Questõesde FUVEST 2019 sobre Português

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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem

A certa personagem desvanecida


Um soneto começo em vosso gabo*:

Contemos esta regra por primeira,

Já lá vão duas, e esta é a terceira,

Já este quartetinho está no cabo.


Na quinta torce agora a porca o rabo;

A sexta vá também desta maneira:

Na sétima entro já com grã** canseira,

E saio dos quartetos muito brabo.


Agora nos tercetos que direi?

Direi que vós, Senhor, a mim me honrais

Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.


Nesta vida um soneto já ditei;

Se desta agora escapo, nunca mais:

Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Matos

*louvor **grande


Tipo zero


Você é um tipo que não tem tipo

Com todo tipo você se parece

E sendo um tipo que assimila tanto tipo

Passou a ser um tipo que ninguém esquece


Quando você penetra num salão

E se mistura com a multidão

Você se torna um tipo destacado

Desconfiado todo mundo fica

Que o seu tipo não se classifica

Você passa a ser um tipo desclassificado


Eu até hoje nunca vi nenhum

Tipo vulgar tão fora do comum

Que fosse um tipo tão observado

Você ficou agora convencido

Que o seu tipo já está batido

Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado

Noel Rosa 

A
o processo de composição do texto.
B
a própria inferioridade ante o retratado.
C
a singularidade de um caráter nulo.
D
o sublime que se oculta na vulgaridade.
E
a intolerância para com os gênios.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que

    Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.

    Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.

Helena Morley, Minha Vida de Menina.


Perguntas


Numa incerta hora fria   

perguntei ao fantasma  

que força nos prendia,  

 ele a mim, que presumo

estar livre de tudo         

eu a ele, gasoso,          

 (...)                                 

No voo que desfere      

silente e melancólico,   

rumo da eternidade,     

   ele apenas responde       

(se acaso é responder  

  a mistérios, somar‐lhes  

um mistério mais alto):

  Amar, depois de perder.

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

A
ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.
B
ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.
C
a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte.
D
a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.
E
as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Coesão e coerência, Sintaxe, Redação - Reescritura de texto

Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (L.10‐11) pode ser reescrito,sem prejuízo de sentido, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou,

    E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.

    Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.

Machado de Assis, Quincas Borba.

A
apesar de lisonjeá‐la
B
antes a lisonjeou.
C
porque a lisonjeava.
D
a fim de lisonjeá‐la.
E
tanto quanto a lisonjeava.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialogando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como substantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance, sugere‐se que a tartufice

    E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.

    Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.

Machado de Assis, Quincas Borba.

A
se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios.
B
é ação isolada de Sofia, arrivista social e benemérita fingida.
C
diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que explica o título do livro.
D
se produz na imprensa, apesar de esta se esquivar da eloquência vazia.
E
se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto


O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (L.6) referida pela autora é:

A
“não que eu buscasse respostas para tudo” (L.6‐7).
B
“não tinha consciência de mim” (L.8).
C
“Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (L.10‐11).
D
“me esforçando para não ser notada” (L.15).
E
“sentia vergonha de levantar a mão” (L.8‐9).
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Agora, o Manuel Fulô, este,sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.

Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.

*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço


O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que

A
há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.
B
estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.
C
a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.
D
é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.
E
se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.
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FUVEST 2019 - Português - Uso dos dois-pontos, Pontuação

O Twitter é uma das redes sociais mais importantes no Brasil e no mundo. (...) Um estudo identificou que as fake news são 70% mais propensas a serem retweetadas do que fatos verdadeiros. (...) Outra conclusão importante do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsáveis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas.

Super Interessante, “No Twitter, fake news se espalham 6 vezes mais rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019.


No período “Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas.”, os dois‐pontos são utilizados para introduzir uma

A
conclusão.
B
concessão.
C
explicação.
D
contradição.
E
condição.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é:

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.

Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.


*sesta: repouso após o almoço.

