Questõesde ENEM 2021 sobre Português

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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Singular ocorrência


    — Há ocorrências bem singulares. Está vendo aquela dama que vai entrando na igreja da Cruz? Parou agora no adro para dar uma esmola.

    — De preto?

    — Justamente; lá vai entrando; entrou.

    — Não ponha mais na carta. Esse olhar está dizendo que a dama é uma recordação de outro tempo, e não há de ser muito tempo, a julgar pelo corpo: é moça de truz.

    — Deve ter quarenta e seis anos.

    — Ah! conservada. Vamos lá; deixe de olhar para o chão e conte-me tudo. Está viúva, naturalmente?

    — Não.

    — Bem; o marido ainda vive. É velho?

    — Não é casada.

    — Solteira?

    — Assim, assim. Deve chamar-se hoje D. Maria de tal. Em 1860 florescia com o nome familiar de Marocas. Não era costureira, nem proprietária, nem mestra de meninas; vá excluindo as profissões e chegará lá. Morava na Rua do Sacramento. Já então era esbelta, e, seguramente, mais linda do que hoje; modos sérios, linguagem limpa.

ASSIS, M. Machado de Assis: seus 30 melhores contos.

Rio de Janeiro: Aguilar, 1961.


No diálogo, descortinam-se aspectos da condição da mulher em meados do século XIX. O ponto de vista dos personagens manifesta conceitos segundo os quais a mulher

A
encontra um modo de dignificar-se na prática da caridade.
B
preserva a aparência jovem conforme seu estilo de vida.
C
condiciona seu bem-estar à estabilidade do casamento.
D
tem sua identidade e seu lugar referendados pelo homem.
E
renuncia à sua participação no mercado de trabalho.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

TEXTO I



HAZOUMÉ, R. Nanawax. Plástico e tecido. Galerie Gagosian, 2009.

Disponível em: www.actuart.org. Acesso em: 19 jun. 2019.


TEXTO II


    As máscaras não foram feitas para serem usadas; elas se concentram apenas nas possibilidades antropomórficas dos recipientes plásticos descartados e, ao mesmo tempo, chamam a atenção para a quantidade de lixo que se acumula em quase todas as cidades ou aldeias africanas.

FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011 (adaptado).


Romuald Hazoumé costuma dizer que sua obra apenas manda de volta ao oeste o refugo de uma sociedade de consumo cada vez mais invasiva. A obra desse artista africano que vive no Benin denota o(a)

A
empobrecimento do valor artístico pela combinação de diferentes matérias-primas.
B
reposicionamento estético de objetos por meio da mudança de função.
C
convite aos espectadores para interagir e completar obras inacabadas.
D
militância com temas da ecologia que marcam o continente africano.
E
realidade precária de suas condições de produção artística.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Comportamento geral


Você deve estampar sempre um ar de alegria

E dizer: tudo tem melhorado

Você deve rezar pelo bem do patrão

E esquecer que está desempregado


Você merece

Você merece

Tudo vai bem, tudo legal

Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé

Se acabarem com teu carnaval


Você deve aprender a baixar a cabeça

E dizer sempre: muito obrigado

São palavras que ainda te deixam dizer

Por ser homem bem disciplinado


Deve pois só fazer pelo bem da nação

Tudo aquilo que for ordenado

Pra ganhar um fuscão no juízo final

E diploma de bem-comportado


GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga Jr. Rio de Janeiro: Odeon, 1973 (fragmento).


Pela análise do tema e dos procedimentos argumentativos utilizados na letra da canção composta por Gonzaguinha na década de 1970, infere-se o objetivo de

A
ironizar a incorporação de ideias e atitudes conformistas.
B
convencer o público sobre a importância dos deveres cívicos.
C
relacionar o discurso religioso à resolução de problemas sociais.
D
questionar o valor atribuído pela população às festas populares.
E
defender uma postura coletiva indiferente aos valores dominantes.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

    Se for possível, manda-me dizer:
    — É lua cheia. A casa está vazia —
    Manda-me dizer, e o paraíso
    Há de ficar mais perto, e mais recente
    Me há de parecer teu rosto incerto.
    Manda-me buscar se tens o dia
    Tão longo como a noite. Se é verdade
    Que sem mim só vês monotonia.
    E se te lembras do brilho das marés
    De alguns peixes rosados
    Numas águas
    E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
    — É lua nova —
    E revestida de luz te volto a ver.

HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018.

Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao

A
ceticismo quanto à possibilidade do reencontro.
B
tédio provocado pela distância física do ser amado.
C
sonho de autorrealização desenhado pela memória.
D
julgamento implícito das atitudes de quem se afasta.
E
questionamento sobre o significado do amor ausente.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Variação Linguística

Falso moralista


        Você condena o que a moçada anda fazendo

        e não aceita o teatro de revista

        arte moderna pra você não vale nada

        e até vedete você diz não ser artista


        Você se julga um tanto bom e até perfeito

        Por qualquer coisa deita logo falação

        Mas eu conheço bem o seu defeito

        e não vou fazer segredo não


        Você é visto toda sexta no Joá

        e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar

        Fim de semana você deixa a companheira

        e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira


        Segunda-feira chega na repartição

        pede dispensa para ir ao oculista

        e vai curar sua ressaca simplesmente

        Você não passa de um falso moralista

NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979.


As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas

A
“falação” e “pros bailes”.
B
“você” e “teatro de revista”.
C
“perfeito” e “Carnaval”.
D
“bebe bem” e “oculista”.
E
“curar” e “falso moralista”.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Introdução a Alda


    Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma boa pessoa. Sua filha de doze anos não a visita nunca e talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade triste de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não pôde mais sair. Lá, todos gritam-lhe irritados, mal se aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia para treinar os músculos.


    Sei que para todos ela já não é, e ninguém lhe daria uma maçã cheirosa, bem vermelha. Mas não é verdade que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se refugiou princesa, chegada pelos caminhos da dor. Quando fora do reino sente o mundo de mil lanças, e selvagem prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca na areia sem medo. Uns pés descalços, uma mulher sem intenções. Cercada de mundo, às vezes sofrendo-o ainda.


CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.


Ao descrever uma mulher internada em um hospital psiquiátrico, o narrador compõe um quadro que expressa sua percepção

A
irônica quanto aos efeitos do abandono familiar.
B
resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor.
C
alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação.
D
inspirada pelo universo pouco conhecido da mente humana.
E
demarcada por uma linguagem alinhada à busca da lucidez.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O pavão vermelho


        Ora, a alegria, este pavão vermelho,

        está morando em meu quintal agora.

        Vem pousar como um sol em meu joelho

        quando é estridente em meu quintal a aurora.


        Clarim de lacre, este pavão vermelho

        sobrepuja os pavões que estão lá fora.

        É uma festa de púrpura. E o assemelho

        a uma chama do lábaro da aurora.


        É o próprio doge a se mirar no espelho.

        E a cor vermelha chega a ser sonora

        neste pavão pomposo e de chavelho.


        Pavões lilases possuí outrora.

        Depois que amei este pavão vermelho,

        os meus outros pavões foram-se embora.


COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.


Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico

A
revela a intenção de isolar-se em seu espaço.
B
simboliza a beleza e o esplendor da natureza.
C
experimenta a fusão de percepções sensoriais.
D
metaforiza a conquista de sua plena realização.
E
expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto


LICHTENSTEIN, R. Garota com bola. Óleo sobre tela, 153 cm x 91,9 cm.
Museu de Arte Moderna de Nova York, 1961.

Disponível em: www.moma.org. Acesso em: 4 dez. 2018.

A obra, da década de 1960, pertencente ao movimento artístico Pop Art, explora a beleza e a sensualidade do corpo feminino em uma situação de divertimento. Historicamente, a sociedade inventou e continua reinventando o corpo como objeto de intervenções sociais, buscando atender aos valores e costumes de cada época.
Na reprodução desses preceitos, a erotização do corpo feminino tem sido constituída pela 

A
realização de exercícios físicos sistemáticos e excessivos.
B
utilização de medicamentos e produtos estéticos.
C
educação do gesto, da vontade e do comportamento.
D
construção de espaços para vivência de práticas corporais.
E
promoção de novas experiências de movimento humano no lazer.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto


D'SALETE, M. Cumbe. São Paulo: Veneta, 2018, p. 10-11 (adaptado).

A sequência dos quadrinhos conjuga lirismo e violência ao

A
sugerir a impossibilidade de manutenção dos afetos.
B
revelar os corpos marcados pela brutalidade colonial.
C
representar o abatimento diante da desumanidade vivida.
D
acentuar a resistência identitária dos povos escravizados.
E
expor os sujeitos alijados de sua ancestralidade pelo exílio.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

    Naquele tempo, Itaguaí, que, como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia; ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da matriz; — ou por meio de matraca.

    Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam, — um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século. 

ASSIS, M. O alienista. Disponível em: www.dominiopubico.gov.br.
Acesso em: 2 jun. 2019 (adaptado).

O fragmento faz uma referência irônica a formas de divulgação e circulação de informações em uma localidade sem imprensa. Ao destacar a confiança da população no sistema da matraca, o narrador associa esse recurso à disseminação de

A
campanhas políticas.
B
anúncios publicitários.
C
notícias de apelo popular.
D
informações não fidedignas.
E
serviços de utilidade pública.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

    No ano em que o maior clarinetista que o Brasil conheceu, Abel Ferreira, faria 100 anos, o choro dá mostras de vivacidade. É quase um paradoxo que essa riquíssima manifestação da genuína alma brasileira seja forte o suficiente para driblar a falta de incentivos oficiais, a insensibilidade dos meios de comunicação e a amnésia generalizada. “Ele trazia a alma brasileira derramada em sua sonoridade ímpar. Artur da Távola, seguramente seu maior admirador, foi quem melhor o definiu, ‘alma sertaneja, toque mozarteano’”. O acervo do músico autodidata nascido na mineira Coromandel, autor de 50 músicas, entre as quais Chorando baixinho (1942), que o consagrou, amigo e parceiro de Pixinguinha, com quem gravou Ingênuo (1958), permanece com os herdeiros à espera de compilação adequada. O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro tem a guarda do sax e do clarinete, doados em 1995.

    Na avaliação de Leonor Bianchi, editora da Revista do Choro, “a música instrumental fica apartada do que é popular porque não vai à sala de concerto. O público em geral tem interesse em samba, pagode e axé”. Ela atribui essa situação à falta de conhecimento e à pouca divulgação do gênero nas escolas.

FERRAZ, A. Disponível em: www.cartacapital.com.br.
Acesso em: 22 abr. 2015 (adaptado).

Considerando-se o contexto, o gênero e o público-alvo, os argumentos trazidos pela autora do texto buscam

A
atribuir o desconhecimento da obra de Abel Ferreira ao ensino de música nas escolas.
B
reivindicar mais investimentos estatais para a preservação do acervo musical nacional.
C
destacar a relevância histórica e a riqueza estética do choro no cenário musical brasileiro.
D
apresentar ao leitor dados biográficos pouco conhecidos sobre a trajetória de Abel Ferreira.
E
constatar a impopularidade do choro diante da preferência do público por músicas populares.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

    A história do futebol brasileiro contém, ao longo de um século, registros de episódios racistas. Eis o paradoxo: se, de um lado, a atividade futebolística era depreciada aos olhos da “boa sociedade” como profissão destinada aos pobres, negros e marginais, de outro, achava-se investida do poder de representar e projetar a nação em escala mundial. A Copa do Mundo no Brasil, em 1950, viria a se constituir, nesse sentido, em uma rara oportunidade. Contudo, na decisão contra o Uruguai sobreveio o inesperado revés. As crônicas esportivas elegiam o goleiro Barbosa e o defensor Bigode como bodes expiatórios, “descarregando nas costas” dos jogadores os “prejuízos” da derrota. Uma chibata moral, eis a sentença proferida no tribunal dos brancos. Nos anos 1970, por não atender às expectativas normativas suscitadas pelo estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima foi classificado como “jogador-problema”. Ele esboçava a revolta da chibata no futebol brasileiro. Enquanto Barbosa e Bigode, sem alternativa, suportaram o linchamento moral na derrota de 1950, Paulo César contra-atacava os que pretendiam condená-lo pelo insucesso de 1974. O jogador assumia as cores e as causas defendidas pela esquadra dos pretos em todas as esferas da vida social. “Sinto na pele esse racismo subjacente”, revelou à imprensa francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a palavra ‘racismo’. Mas posso garantir que ele existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua ousadia consistiu em pronunciar a palavra interdita no espaço simbólico do discurso oficial para reafirmar o mito da democracia racial.

