LEIA OS SEGUINTES TEXTOS DE MACHADO DE ASSIS PARA
RESPONDER À QUESTÃO.
I.
Suave mari magno*
Lembra-me que, em certo dia,
Na rua, ao sol de verão,
Envenenado morria
Um pobre cão.
Arfava, espumava e ria,
De um riso espúrio e bufão,
Ventre e pernas sacudia
Na convulsão.
Nenhum, nenhum curioso
Passava, sem se deter,
Silencioso,
Junto ao cão que ia morrer,
Como se lhe desse gozo
Ver padecer.
Machado de Assis. Ocidentais.
*Expressão latina, retirada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a
qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turbantibus
aequora ventis/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É
agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas,
observar da terra os grandes esforços de um outro.”).
II.
Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e
que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo
na mão.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII.
III.
Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do
leito o marido:
– Que foi? perguntou ele.
– Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei?
(...)
– Sonhei que estavam matando você.
Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele,
ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma
piedade gostosa, um sentimento particular, íntimo,
profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que
o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse
angustiada, convulsa, cheia de dor e de pavor.
Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI.