
d87fe950-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Ortografia, Acentuação Gráfica: Proparoxítonas, Paraxítonas, Oxítonas e Hiatos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto. As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.
As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica! Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito. É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo. Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice. Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.

(Adaptado de Eduardo Affonso, “Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto”. Disponível em www.facebook.com/eduardo22affonso/.)

Segundo o texto, as proparoxítonas são palavras que

A
garantem sua pronúncia graças à exigência de uma sílaba tônica.
B
conferem nobreza ao léxico da língua graças à facilidade de sua pronúncia.
C
revelam mais prestígio em função de seu pouco uso e de sua dupla acentuação.
D
exibem sempre sua prepotência, além de imporem a obrigatoriedade da acentuação.
d87b7c54-f1
UNICAMP 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

(Disponível em https://www.facebook.com/SeboItinerante/photos/. Acessado em 28/05/2018.)


“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo do bom senso e do senso comum."

(Adaptado de “Franz Kafka, carta a Oscar Pollak, 1904.” Disponível em https://laboratoriode sensibilidades.wordpress.com. Acessado em 28/05/2018.)


Assinale o excerto que confirma os dois textos anteriores.

A
A leitura é, fundamentalmente, processo político. Aqueles que formam leitores – professores, bibliotecários – desempenham um papel político. (Marisa Lajolo)
B
Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitarização, há aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras. (Antonio Candido)
C
Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam o que somos com o que tantos outros imaginaram, pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos. (Gilberto Gil)
D
A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos? (Fernando Pessoa)
e2ef36ae-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

“ODORICO

Eu sei. É um movimento subversivo procurando me intrigar com a opinião pública e criar problemas à minha administração. Sei, sim. É uma conspiração. Eles não queriam o cemitério. Desde o princípio foram contra. E agora que o cemitério está pronto caem de pau em cima de mim, me chamam de demagogo, de tudo..” 

(...)

“ODORICO

Pois eu quero que depois o senhor soletre esta gazeta de ponta a ponta. Neco Pedreira o senhor conhece?

ZECA

Conheço não sinhô.

ODORICO

É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira missão como delegado é dar uma batida na redação dessa gazeta subversiva e sacudir a marreta em nome da lei e da democracia...”

(Dias Gomes, O bem amado. 12.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014, p. 40 e 68.)


A peça de Dias Gomes é uma crítica a um momento histórico e político da sociedade brasileira. Odorico Paraguassu tornou-se um personagem emblemático desse período porque por meio dele

A
simbolizou-se a defesa da democracia a qualquer custo. Essa defesa resultou em uma sociedade cindida entre o respeito à lei e o seu uso particular, temas políticos comuns aos países latino-americanos nos anos de 1970.
B
representaram-se o atropelo da lei constitucional, a relativização da liberdade de imprensa e a construção de um inimigo interno que justificasse o arbítrio das decisões do executivo, próprios aos Anos de Chumbo.
C
explicitaram-se as leis que regiam a vida política e social de uma nação subdesenvolvida da América Latina na década de 1970, marcada pela inércia e pela cumplicidade dos cidadãos com a corrupção sistêmica do país. 
D
fez-se a defesa da democracia e do respeito irrestrito à lei constitucional para um projeto de nação brasileira da década 1970, que enfrentava o espírito demagógico dos políticos latino-americanos.
e2ec3a45-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O poema abaixo é de autoria do poeta Augusto de Campos, integrante do movimento concretista.

Nesse poema, nota-se uma técnica de composição que consiste



A
na disposição arbitrária de anagramas, sem produzir uma relação de sentido com o título do poema.
B
na disposição exaustiva de anagramas, sem produzir uma relação de sentido com o título do poema.
C
na disposição arbitrária de anagramas, para produzir uma relação de sentido com o título do poema.
D
na disposição exaustiva de anagramas, para produzir uma relação de sentido com o título do poema.
e2e958db-38
UNICAMP 2017 - Português - Formação das Palavras: Composição, Derivação, Hibridismo, Onomatopeia e Abreviação, Morfologia

O brasileiro João Guimarães Rosa e o irlandês James Joyce são autores reverenciados pela inventividade de sua linguagem literária, em que abundam neologismos. Muitas vezes, por essa razão, Guimarães Rosa e Joyce são citados como exemplos de autores "praticamente intraduzíveis". Mesmo sem ter lido os autores, é possível identificar alguns dos seus neologismos, pois são baseados em processos de formação de palavras comuns ao português e ao inglês.

