Questõessobre Filosofia

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e5e30f3b-75
UECE 2021 - Filosofia

“Como se sabe , a palavra mŷthos raramente foi empregada por Heródoto. Caracterizar um lógos (narrativa) como mŷthos era para ele um meio claro de rejeitá-lo como duvidoso e inconvicente. [...] Situado em algum lugar além do que é visível, um mýthos não pode ser provado. [...] Não obstante, Heródoto sempre se refere à sua própria narrativa como lógos ou lógoi. [...] Parte de um lógos podia ser circunscrito como mŷthos e, ao mesmo tempo, o autor podia ser designado como logopoiós, ou seja, como alguém que expõe uma forma de conhecimento sem fundamento apropriado ou de impossível verificação.”

HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Trad. bras.

Sonia Lacerda et all. Brasília,Editora da UnB, 2003, p. 37-38.


Com base no que diz François Hartog, é correto afirmar que 

A
mŷthos se refere a uma narrativa improvável, inverificável, e lógos a uma narrativa ou argumento que pretende possuir fundamento.
B
a distinção entre mŷthos e lógos é arbitrária, pois não se fundamenta em nenhum uso culto da língua grega no período clássico.
C
há um processo cultural em que mŷthos e lógos se aproximam semanticamente na língua grega, terminando por se identificarem.
D
a distinção entre mŷthos e lógos não tem importância para Heródoto, sendo-lhe bem relativa, embora efetivamente existente. 
e60f4428-75
UECE 2021 - Filosofia

“Segundo Benjamin, a proletarização e a formação de massas na Alemanha de seu tempo são dois aspectos do mesmo processo. O que o fascismo faz é uma tentativa de disciplinamento dessas massas proletarizadas, evitando com isso que haja qualquer perturbação ao regime de propriedade posto. Trata-se de permitir que tais massas se expressem enquanto massas, desde que a ordem social não seja posta em xeque e que quaisquer reivindicações que toquem na estrutura social sejam contidas.”

VIEIRA, R. Modernidade e barbárie: as análises de Walter Benjamin sobre o fascismo alemão. https://www.niepmarx.blog.br/MManteriores/MM2017/anai s2017.pdf. Acessado em 17-10-2021 – Adaptado.


Conforme o trecho acima apresentado, para Walter Benjamin, o fascismo

A
se origina necessariamente das massas, quando elas se proletarizam.
B
tenta evitar a oposição das massas proletarizadas à ordem burguesa.
C
possibilita a que as massas se expressem como o que são: proletárias.
D
é a prova de que não existem mais classes sociais, mas apenas massas.
e5eef292-75
UECE 2021 - Filosofia

“Locke caracteriza como tirânico o governo que ignora as leis e se orienta apenas pela prepotência do governante. O único remédio que o povo tem contra um governo tirânico é o direito de resistir às suas ações até que se possa substituí-lo. Nesse caso, a lei da natureza, que mesmo após o estabelecimento do Estado político continua em vigor, representa uma espécie de permissão moral para a desobediência sempre que o povo entender que a ação do governante não tem em vista a preservação da sociedade.”

OTTONICAR, F. G. C. John Locke e o direito de resistência.

In: Investigação Filosófica, v. 10, nº 1, p. 75-85, 2019.


Segundo a citação acima, o direito de resistência à tirania se justificaria porque 

A
todos os direitos naturais dos indivíduos são transferidos ao pacto social.
B
os indivíduos preservam todos seus direitos naturais no pacto social.
C
a lei da natureza de autopreservação dos indivíduos vale após o pacto social.
D
o pacto inclui, na forma da lei, o direito do povo à resistência e ao tiranicídio.
e5d1d2ed-75
UECE 2021 - Filosofia

“Havia duas festas anuais nas quais se encenavam tragédias. [...] A representação era prevista e organizada sob o patrocínio do Estado, pois era um dos altos magistrados da cidade quem se incumbia de escolher os poetas e de selecionar os cidadãos ricos, encarregados de cobrir todas as despesas. [...] Consequentemente, esse espetáculo adquiriu as características de uma manifestação nacional. Esse fato explica com clareza certos aspectos da inspiração dos autores de tragédia. Eles se dirigiam sempre a um grande público, reunido numa ocasião solene: é normal que eles quisessem atingi-lo e interessá-lo. Eles escreviam na qualidade de cidadãos que se dirigiam a outros cidadãos.”