Disponível em: https://observatorioracialfutebol.com.br. Acesso em: 22 jun. 2019 (adaptado).

O texto atribui o enfraquecimento do mito da democracia racial no futebol à

A
responsabilização de jogadores negros pela derrota na final da Copa de 1950.
B
projeção mundial da nação por um esporte antes destinado aos pobres.
C
depreciação de um esporte associado à marginalidade.
D
interdição da palavra “racismo” no contexto esportivo.
E
atitude contestadora de um “jogador-problema”.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Devagar, devagarinho


    Desacelerar é preciso. Acelerar não é preciso. Afobados e voltados para o próprio umbigo, operamos, automatizados, falas robóticas e silêncios glaciais. Ilustra bem esse estado de espírito a música Sinal fechado (1969), de Paulinho da Viola. Trata-se da história de dois sujeitos que se encontram inesperadamente em um sinal de trânsito. A conversa entre ambos, porém, se deu rápida e rasteira. Logo, os personagens se despedem, com a promessa de se verem em outra oportunidade. Percebe-se um registro de comunicação vazia e superficial, cuja tônica foi o contato ligeiro e superficial construído pelos interlocutores: “Olá, como  vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem? / Tudo bem, eu vou indo correndo, / pegar meu lugar no futuro. E você? / Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono / tranquilo, quem sabe? / Quanto tempo... / Pois é, quanto tempo... / Me perdoe a pressa / é a alma dos nossos negócios... / Oh! Não tem de quê. / Eu também só ando a cem”.


    O culto à velocidade, no contexto apresentado, se coloca como fruto de um imediatismo processual que celebra o alcance dos fins sem dimensionar a qualidade dos meios necessários para atingir determinado propósito. Tal conjuntura favorece a lei do menor esforço — a comodidade — e prejudica a lei do maior esforço — a dignidade.


    Como modelo alternativo à cultura fast, temos o movimento slow life, cujo propósito, resumidamente, é conscientizar as pessoas de que a pressa é inimiga da perfeição e do prazer, buscando assim reeducar seus sentidos para desfrutar melhor os sabores da vida.


SILVA, M. F. L. Boletim UFMG, n. 1 749, set. 2011 (adaptado).


Nesse artigo de opinião, a apresentação da letra da canção Sinal fechado é uma estratégia argumentativa que visa sensibilizar o leitor porque

A
adverte sobre os riscos que o ritmo acelerado da vida oferece.
B
exemplifica o fato criticado no texto com uma situação concreta.
C
contrapõe situações de aceleração e de serenidade na vida das pessoas.
D
questiona o clichê sobre a rapidez e a aceleração da vida moderna.
E
apresenta soluções para a cultura da correria que as pessoas vivenciam hoje.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

TEXTO I

    Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma polca, uma polca buliçosa, como dizem os anúncios. Nenhuma repulsa da parte do compositor; os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo. [...] Compunha só, teclando ou escrevendo, sem os vãos esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir ao céu, sem interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio. Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene.

ASSIS, M. Um homem célebre. Disponível em: www.biblio.com.br.
Acesso em: 2 jun. 2019.

TEXTO II

    Um homem célebre expõe o suplício do músico popular que busca atingir a sublimidade da obra-prima clássica, e com ela a galeria dos imortais, mas que é traído por uma disposição interior incontrolável que o empurra implacavelmente na direção oposta. Pestana, célebre nos saraus, salões, bailes e ruas do Rio de Janeiro por suas composições irresistivelmente dançantes, esconde-se dos rumores à sua volta num quarto povoado de ícones da grande música europeia, mergulha nas sonatas do classicismo vienense, prepara-se para o supremo salto criativo e, quando dá por si, é o autor de mais uma inelutável e saltitante polca.