Entre os recursos comuns aos neologismos de Guimarães Rosa e de James Joyce, estão:

i. Onomatopeia (formação de uma palavra a partir de uma reprodução aproximada de um som natural, utilizando-se os recursos da língua); e 

ii. Derivação (formação de novas palavras pelo acréscimo de prefixos ou sufixos a palavras já existentes na língua).

Os neologismos que aparecem nas opções abaixo foram extraídos de obras de Guimarães Rosa (GR) e James Joyce (JJ). Assinale a opção em que os processos (i) e (ii) estão presentes: 

A
Quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém) e tattarrattat (JJ, Ulisses).
B
Transtrazer (GR, Grande sertão: veredas) e monoideal (JJ, Ulisses). 
C
Rtststr (JJ, Ulisses) e quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém).  
D
Tattarrattat (JJ, Ulisses) e inesquecer-se (GR, Ave, Palavra). 
e2e666cf-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (...).

À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.

(Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.)

Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que

A
o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a exalação forte que provinham do cortiço decorriam, segundo Miranda, do abandono daquela população pelo governo.
B
os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no coito”, que fazem referência aos moradores do cortiço, funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus habitantes.
C
o nivelamento sociológico na obra O Cortiço se dá não somente entre os moradores da habitação coletiva e o seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho Miranda.
D
a presença portuguesa, exemplificada nas personagens João Romão e Miranda, não é relevante para o desenvolvimento da narrativa nem para a compreensão do sentido da obra.
e2e36224-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

Transforma-se o amador na coisa amada,

 Por virtude do muito imaginar;

Não tenho, logo, mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

Pois com ele tal alma está liada. 


Mas esta linda e pura semideia,

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim como a alma minha se conforma,


Está no pensamento como ideia; 

E o vivo e puro amor de que sou feito,

Como a matéria simples busca a forma.


(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)


Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano

A
é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta em uma alma única e perfeita.
B
é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria simples que deseja.
C
é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa amada é a ausência de desejo.
D
é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua condição de ideia. 
e2e02c2f-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

Leia abaixo duas passagens do poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima.

“A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!

E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes.

Com os teus songs, com os teus lundus!”

(...)

“Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com teus jazzes.

Olá, Negro! O dia está nascendo!

O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?”

(Jorge de Lima, Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro / Brasília: J. Aguilar / INL, 1974, p.180-181.)

Considerando o livro Poemas negros como um todo e a poética de Jorge de Lima, é correto afirmar que o último verso citado


A
manifesta o desprezo do negro pela situação decadente da cultura do branco.
B
realiza a aproximação entre a alegria do negro e uma ideia de futuro.
C
remete à vingança do negro contra a violência a que foi submetido pelo branco.
D
funciona como um lamento, já que o nascer do dia não traz justiça social.
e2dca403-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

A fim de dar exemplos de sua teoria da “alma exterior”, o narrador-personagem do conto “O espelho”, de Machado de Assis, refere-se a uma senhora conhecida sua “que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano”.

E, questionado sobre a identidade dessa mulher, afirma: “Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome: chama-se Legião...” Considerando o contexto dessa frase no conto, pode-se dizer que ela constitui

A
uma crítica à noção de alma exterior como resultante da influência do mal.
B
uma consideração cômica que ressalta o nome inusitado da senhora.
C
uma condenação do comportamento moral da senhora em questão.
D
uma ironia com a inconstância dos valores sociais associados à alma exterior.
e2d9b3e9-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

“Sapo não pula por boniteza, mas porém por percisão.”

 (“Provérbio capiau” citado em epígrafe no conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p.287.)