ROMILLY, J. A tragédia grega. Trad. bras. Ivo Martinazzo.

Brasília: Ed. da UNB, 1998, p. 14-15.


Essa tese de Jacqueline de Romilly (1913-2010) sobre a origem e as características da tragédia grega pode ser relacionada à tese de Jean-Pierre Vernant sobre a origem e as características da filosofia grega no seguinte: assim como a tragédia, a filosofia

A
é organizada pela polis e financiada pelos cidadãos mais ricos dela.
B
é objeto de concursos anuais previstos no calendário da polis.
C
nasce no contexto da polis, caracterizada pela igualdade entre cidadãos.
D
busca chamar a atenção dos cidadãos da polis, com temas populares.
e5da0e3e-75
UECE 2021 - Filosofia

“A moradora de rua Rosângela Sibele, que furtou R$ 21,69 em comida para alimentar os filhos, concedeu uma entrevista ao Brasil Urgente após deixar a cadeia e contou que tem ‘o sonho de ser gente’. Ela ficou 18 dias detida após o episódio e teve a prisão revogada pelo ministro Joel Ilan Paciornik, do STJ (Superior Tribunal Federal), na última quarta-feira, 13. ‘Meu grande sonho é ser gente. Eu ainda não sei o que é isso, não sei o que é ser mãe, filha, irmã’, contou ela. A mulher de 41 anos é mãe de cinco filhos e mora há dez anos nas ruas de São Paulo.”

IG DELAS. “Meu sonho é ser gente”, diz mãe que furtou comida para alimentar os filhos. Disponível em: https://delas.ig.com.br/2021-10-14/sonho-ser-gente-mae-furto-filhos.html. Acessado em 14/10/2021.


A palavra “gente” na fala dessa mulher, quando compreendida à luz da Ética de Immanuel Kant, expressa seu desejo de

A
compor a população de um país ou um Estado.
B
ter satisfeitas as suas carências alimentares.
C
ser solta da cadeia e ficar livre de penalidade.
D
ser moralmente reconhecida em sua dignidade.
e5f2f709-75
UECE 2021 - Filosofia

“Como as pessoas que infringem as leis parecem injustas e as cumpridoras da lei parecem justas, evidentemente todos os atos conforme à lei são justos no sentido de as leis visarem ao interesse comum a todas as pessoas, de tal forma que chamamos justos os atos que tendem a produzir e preservar a felicidade para a comunidade política; e a lei determina igualmente que ajamos como homens corajosos, como homens moderados, como homens amáveis e assim por diante em relação às outras formas de virtudes, impondo a prática de certos atos e proibindo outros.” 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, 1129b. Trad. bras. Mario da Gama Kury. – 4 ed. Brasília: Editora da UnB, 2001 – Adaptado.


Segundo a citação acima, é correto concluir que

A
quaisquer leis existentes são justas e contribuem para a felicidade comum.
B
as leis justas são aquelas que obrigam aos atos justos e proíbem os injustos.
C
mesmo quando injustas, as leis obrigam às virtudes e proíbem os vícios.
D
as leis visam aos interesses comuns, não aos atos justos dos indivíduos.
e5f95bec-75
UECE 2021 - Filosofia

“Sto. Tomás [de Aquino], sempre fiel às legítimas tradições, afirma a distinção entre direito natural e direito positivo, em sólido artigo da Suma Teológica (II-II 57, 2). O termo direito aplica-se aos dois direitos analogicamente, alicerçando Santo Tomás a sua distinção em Aristóteles. Haverá um direito proveniente ‘da própria natureza da coisa’, direito natural, que não se confunde com as normas da justiça firmadas entre duas pessoas, ou estabelecidas pela autoridade pública (direito positivo). Enquanto o primeiro direito independe da vontade humana, o segundo nasce dela por uma convenção estabelecida.”

