A grande diferença entre a direita fascista e não fascista era que o fascismo existia mobilizando as
massas de baixo para cima. Pertencia essencialmente à era da política democrática e popular que os
reacionários tradicionais deploravam e que os defensores do “Estado orgânico” tentavam contornar. O
fascismo rejubilava-se na mobilização das massas, e mantinha-a simbolicamente na forma de teatro
público – os comícios de Nuremberg, as massas de piazza Venezia assistindo aos gestos de Mussolini lá
em cima da sacada – mesmo quando chegava ao poder; como também faziam os movimentos comunistas.
Os fascistas eram os revolucionários da contra-revolução: em sua retórica, em seu apelo aos que se
consideravam vítimas da sociedade, em sua convocação a uma total transformação da sociedade, e até
mesmo em sua deliberada adaptação dos símbolos e nomes dos revolucionários sociais, tão óbvia no
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores de Hitler, com sua bandeira vermelha (modificada) e sua
imediata instituição do Primeiro de Maio dos comunistas como feriado oficial em 1933.
HOBSBAWM, E. A era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1998,
598 p., p. 121.
Com relação à ideia global do TEXTO e a partir de seus conhecimentos sobre as ideologias políticas
do século XX, é CORRETO afirmar que
Gabarito comentado
Resposta correta: B
Tema central: o enunciado explora a natureza do fascismo no século XX — sobretudo sua capacidade de mobilizar massas e sua postura como uma forma de contrarrevolução que usa linguagens e símbolos revolucionários para chegar ao poder.
Resumo teórico progressivo (essencial): o fascismo é uma ideologia autoritária e nacionalista que rejeita o liberalismo parlamentar e o socialismo marxista. Caracteriza-se pela centralidade do líder, uso extensivo de propaganda de massas (rallies, rádio, símbolos), militarização da política e apelo a emoções coletivas. Embora se apresente como revolucionário, sua função histórica costuma ser restauradora ou contrarrevolucionária, reorganizando a sociedade em benefício de elites e do Estado autoritário (ver Hobsbawm; Roger Griffin; Stanley G. Payne).
Fontes recomendadas: HOBSBAWM, E. A Era dos Extremos; GRIFFIN, R. The Nature of Fascism; PAYNE, S. A History of Fascism; ARENDT, H. The Origins of Totalitarianism.
Justificativa da alternativa correta (B): o texto destaca que o fascismo "rejubilava-se na mobilização das massas" e era "os revolucionários da contra‑revolução", usando símbolos e propaganda (comícios, bandeiras, feriados). Assim, B expressa com precisão que os fascistas foram contrarrevolucionários que conquistaram apoio popular por meio de símbolos e de uma potente máquina de propaganda — exatamente o argumento de Hobsbawm citado.
Análise das alternativas incorretas:
A — incorreta: afirma que os fascistas buscavam proteger as massas do capitalismo e do comunismo. Na prática, o fascismo atacou o comunismo e reteve alianças com setores capitalistas; não foi projeto de proteção das massas em termos sociais igual ao socialismo.
C — incorreta: reduz a perda de terreno do liberalismo apenas ao uso da propaganda. A crise econômica, insatisfação social, humilhações pós‑guerra e fraquezas institucionais também explicam avanços autoritários — a propaganda ajudou, mas não é causa única.
D — incorreta: nazismo e socialismo (marxista) são ideologias opostas — o nazismo é de extrema-direita nacionalista e racial; o socialismo soviético é uma experiência comunista de esquerda. Confundir é erro conceitual.
E — incorreta: o uso de símbolos ou retórica trabalhista pelos nazistas foi tática para atrair apoiadores; isso não os transforma em ideologia de esquerda. A essência do nazismo é antimarxista e hierárquica.
Estratégia de prova: busque no enunciado palavras-chave (mobilização das massas; contra‑revolução; propaganda). Desconfie de alternativas que confundem tática retórica com identidade ideológica.
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