Questão a14a0566-d7
Prova:UEM 2010
Disciplina:Geografia
Assunto:Geografia Econômica

As singularidades do povo brasileiro, como a cordialidade, a criatividade e a tolerância, listadas no texto acima, fizeram alguns teóricos do Estado concluir que o processo de formação do Brasil se deu sem que ocorresse distinção nítida entre as esferas pública e privada.

Leia o texto a seguir.
“Os mais velhos lembram-se muito bem, mas os mais moços podem acreditar: entre 1950 e 1979, a sensação dos brasileiros, ou de grande parte dos brasileiros, era a de que faltava dar uns poucos passos para finalmente nos tornarmos uma nação moderna. Esse alegre otimismo, só contrariado em alguns rápidos momentos, foi mudando a sua forma. Na década de 50, alguns imaginavam até que estaríamos assistindo ao nascimento de uma nova civilização nos trópicos, que combinava a incorporação das conquistas materiais do capitalismo com a persistência dos traços de caráter que nos singularizavam como povo: a cordialidade, a criatividade, a tolerância. De 1967 em diante, a visão de progresso vai assumindo a nova forma de uma crença na modernização, isto é, de nosso acesso iminente ao ‘Primeiro Mundo’.” (NOVAIS, F. A.; MELLO, J. M. C. de. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna. In: SCHWARCZ, L. M. (Org.) História da vida privada no Brasil. v.4. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 560).

Considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre a formação e as transformações do Estado Brasileiro, entre 1950 e 1979, assinale o que for correto. 

C
Certo
E
Errado

Gabarito comentado

P
Paula DelgadoMonitor do Qconcursos

Resposta: C — certo

Tema central: a questão relaciona traços culturais atribuídos ao “povo brasileiro” (cordialidade, criatividade, tolerância) à ideia de que, historicamente, no Brasil houve fraca separação entre as esferas pública e privada — isto é, uma tendência ao patrimonialismo e ao personalismo nas relações políticas e administrativas.

Resumo teórico (claro e progressivo):

- Patrimonialismo (conceito de Max Weber): sistema em que o poder público se organiza segundo relações pessoais e familiares, sem clara distinção entre bens e autoridade privada e pública.

- Na interpretação clássica da formação brasileira, autores como Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) descrevem o “homem cordial” e a prevalência de laços pessoais nas relações sociais e políticas, o que facilita a entrada do privado no espaço público.

- Raymundo Faoro (Os Donos do Poder) e estudos sobre coronelismo demonstram como práticas patrimonialistas e clientelistas minaram a institucionalização do Estado moderno no Brasil, sobretudo nas primeiras décadas da República, efeito ainda percebido em meados do século XX.

Justificativa do gabarito (por que C é correto):

O enunciado afirma que certas singularidades culturais levaram teóricos a concluir que a formação do Brasil ocorreu sem distinção nítida entre público e privado. Essa conclusão é consistente com a tradição interpretativa da historiografia e da ciência política brasileira: a noção de cordialidade e de relações pessoais explica a persistência de práticas patrimonialistas, clientelistas e de personalismo que confundem interesses privados com funções públicas. Fontes clássicas: Sérgio Buarque de Holanda (1936) sobre o “homem cordial”, Max Weber sobre patrimonialismo e Raymundo Faoro (1958) sobre a captura do Estado por interesses privados.

Estratégia para resolver questões assim:

- Identifique termos-chave do enunciado (aqui: cordialidade, público/privado, teóricos do Estado).

- Relacione-os a conceitos canônicos (patrimonialismo, clientelismo, coronelismo, institucionalização do Estado).

- Lembre autores referência para respaldar a alternativa (Holanda, Freyre, Faoro, Weber).

Referências essenciais para estudo: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala; Raymundo Faoro, Os Donos do Poder; Max Weber, escritos sobre formas de dominação e patrimonialismo.

Comentário final: a alternativa C é correta porque reflete uma interpretação consolidada sobre a formação sociopolítica brasileira: traços culturais e práticas patrimonialistas contribuíram para a dissolução das fronteiras entre público e privado.

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