MOURA, Odilão, D. A Doutrina do Direito Natural em Tomás de Aquino. In: Veritas, Porto Alegre, vol. 40, n. 159, setembro, 1995, p. 484.


Com base na citação acima, é correto definir o Direito Natural, em Tomás de Aquino, como 

A
o conjunto de leis divinas revelado pelos profetas.
B
o direito racional em si mesmo, que independe das leis civis.
C
as leis que regem os fenômenos naturais, mas não os civis.
D
a essência em comum entre as diversas legislações civis.
d827f8b2-73
USP 2021 - Filosofia

No texto do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty é estabelecida uma conexão entre as relações sociais e a racionalidade dos indivíduos:

A sociedade humana não é uma comunidade de espíritos racionais, só se pode compreendê-la assim nos países favorecidos, em que o equilíbrio vital e econômico foi obtido localmente e por certo tempo.

Maurice Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção, p.89. 


Qual sentença, se tomada como verdadeira, reforça a posição exprimida pelo filósofo no trecho? 

A
A racionalidade é uma potência espiritual que se impõe sobre as circunstâncias históricas.
B
O equilíbrio vital e econômico é uma força irracional que se contrapõe aos espíritos racionais.
C
Nos países favorecidos, as pessoas são naturalmente mais racionais.
D
A racionalidade das relações sociais depende da estabilidade de circunstâncias históricas. 
E
Os espíritos racionais são responsáveis pelo equilíbrio vital e econômico dos países favorecidos.  
a0974837-67
UFPR 2021 - Filosofia

Considere o seguinte texto:

Não vos deixeis enganar! É vossa curta vista, não a essência das coisas, que vos faz acreditar ver terra firme onde quer que seja no mar do vir-a-ser e perecer. Usais nomes das coisas, como se estas tivessem uma duração fixa: mas mesmo o rio, em que entrais pela segunda vez, não é o mesmo da primeira vez.

(HERÁCLITO DE ÉFESO. Coleção Os Pensadores. Vol. I. São Paulo: Victor Civita, 1973, p. 109.)

Com base no texto e no conhecimento sobre o pensamento de Heráclito de Éfeso, considere as seguintes afirmativas:
1. Em todas as coisas, tem-se a constante transformação e não realidades fixas.
2. Os olhos e os ouvidos são más testemunhas para os homens.
3. A ideia de que tudo se transforma diz respeito ao mundo físico, sendo que em sua essência as coisas não se alteram.
4. O vir-a-ser e o perecer conduzem as pessoas ao engano.

Assinale a alternativa correta.

A
Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
B
Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
C
Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
D
Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
E
As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.
a09a9858-67
UFPR 2021 - Filosofia

Em A Condição Humana, Hannah Arendt observa que o pensamento político dos gregos antigos estava baseado na distinção bem demarcada entre a esfera pública (a Cidade) e a privada (a família), e que no mundo moderno essa distinção deixou de ser clara. Assinale a alternativa que, de acordo com a autora, explica essa mudança.