Elementos textuais que antecedem a narrativa como, por exemplo, o provérbio citado, funcionam, em alguns autores, como pista para se entender o sentido das ações ficcionais. No excerto acima, as ideias de beleza e necessidade são contrapostas com vistas à produção de um sentido de ordem moral. Considerando-se a jornada heroica de Augusto Matraga, é correto afirmar que a narrativa

A
contradiz o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não é fiel ao seu propósito de mudar os hábitos antigos.
B
confirma o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista realiza uma série de ações para corrigir seu caráter e reordenar eticamente sua vida.
C
ratifica o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista é seduzido pelos encantos da natureza e pelos prazeres da bebida e do fumo. 
D
refuta o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não consegue agir sem as motivações da beleza física e do afeto femininos. 
e2d6c066-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

O título do romance Caminhos cruzados, de Érico Veríssimo,

A
alude às dificuldades vividas pelas personagens mais representativas da elite urbana, além de sugerir que nenhum homem é uma ilha.
B
sugere que a vida social das personagens é constituída pelo conjunto de relações econômicas e psicológicas dos indivíduos.
C
remete à técnica narrativa do romance, no qual várias histórias são relacionadas, sem o estabelecimento de um protagonista principal.
D
simboliza as relações de poder da classe burguesa emergente e o seu desejo de controlar a conduta ética da sociedade.
e2d3e3f2-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos

Em maio deste ano, uma festa do 3º ano do Ensino Médio de uma escola do Rio Grande do Sul propôs aos alunos que se preparavam para o vestibular uma atividade chamada “Se nada der certo”. O objetivo era “trabalhar o cenário de não aprovação no vestibular”, e como “lidar melhor com essa fase”. Os alunos compareceram à festa “fantasiados” de faxineiros, garis, domésticas, agricultores, entre outras profissões consideradas de pessoas “fracassadas”. O evento teve repercussão nacional e acirrou o debate sobre a meritocracia. Para Luis Felipe Miguel, professor de ciência política, “o tom de chacota da festa-recreio era óbvio”, e teria sido mais interessante “discutir como se constrói a hierarquia que define algumas ocupações como subalternas e outras como superiores; discutir como alguns podem desprezar os saberes incorporados nas práticas dessas profissões (subalternas apenas porque contam com quem as faça por eles); discutir como o que realmente ‘deu certo’ para eles foi a loteria do nascimento, que, na nossa sociedade, determina a parte do leão das trajetórias individuais”.

(Adaptado de Fernanda Valente, Dia do ’se nada der certo’ acende debate sobre meritocracia e privilégio. Carta Capital, 06/06/2017. Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2017/06/06/dia-do-se-nada-der-certoacende-debate-sobre-meritocracia-e-privilegio/. Acessado em 08/06/2017.) 


As alternativas a seguir reproduzem trechos de uma entrevista do professor Sidney Chalhoub (Unicamp e Harvard) sobre o mito da meritocracia. 

(Manuel Alves Filho, A meritocracia é um mito que alimenta as desigualdades, diz Sidney Chalhoub. Jornal da Unicamp, 07/06/2017.)


Assinale aquela que dialoga diretamente com a notícia acima. 

A
É preciso promover a inclusão “e fazer com que o conhecimento que essas pessoas trarão à Universidade seja reconhecido e disseminado”. 
B
Com a adesão da Unicamp ao sistema de cotas, um “novo contingente de alunos colocará em cheque vários hábitos da universidade”.
C
“As melhores universidades do mundo (que servem de referência) adotam a diversidade no ingresso dos estudantes há bastante tempo”.
D
“O ideal seria que todos aqueles que tivessem condições intelectuais e interesse em entrar na universidade obtivessem uma vaga”.
e2d1166c-38
UNICAMP 2017 - Português - Interpretação de Textos


(“Caneta Desmanipuladora.” Facebook. 17/10/2016. Disponível em https://www.facebook.com/canetadesmanipuladora/. Acessado em 15/07/2017.) 

Em relação ao post adaptado da página do Facebook “Caneta Desmanipuladora”, é correto afirmar que a “desmanipulação” (substituição de “já” por “só” e acréscimo de “até agora”) explicita a tentativa do jornal de levar o leitor a pensar que

A
ainda falta muito a ser pago pela mineradora e há atrasos no pagamento.
B
a Samarco teria pago uma grande parte do que devia e o prazo provavelmente está sendo cumprido.
C
a Samarco já quitou o que devia , conforme valor homologado na justiça.
D
a mineradora não deveria arcar sozinha com a despesa da tragédia de Mariana.