WISNIK, J. M. Machado maxixe: o caso Pestana. Teresa: revista de literatura brasileira,
2004 (adaptado)

O conto de Machado de Assis faz uma referência velada ao maxixe, gênero musical inicialmente associado à escravidão e à mestiçagem. No Texto II, o conflito do personagem em compor obras do gênero é representativo da

A
pouca complexidade musical das composições ajustadas ao gosto do grande público.
B
prevalência de referências musicais africanas no imaginário da população brasileira.
C
incipiente atribuição de prestígio social a músicas instrumentais feitas para a dança.
D
tensa relação entre o erudito e o popular na constituição da música brasileira.
E
importância atribuída à música clássica na sociedade brasileira do século XIX.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A crise dos refugiados imortalizada para sempre no
fundo do mar


TAYLOR, J. C. A balsa de Lampedusa. Instalação.
Museu Atlântico, Lanzarote, Canárias, 2016 (detalhe).

    A balsa de Lampedusa, nome da obra do artista britânico Jason de Caires Taylor, é uma das instalações criadas por ele para compor o acervo do primeiro museu submarino da Europa, o Museu Atlântico, localizado em Lanzarote, uma das ilhas do arquipélago das Canárias.

    Lampedusa é o nome da ilha italiana onde a grande maioria dos refugiados que saem da África ou de países como Síria, Líbano e Iraque tenta chegar para conseguir asilo no continente europeu.

    As esculturas do Museu Atlântico ficam a 14 metros de profundidade nas águas cristalinas de Lanzarote.

    Na balsa, estão dez pessoas. Todas têm no rosto a expressão do abandono. Entre elas, há algumas crianças. Uma delas, uma menina debruçada sobre a beira do bote, olha sem esperança o horizonte. A imagem é tão forte que dispensa qualquer palavra. Exatamente o papel da arte.

Disponível em: http://conexaoplaneta.com.br. Acesso em: 22 jun. 2019 (adaptado).


Além de apresentar ao público a obra A balsa de Lampedusa, essa reportagem cumpre, paralelamente, a função de chamar a atenção para


A
a ilha de Lanzarote, localizada no arquipélago das Canárias, com vocação para o  turismo
B
as muitas vidas perdidas nas travessias marítimas em embarcações precárias ao longo dos séculos.
C
a inovação relativa à construção de um museu no fundo do mar, que só pode ser visitado por mergulhadores.
D
a construção do museu submarino como um memorial para as centenas de imigrantes mortos nas travessias pelo mar.
E
a arte como perpetuadora de episódios marcantes da humanidade que têm de ser relembrados para que não tornem a acontecer.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

HENFIL.Disponível em: https:medium.com. Acesso em: 29 out.2018(adaptado).


Nessa tirinha, produzida na década de 1970, os recursos verbais e não verbais sinalizam a finalidade de

A
reforçar a luta por direitos civis.
B
explicitar a autonomia feminina.
C
ironizar as condições de igualdade.
D
estimular a abdicação da vida social.
E
criticar as obrigações da maternidade.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Disponível em: www.deskgram.org. Acesso em: 12 dez.2018(adaptado).


A associação entre o texto verbal e as imagens da garrafa e do cão configura recurso expressivo que busca

A
estimular denúncias de maus-tratos contra animais.
B
desvincular o conceito de descarte da ideia de negligência.
C
incentivar campanhas de adoção de animais em situação de rua.
D
sensibilizar o público em relação ao abandono de animais domésticos.
E
alertar a população sobre as sanções legais acerca de uma prática criminosa.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sinhá


Se a dona se banhou

Eu não estava lá

Por Deus Nosso Senhor

Eu não olhei Sinhá

Estava lá na roça

Sou de olhar ninguém

Não tenho mais cobiça

Nem enxergo bem


Para que me pôr no tronco

Para que me aleijar

Eu juro a vosmecê

Que nunca vi Sinhá

[...]

Por que talhar meu corpo

Eu não olhei Sinhá

Para que que vosmincê

Meus olhos vai furar

Eu choro em iorubá

Mas oro por Jesus

Para que que vassuncê

Me tira a luz.


CHICO BUARQUE; JOÃO BOSCO. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2011 (fragmento).


No fragmento da letra da canção, o vocabulário empregado e a situação retratada são relevantes para o patrimônio linguístico e identitário do país, na medida em que

A
remetem à violência física e simbólica contra os povos escravizados.
B
valorizam as influências da cultura africana sobre a música nacional.
C
relativizam o sincretismo constitutivo das práticas religiosas brasileiras.
D
narram os infortúnios da relação amorosa entre membros de classes sociais diferentes.
E
problematizam as diferentes visões de mundo na sociedade durante o período colonial.
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Intenso e original, Son ofSaul retrata horror
do holocausto

    Centenas de filmes sobre o holocausto já foram produzidos em diversos países do mundo, mas nenhum é tão intenso como o húngaro Son of Saul, do estreante em longa-metragens László Nemes, vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes.

    Ao contrário da grande maioria das produções do gênero, que costuma oferecer uma variedade de informações didáticas e não raro cruza diferentes pontos de vista sobre o horror do campo de concentração, o filme acompanha apenas um personagem.

    Ele é Saul (Géza Rõhrig), um dos encarregados de conduzir as execuções de judeus como ele que, por um dia e meio, luta obsessivamente para que um menino já morto — que pode ou não ser seu filho — tenha um enterro digno e não seja simplesmente incinerado.

    O acompanhamento da jornada desse prisioneiro é no sentido mais literal que o cinema pode proporcionar: a câmera está o tempo todo com o personagem, seja por sobre seus ombros, seja com um close em primeiro plano ou em sua visão subjetiva. O que se passa ao seu redor é secundário, muitas vezes desfocado.

    Saul percorre diferentes divisões de Auschwitz à procura de um rabino que possa conduzir o enterro da criança, e por isso pouco se envolve nos planos de fuga que os companheiros tramam e, quando o faz, geralmente atrapalha. “Você abandonou os vivos para cuidar de um morto”, acusa um deles.

    Ver toda essa via crucis é por vezes duro e exige certa entrega do espectador, mas certamente é daquelas experiências cinematográficas que permanecem na cabeça por muito tempo.

    O longa já está sendo apontado como o grande favorito ao Oscar de filme estrangeiro. 8e levar a estatueta, certamente não faltará quem diga que a Academia tem uma preferência por quem aborda a 2ª Guerra. Por mais que exista uma dose de verdade na afirmação, premiar uma abordagem tão ousada e radical como Son of Saul não deixaria de ser um passo à frente dos votantes.

Carta Capital, n. 873, 22 out. 2015.

A resenha é, normalmente, um texto de base argumentativa. Na resenha do filme Son ofSaul, o trecho da sequência argumentativa que se constitui como opinião implícita é

A
“[...] do estreante em longa-metragens László Nemes, vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes”.
B
“Ele é Saul (Géza Röhrig), um dos encarregados de conduzir as execuções de judeus [...]”.
C
“[...] a câmera está o tempo todo com o personagem, seja por sobre seus ombros, seja com um close [...]".

D
“Saul percorre diferentes divisões de Auschwitz à procura de um rabino que possa conduzir o enterro da criança [...]".

E
“[...] premiar uma abordagem tão ousada e radical como Son of Saul não deixaria de ser um passo à frente dos votantes”.
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ENEM 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A volta do marido pródigo


    — Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?

    — Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]

    Lá além, Generoso cotuca Tercino:

    — [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!...

   — Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...

    — Hum...

    — Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar...

    [...]

   Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja:

    — Quem não tem brio engorda!

    — É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... — opina Sidu.

   — Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo...— diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. —“P’ra uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”.

    Seu Marra já concordou:

    — Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta!


ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.


Esse texto tem importância singular como patrimônio linguístico para a preservação da cultura nacional devido

A
à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal.
B
à referência a profissões já extintas que caracterizam a vida no campo.
C
aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade.
D
ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes coletivos.
E
às descrições de costumes regionais que desmistificam crenças e superstições.