A
Os assuntos econômicos passaram a ser discutidos no espaço público.
B
Já não mais se discutem os assuntos públicos.
C
A família perdeu importância.
D
Não há mais privacidade.
E
Todos passaram a ter acesso à esfera pública.
a0949145-67
UFPR 2021 - Filosofia

O livro X da obra A República é, em grande parte, dedicado aos poetas em geral e a Homero em particular. Tendo em vista os argumentos desenvolvidos nesse livro, é correto afirmar que, para Platão:

A
o trabalho dos poetas expressa a própria ideia de beleza.
B
os poetas imaginam coisas que não existem no campo das ideias.
C
a poesia é útil para a educação dos jovens, em especial por seu caráter lúdico.
D
a poesia é uma forma de imitação que não revela um bom conhecimento do que imita.
E
a poesia é a forma de conhecimento que mais se aproxima das ideias.
a091188b-67
UFPR 2021 - Filosofia

Na introdução ao Ensaio sobre o entendimento humano, John Locke declara que nessa obra ele pretende investigar “a origem, a certeza e a extensão do conhecimento humano, juntamente com as bases e graus da crença, opinião e assentimento”.

(LOCKE, John. Coleção Os Pensadores. Vol. XVIII. São Paulo: Victor Civita, 1973. p. 145.)

Com base nessa citação e na obra de que foi retirada, é correto afirmar que essa investigação: 

A
levará o entendimento a ter certeza sobre seus conteúdos.
B
levará o entendimento a estender os seus limites.
C
requer o exame dos processos físicos pelos quais o entendimento recebe suas ideias.
D
requer o abandono das opiniões recebidas.
E
busca critérios de verdade.
acf80511-57
ENEM 2021 - Filosofia

    A filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica; o tronco, a física, e os ramos que saem do tronco são todas as outras ciências, que se reduzem a três principais: a medicina, a mecânica e a moral, entendendo por moral a mais elevada e a mais perfeita porque pressupõe um saber integral das outras ciências, e é o último grau da sabedoria.

DESCARTES, R. Princípios da filosofia. Lisboa: Edições 70, 1997 (adaptado).

Essa construção alegórica de Descartes, acerca da condição epistemológica da filosofia, tem como objetivo

A
sustentar a unidade essencial do conhecimento.
B
refutar o elemento fundamental das crenças.
C
impulsionar o pensamento especulativo.
D
recepcionar o método experimental.
E
incentivar a suspensão dos juízos.
acea3ffb-57
ENEM 2021 - Filosofia

    Sócrates: “Quem não sabe o que uma coisa é, como poderia saber de que tipo de coisa ela é? Ou te parece ser possível alguém que não conhece absolutamente quem é Mênon, esse alguém saber se ele é belo, se é rico e ainda se é nobre? Parece-te ser isso possível? Assim, Mênon, que coisa afirmas ser a virtude?”.

PLATÃO. Mênon. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2001 (adaptado).

A atitude apresentada na interlocução do filósofo com Mênon é um exemplo da utilização do(a)

A
escrita epistolar.
B
método dialético.
C
linguagem trágica.
D
explicação fisicalista.
E
suspensão judicativa.
acfbd706-57
ENEM 2021 - Filosofia

    Minha fórmula para o que há de grande no indivíduo é amor fati: nada desejar além daquilo que é, nem diante de si, nem atrás de si, nem nos séculos dos séculos. Não se contentar em suportar o inelutável, e ainda menos dissimulá-lo, mas amá-lo.

NIETZSCHE apud FERRY, L. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2010 (adaptado).

Essa fórmula indicada por Nietzsche consiste em uma crítica à tradição cristã que

A
combate as práticas sociais de cunho afetivo.
B
impede o avanço científico no contexto moderno.
C
associa os cultos pagãos à sacralização da natureza.
D
condena os modelos filosóficos da Antiguidade Clássica.
E
consagra a realização humana ao campo transcendental.
006f46d3-58
UECE 2021 - Filosofia

Entre 16 e 18 de setembro de 1982, ocorreu um massacre de palestinos e libaneses em dois campos de refugiados situados a Oeste de Beirute (capital do Líbano), chamados Sabra e Chatila. Na época, o Líbano estava sob ocupação israelense. Em 22 de setembro do mesmo ano, o filósofo judeu brasileiro Maurício Tragtenberg (1929-1998) publicou um artigo de opinião em que afirma:


