Questão c99d83e1-ba
Prova:UERJ 2011
Disciplina:Geografia
Assunto:Geografia Econômica

Quando os auditores do Ministério do Trabalho entraram na casa de paredes descascadas num bairro residencial da capital paulista, parecia improvável que dali sairiam peças costuradas para uma das maiores redes de varejo do país. Não fossem as etiquetas da loja coladas aos casacos, seria difícil acreditar que, através de uma empresa terceirizada, a rede pagava 20 centavos por peça a imigrantes bolivianos que costuravam das 8 da manhã às 10 da noite. Os 16 trabalhadores suavam em dois cômodos sem janelas de 6 metros quadrados cada um. Costurando casacos da marca da rede, havia dois menores de idade e dois jovens que completaram 18 anos na oficina. Adaptado de Época, 04/04/2011 A comparação entre modelos produtivos permite compreender a organização do modo de produção capitalista a cada momento de sua história. Contudo, é comum verificar a coexistência de características de modelos produtivos de épocas diferentes. Na situação descrita na reportagem, identifica-se o seguinte par de características de modelos distintos do capitalismo:Quando os auditores do Ministério do Trabalho entraram na casa de paredes descascadas num bairro residencial da capital paulista, parecia improvável que dali sairiam peças costuradas para uma das maiores redes de varejo do país. Não fossem as etiquetas da loja coladas aos casacos, seria difícil acreditar que, através de uma empresa terceirizada, a rede pagava 20 centavos por peça a imigrantes bolivianos que costuravam das 8 da manhã às 10 da noite. Os 16 trabalhadores suavam em dois cômodos sem janelas de 6 metros quadrados cada um. Costurando casacos da marca da rede, havia dois menores de idade e dois jovens que completaram 18 anos na oficina.

Adaptado de Época, 04/04/2011

A comparação entre modelos produtivos permite compreender a organização do modo de produção capitalista a cada momento de sua história. Contudo, é comum verificar a coexistência de características de modelos produtivos de épocas diferentes.

Na situação descrita na reportagem, identifica-se o seguinte par de características de modelos distintos do capitalismo:

A
organização fabril do taylorismo – legislação social fordista
B
nível de tecnologia do neofordismo – perfil artesanal manchesteriano
C
estratégia empresarial do toyotismo – relação de trabalho pré-fordista
D
regulação estatal do pós-fordismo – padrão técnico sistêmico-flexível

Gabarito comentado

P
Paula DelgadoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: C

Tema central: organização do trabalho e modelos produtivos do capitalismo (fordismo, toyotismo, relações pré-fordistas). É importante identificar elementos da estratégia empresarial (como terceirização, just‑in‑time, flexibilidade) e o tipo de relação de trabalho (oficinas caseiras, trabalho por peça, crianças, jornada longa).

Resumo teórico (claro e progressivo): - Fordismo: produção em massa, linha de montagem, padronização e salários relativamente estáveis; expansão da regulação trabalhista (ex.: CLT no Brasil). - Taylorismo: racionalização do trabalho, divisão técnica e fragmentação das tarefas. - Toyotismo (Lean Production): descentralização produtiva, flexibilidade, terceirização de fornecedores, ênfase em redução de estoques e resposta rápida à demanda (Womack, Jones & Roos, 1990). - Relações pré-fordistas: produção doméstica/artesanal, trabalho por peça, ausência de proteção social e jornadas extensas.

Por que a alternativa C é correta: a reportagem mostra uma grande empresa usando terceirização e cadeia de fornecimento para obter produtos baratos — traços da estratégia toyotista (flexibilidade e dispersão de fornecedores). Porém, a produção efetiva ocorre em oficinas domésticas, com pagamento por peça, jornadas longas e trabalho infantil — características da relação pré-fordista. A combinação entre estratégia corporativa moderna e formas de trabalho arcaicas é exatamente o que a alternativa C descreve.

Análise das alternativas incorretas: A — organização fabril do taylorismo – legislação social fordista: contraditório com o caso; taylorismo/fordismo implicam fábrica, padronização e proteção trabalhista — o texto mostra precariedade e ausência de proteção. B — nível de tecnologia do neofordismo – perfil artesanal manchesteriano: “neofordismo” não corresponde claramente e “manchesteriano” refere‑se à revolução industrial britânica; combinação inadequada ao contexto de terceirização moderna + trabalho doméstico. D — regulação estatal do pós-fordismo – padrão técnico sistêmico‑flexível: o enunciado não indica regulação estatal protetiva; pós‑fordismo/sistema flexível seria melhor associado à modernização dos processos, não à exploração doméstica descrita.

Fontes úteis: Womack, Jones & Roos (1990) — The Machine That Changed the World; Piore & Sabel (1984) — The Second Industrial Divide; CLT (histórico da regulação trabalhista brasileira).

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