"Se um homem muito rico e empreendedor, pretendendo comprar uma boa fazenda, leva emprestada de um vizinho uma parte do capital, por que razão aquele que empresta não poderá tirar algum lucro do rendimento, até que haja recebido o dinheiro de volta?"

(Calvino, citado por Jean Delumeau. Nascimento e
afirmação da Reforma. São Paulo: Pioneira-Edusp, 1989, p. 304)

Segundo o autor, a idéia central do texto está associada

ao fato dos negócios capitalistas dos burgueses serem considerados um grave pecado, por isso, emprestar dinheiro a juro era considerado usura e deveria ser punida.

ao sucesso econômico dos banqueiros, comerciantes e donos de terras, que podiam desperdiçar dinheiro com o luxo e arrendar terras a um alto custo.

à falta de estímulo ao crescimento do capitalismo industrial, tendo em vista que o trabalho e a busca de lucros não eram valorizados.

à criação de uma sociedade comunista de camponeses e artesãos: tudo, inclusive a terra, seria de todos, que depois repartiriam de forma igualitária o produto do seu trabalho.

à defesa do trabalho duro e à acumulação de capital, pois era assim que a burguesia manifestava sua predestinação.

Gabarito comentado

Paula DelgadoMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: E

Tema central: o trecho remete à ética protestante (especialmente calvinista) que associa trabalho diligente e acumulação de capital à demonstração de vocação/predestinação. Conhecimento-chave: relação entre Reforma protestante e o surgimento de atitudes favoráveis ao empreendimento e ao acúmulo de riqueza, tema clássico em Max Weber.

Resumo teórico (progressivo e objetivo):

- Calvinismo: ideia de predestinação (eleitos x não eleitos). Sinais da eleição podiam ser o sucesso profissional e a conduta ascética.

- Resultado social: valorização do trabalho como vocação e incentivo à poupança e reinvestimento, evitando gastos ostentatórios — traços que Weber (The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, 1905) relaciona ao espírito capitalista.

- Diferença histórica: a visão medieval católica condenava muitas práticas de usura; a Reforma reavaliou certas práticas econômicas, tornando legítima a busca por lucro dentro de limites morais.

Justificativa da alternativa E: A leitura do trecho — que admite obter lucro e vincula êxito econômico a atitudes empreendedoras — encaixa-se na defesa protestante do trabalho duro e da acumulação como expressão de vocação/predestinação. Assim, a alternativa E sintetiza corretamente a ideia central.

Análise das alternativas incorretas:

A — incorreta: descreve a posição medieval católica contra usura; não é a visão calvinista sugerida no trecho.

B — incorreta: afirma que a burguesia desperdiçava em luxo; o texto e a tradição calvinista enfatizam o oposto — frugalidade e reinvestimento.

C — incorreta: sustenta que trabalho e lucro não eram valorizados; contrariamente, eram valorizados e vistos como sinais de eleição.

D — incorreta: refere-se a um projeto comunista/igualitário, distante das ideias protestantes sobre propriedade e vocação.

Dica de interpretação para concursos:

- Identifique termos-pista: predestinação, trabalho duro, acumulação. Relacione-os rapidamente à ética protestante / Weber.

- Desconfie de alternativas que invertam a relação (por ex., dizer que a Reforma estimulava luxo ou rejeitava o lucro).

Fontes sugeridas: Max Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism (1905); John Calvin, Institutes of the Christian Religion; Jean Delumeau (citado no enunciado).

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