“Deu-se o massacre dos palestinos dos campos de Sabra e Chatila por obra dos assassinos chefiados por Cel. Haddad, com conivência e participação [do Exército de Israel], isso após a morte do traficante de haxixe [Bashir] Gemayel, novo ‘Quisling’ [traidor] imposto pelas tropas de ocupação. Por tudo isso, ser fiel à tradição judaica é condenar mais este genocídio praticado contra o povo palestino. É necessário acabar de vez com o etnocentrismo que toma a forma de judeu-centrismo, onde o massacre de judeus brancos por brancos europeus tem um status diferente do massacre dos armênios pelos turcos, dos negros africanos pelos traficantes de escravos, dos chineses na Indonésia. Assim, Auschwitz é elevado a potência metafísica. Sou um dos últimos a minimizar as atrocidades cometidas em Auschwitz, porém, as lágrimas de outros povos não contam?”


TRAGTENBERG, M. Menachem Begin visto por Einstein, H.

Arendt e N. Goldman. Folha de São Paulo, 22/09/1982.


Acerca do conceito moderno dos direitos humanos, é implícito à concepção de M. Tragtenberg que

A
há uma universalidade nos direitos humanos, independentemente de etnia e cultura.
B
o massacre de brancos europeus tem um status diferente de outros massacres.
C
a tradição judaica tem uma concepção etnocêntrica sobre os direitos humanos.
D
o genocídio de judeus pelos nazistas em Auschwitz tem um significado metafísico.
007288a0-58
UECE 2021 - Filosofia

Neste ano, comemoramos o centenário de nascimento do Patrono da Educação Brasileira, o Professor Paulo Freire (1921-1997). Atente para a seguinte passagem de sua autoria:


“[...] a educação é uma forma de intervenção no mundo [...], que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento. [...] não poderia ser a educação só uma ou só outra dessas coisas. [...] É um erro decretá-la como tarefa apenas reprodutora da ideologia dominante como erro tomá-la como uma força de desocultação da realidade, a atuar livremente, sem obstáculos e duras dificuldades”.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários

à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 98-99. – Adaptado.


No texto acima, o fato de a educação ser concebida como uma prática que une em si reprodução e desmascaramento da ideologia dominante, filosoficamente, manifesta uma

A
incoerência, que desobedece ao princípio lógico de não contradição.
B
posição dialética, que concebe os processos sociais como contraditórios.
C
concepção mecanicista, em que forças exteriores se opõem e se chocam.
D
ideação moral subjetiva, que atua no sentido contrário à realidade dada.
006bc320-58
UECE 2021 - Filosofia

Leia com atenção o seguinte diálogo entre Galileu e o garoto Andrea, personagens da peça Vida de Galileu (1938-39), do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956):


“GALILEU – Você entendeu o que eu lhe expliquei ontem?

ANDREA – O quê? Aquela história de Copérnico e da rotação da Terra?

GALILEU – É.

ANDREA – Por que o senhor quer que eu entenda? É muito difícil, e eu ainda não fiz onze anos, vou fazer em outubro.

GALILEU – Mas eu quero que você entenda. É para que se entendam essas coisas que eu trabalho e compro livros caros em vez de pagar o leiteiro.

ANDREA – Mas eu vejo que o Sol de noite não está onde estava de manhã. Quer dizer que ele não pode ficar parado! Nunca, jamais...

GALILEU – Você vê?! O que você vê? Você não vê nada! Você arregala os olhos, mas arregalar os olhos não é ver.

Galileu põe a bacia de ferro no centro do quarto e diz:

GALILEU – Bem, isto é o Sol (aponta para a bacia).

Sente-se aí (aponta para a cadeira).

Andrea se senta na única cadeira, tendo a bacia à sua esquerda; Galileu fica de pé, atrás dele, e pergunta:

GALILEU – Onde está o Sol, à direita ou à esquerda?

ANDREA – À esquerda.

