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PUC - RS 2023 - Português - Gêneros Textuais
O texto a seguir consiste no trecho inicial do conto Além do ponto, que integra o livro Morangos Mofados (1982), de
Caio Fernando Abreu (1948-1996).
Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre
perdia todos pelos bares, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas
bem assim eu ia no meio da chuva, uma garrafa de conhaque e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma
hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros
nem conhaque, e eu pensei com força que seria melhor chegar molhado, porque então beberíamos o conhaque, fazia
frio, nem tanto frio, mais umidade que entrava pelo pano das roupas, pela sola fina dos sapatos, e fumaríamos beberíamos sem medidas, haveria discos, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima
de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio e o nariz começava
a escorrer, eu limpava com as costas da mão e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pelos, eu enfiava as mãos
avermelhadas nos bolsos e ia indo, eu ia indo pulando as poças d’água com as pernas geladas.
ABREU, Caio Fernando. Morangos Mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 34.
Sobre o trecho, assinale a alternativa correta:
O texto a seguir consiste no trecho inicial do conto Além do ponto, que integra o livro Morangos Mofados (1982), de
Caio Fernando Abreu (1948-1996).
Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre
perdia todos pelos bares, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas
bem assim eu ia no meio da chuva, uma garrafa de conhaque e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma
hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros
nem conhaque, e eu pensei com força que seria melhor chegar molhado, porque então beberíamos o conhaque, fazia
frio, nem tanto frio, mais umidade que entrava pelo pano das roupas, pela sola fina dos sapatos, e fumaríamos beberíamos sem medidas, haveria discos, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima
de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio e o nariz começava
a escorrer, eu limpava com as costas da mão e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pelos, eu enfiava as mãos
avermelhadas nos bolsos e ia indo, eu ia indo pulando as poças d’água com as pernas geladas.
ABREU, Caio Fernando. Morangos Mofados. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 34.
Sobre o trecho, assinale a alternativa correta:
A
A narração funciona como um monólogo interior, no qual o protagonista apresenta-se como um sujeito seguro de
si e de suas ações e decisões.
B
Há um interlocutor bem definido na cena, a quem o narrador-protagonista se dirige, justamente o sujeito que ele
está indo encontrar.
C
A menção às “vozes roucas” e ao “sax gemido” sugere que o espaço interior para o qual o narrador se encaminha
é tão hostil e precário quanto o espaço exterior pelo qual ele se desloca.
D
O uso de repetições, como “Chovia, chovia, chovia” e “ia indo, eu ia indo”, contribui para intensificar a carga dramática e psicológica da cena narrada.