A
Para bom entendedor, meia palavra basta.
B
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
C
Quem com ferro fere, com ferro será ferido.
D
Um dia é da caça, o outro é do caçador.
E
Uma andorinha só não faz verão.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.

Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.


*sesta: repouso após o almoço.

A
uma defesa da natureza.
B
um ataque às forças armadas.
C
uma defesa dos direitos humanos.
D
uma defesa da resistência civil.
E
um ataque à passividade.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Denotação e Conotação, Adjetivos, Morfologia - Verbos, Substantivos, Morfologia

Tal como se lê no poema,

 amora                                          

 a palavra amora                          

  seria talvez menos doce               

 e um pouco menos vermelha      

 se não trouxesse em seu corpo  

(como um velado esplendor)      

  a memória da palavra amor         


   a palavra amargo                         

seria talvez mais doce              

e um pouco menos acerba       

se não trouxesse em seu corpo

(como uma sombra a espreitar)

 a memória da palavra amar       

Marco Catalão, Sob a face neutra.

A
a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.
B
o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.
C
o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.
D
o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.
E
o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

É correto afirmar que o poema

 amora                                          

 a palavra amora                          

  seria talvez menos doce               

 e um pouco menos vermelha      

 se não trouxesse em seu corpo  

(como um velado esplendor)      

  a memória da palavra amor         


   a palavra amargo                         

seria talvez mais doce              

e um pouco menos acerba       

se não trouxesse em seu corpo

(como uma sombra a espreitar)

 a memória da palavra amar       

Marco Catalão, Sob a face neutra.

A
aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio.
B
enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”.
C
apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso.
D
possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”.
E
ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.
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FUVEST 2019 - Português - Morfologia - Verbos, Flexão de voz (ativa, passiva, reflexiva), Termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado, Sintaxe

Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet:


“O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major.

Disponível em https://www.gp1.com.br/.


No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como encontrado em:

A
“O carro furou o pneu”.
B
“e bateu no meio fio”.
C
“O refém conseguiu acionar a população”.
D
“tentaram linchar eles”.
E
“afirmou o major”.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.


O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.


Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

A
dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
B
grotesca, ao eliminar a expressão individual.
C
satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
D
ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo.
E
alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Se o discurso literário “aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o”, pode‐se dizer que Luís da Silva, o narrador‐protagonista de Angústia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas” porque

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.


O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.


Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

A
rejeita, como jornalista, a escrita de ficção.
B
prefere alienar‐se com narrativas épicas.
C
é indiferente às histórias de fundo sentimental.
D
está engajado na militância política.
E
se afunda na negatividade própria do fracassado.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.


O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.


Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

A
estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo.
B
utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
C
instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo.
D
oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo.
E
conduz o leitor a ignorar o mundo real.
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FUVEST 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Cantiga de enganar

(...)

O mundo não tem sentido.

O mundo e suas canções

de timbre mais comovido

estão calados, e a fala

que de uma para outra sala

ouvimos em certo instante

é silêncio que faz eco

e que volta a ser silêncio

no negrume circundante.

Silêncio: que quer dizer?

Que diz a boca do mundo?

Meu bem, o mundo é fechado,

se não for antes vazio.

O mundo é talvez: e é só.

Talvez nem seja talvez.

O mundo não vale a pena,

mas a pena não existe.

Meu bem, façamos de conta.

De sofrer e de olvidar,

de lembrar e de fruir,

de escolher nossas lembranças

e revertê‐las, acaso

se lembrem demais em nós.

Façamos, meu bem, de conta

– mas a conta não existe –

que é tudo como se fosse,

ou que, se fora, não era.

(...)

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.


Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada

A
pela música, que ressoa em canções líricas.
B
pela cor, brilhante na claridade solar.
C
pela afirmação de valores sólidos.
D
pela memória, que corre fluida no tempo.
E
pelo despropósito de um faz‐de‐conta.