GALILEU – Como fazer para ele passar para a direita?

ANDREA – O senhor carrega a bacia para a direita, claro.

GALILEU – E não tem outro jeito?

Galileu levanta Andrea e a cadeira do chão, coloca-os do outro lado da bacia e pergunta:

GALILEU – Agora, onde está o Sol?

ANDREA – À direita.

GALILEU – E ele se moveu?

ANDREA – Ele, não.

GALILEU – O que é que se moveu?

ANDREA – Eu.

GALILEU (gritando) – Errado, seu desatencioso! A cadeira! A cadeira se moveu!

ANDREA – Mas eu com ela!

GALILEU – Claro, a cadeira é a Terra. Você está em cima dela.”


BRECHT, B. A vida de Galileu. Trad. Roberto Schwartz. In: Bertolt Brecht. Teatro completo, vol. 6.– 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. Adaptado.


Com base no diálogo acima, é correto afirmar que, para o personagem Galileu, para compreender os fenômenos astronômicos acima discutidos, 

A
não é necessário observá-los, pois é suficiente raciocinar sobre eles.
B
não é necessário raciocinar sobre eles, basta melhor observá-los.
C
é necessário observá-los, com base em raciocínios e cálculos corretos.
D
é necessário ler criticamente o que sobre eles diz a tradição filosófica.
0068aace-58
UECE 2021 - Filosofia

“A teologia, para mim, é uma grandeza cultural na história da cultura do Ocidente. Creio que é uma grandeza constitutiva da tradição, sobretudo, filosófica: o termo ‘teologia’ nasceu da filosofia, é um termo criado por Platão. [...] Quando a filosofia ultrapassa o domínio daquilo que, de alguma maneira, é diretamente acessível à experiência e controlado por ela, entra neste domínio que Platão chama de ‘suprassensível’, inteligível, ou como quer que seja. Este é, para mim, um domínio no qual o problema teológico se apresenta inevitavelmente, porque se apresenta o problema da ordem das realidades e toda ordem supõe um princípio ordenador, tornando-se então, de alguma maneira, uma teologia.”

VAZ, Henrique Claudio de Lima. Filosofia e forma da ação.

Entrevista a Cadernos de filosofia alemã, 2, p. 77-102, 1997.


Na passagem acima citada, o filósofo brasileiro H. C. de Lima Vaz (1921-2002) apresenta uma interpretação do pensamento filosófico como uma teologia. Recorrendo à filosofia de Platão para explicar essa sua interpretação, ele termina por nos oferecer uma interpretação da própria teoria platônica das ideias, que seria uma espécie de teologia, porque 

A
mostra como os deuses gregos não são corpóreos, mas espirituais.
B
é a base da posterior teologia revelada dos pais da Igreja cristã.
C
apresenta os princípios inteligíveis ordenadores da realidade natural e ética.
D
afirma que não existe realidade sensível, mas apenas a suprassensível.
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UECE 2021 - Filosofia

“Os grandes cientistas de Tales a Demócrito e Anaxágoras costumam ser descritos nos livros de história ou de filosofia como ‘pré-socráticos’, como se sua principal função fosse sustentar a fortaleza filosófica até o advento de Sócrates, Platão e Aristóteles, e talvez influenciá-los um pouco. Na verdade, os antigos jônios representam uma tradição diferente e bastante questionadora, muito mais compatível com a ciência moderna.”


SAGAN, Carl. A espinha dorsal da noite. In: Cosmos. Trad. bras. Paulo Seiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.


É implícita a essa passagem de Carl Sagan (1934- 1996) acerca do surgimento e da história da filosofia grega a visão de que

A
depois de Sócrates os filósofos não estudaram a natureza.
B
Sócrates rompeu com os métodos dos filósofos jônicos.
C
os pensadores anteriores a Sócrates não eram filósofos.
D
Platão e Aristóteles não conheceram teses pré-socráticas.