O Texto 5 faz menção a garimpos. Durante o século
XVIII, o território goiano experimentou uma notável
ascensão econômica em decorrência do encontro e da extração
de ouro. Acerca dos condicionantes da ocorrência
de ouro em Goiás, bem como de seus desdobramentos,
analise as afirmativas a seguir:
I - Ao longo do Século XVIII, os locais de maior probabilidade
de se encontrar ouro eram as áreas de nascentes
dos principais rios.
II - A historiografia de Goiás registra que muitos dos
aglomerados urbanos surgiram próximos aos rios, em
decorrência da associação com o ouro.
III - Após o declínio na produção de ouro, a tendência
observada foi o surgimento de aglomerados urbanos nas
margens das rodovias que passavam por Goiás.
IV - As cidades que surgiram em decorrência da economia
aurífera experimentam franca ascensão até os dias
atuais.
Em relação às proposições analisadas, assinale a única
alternativa cujos itens estão todos corretos:
TEXTO 5
É com certa sabedoria que se diz: pelos olhos
se conhece uma pessoa. Bem, há olhares de todos os
tipos — dos dissimulados aos da cobiça, seja pelo vil
metal ou pelo sexo.
Garimpeiro se conhece pelos olhos. Olhos de
febre, que flamejam e reluzem. Há, em suas pupilas,
o ouro. O brilho dourado tatua a íris. Trata-se apenas
de um reflexo de sua alma e daquilo que corre em
suas veias. É um vírus. A princípio, um sonho distante,
mas, ao correr dos dias, torna-se uma angustiante
busca. Na primeira vez que o ouro fagulha na sua
frente, na bateia, toda a alma se contamina e o vírus
se transforma em doença incurável.
Todos, no garimpo, têm histórias semelhantes.
Têm família, filhos, empregos em suas
cidades, nos distantes estados, mas, de repente,
espalha-se a notícia do ouro. Então, largam tudo,
vendem a roupa do corpo e lá se vão. Caçar o rastro
do ouro é a sina. Nos olhos, a febre — um brilho
dourado doentio. Sim, é fácil conhecer um garimpeiro.
Todos sabem que, no garimpo, não é lugar
para se viver. Mas ninguém abandona o seu posto.
Suor, lama, pedregulhos, pepitas douradas, cansaço
— é a vida que até o diabo rejeita.
Por onde passam, o rastro da destruição. A Amazônia é nossa. Tratores e retroescavadeiras derrubam
e limpam a floresta; as dragas chegam, os
rios se contaminam rapidamente de mercúrio. Quem
pode mais chora menos. Na trilha do brilho dourado,
nada se preserva. Ai daqueles que levantarem alguma
voz... No dia seguinte, o corpo é encontrado no meio
da selva, um bom prato aos bichos.
(GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville: Sucesso
Pocket, 2014. p. 5-6. Adaptado.)
TEXTO 5
É com certa sabedoria que se diz: pelos olhos se conhece uma pessoa. Bem, há olhares de todos os tipos — dos dissimulados aos da cobiça, seja pelo vil metal ou pelo sexo.
Garimpeiro se conhece pelos olhos. Olhos de febre, que flamejam e reluzem. Há, em suas pupilas, o ouro. O brilho dourado tatua a íris. Trata-se apenas de um reflexo de sua alma e daquilo que corre em suas veias. É um vírus. A princípio, um sonho distante, mas, ao correr dos dias, torna-se uma angustiante busca. Na primeira vez que o ouro fagulha na sua frente, na bateia, toda a alma se contamina e o vírus se transforma em doença incurável.
Todos, no garimpo, têm histórias semelhantes. Têm família, filhos, empregos em suas cidades, nos distantes estados, mas, de repente, espalha-se a notícia do ouro. Então, largam tudo, vendem a roupa do corpo e lá se vão. Caçar o rastro do ouro é a sina. Nos olhos, a febre — um brilho dourado doentio. Sim, é fácil conhecer um garimpeiro.
Todos sabem que, no garimpo, não é lugar para se viver. Mas ninguém abandona o seu posto. Suor, lama, pedregulhos, pepitas douradas, cansaço — é a vida que até o diabo rejeita.
Por onde passam, o rastro da destruição. A Amazônia é nossa. Tratores e retroescavadeiras derrubam e limpam a floresta; as dragas chegam, os rios se contaminam rapidamente de mercúrio. Quem pode mais chora menos. Na trilha do brilho dourado, nada se preserva. Ai daqueles que levantarem alguma voz... No dia seguinte, o corpo é encontrado no meio da selva, um bom prato aos bichos.
(GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville: Sucesso
Pocket, 2014. p. 5-6. Adaptado.)
Gabarito comentado
Resposta correta: C — II e III
Tema central: a questão trata dos condicionantes geográficos e dos desdobramentos sociais do ciclo do ouro em Goiás no século XVIII — onde o ouro se concentra (geologia e hidrografia) e como isso influenciou a formação e a evolução dos aglomerados humanos.
Resumo teórico sucinto: o ouro ocorre em jazidas primárias (veios em rochas antigas) e em depósitos secundários ou aluvionares (concentrações em leitos, bancos e meandros de rios). Nos garimpos, a água é essencial para a lavagem (bateia, lavadeiras) e a concentração do metal, por isso a atividade se instala preferencialmente ao longo dos cursos d’água e em áreas onde o intemperismo e a erosão liberaram o ouro das rochas matrizes. Fontes técnicas: CPRM (Serviço Geológico do Brasil) sobre depósitos auríferos; estudos de história regional e relatório do IBGE sobre ocupação.
Justificativa da alternativa C (II e III): - II (Verdadeiro): muitos arraiais e vilas surgiram junto a rios porque a extração manual e os lavradores precisavam de água para bateria e para transporte; por isso a urbanização do ciclo aurífero tem forte relação com a hidrografia local. - III (Verdadeiro): no pós-declínio aurífero e com a modernização (século XX), novas dinâmicas promoveram a urbanização ao longo das rodovias — rodovias como eixos econômicos e de migração em Goiás favoreceram o surgimento e crescimento de núcleos urbanos em margens de estradas.
Análise dos itens incorretos: - I (Falso): afirmar que “maior probabilidade de encontrar ouro eram as áreas de nascentes” é impreciso. Nascentes são trechos de cabeceira com pouco transporte de sedimentos; os depósitos aluvionares rentáveis concentram-se em trechos de leito, bancos, meandros e terraços fluviais onde o ouro é retido. - IV (Falso): nem todas as cidades fundadas pela economia aurífera mantiveram ascensão contínua. Muitas conheceram declínio, estagnação ou se transformaram em centros históricos; a afirmação absoluta “franca ascensão até os dias atuais” generaliza equivocadamente.
Dicas de prova: desconfie de enunciados absolutos (sempre, todas); diferencie jazida primária de depósito aluvionar; relacione necessidades técnicas da mineração (água, transporte) com a localização dos arraiais; conecte mudança econômica (declínio do ouro) a novas dinâmicas de ocupação (rodovias, agronegócio).
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