As singularidades do povo brasileiro, como a
cordialidade, a criatividade e a tolerância, listadas no
texto acima, fizeram alguns teóricos do Estado
concluir que o processo de formação do Brasil se deu
sem que ocorresse distinção nítida entre as esferas
pública e privada.
Leia o texto a seguir.
“Os mais velhos lembram-se muito bem, mas os mais
moços podem acreditar: entre 1950 e 1979, a sensação
dos brasileiros, ou de grande parte dos brasileiros, era a
de que faltava dar uns poucos passos para finalmente nos
tornarmos uma nação moderna. Esse alegre otimismo, só
contrariado em alguns rápidos momentos, foi mudando a
sua forma. Na década de 50, alguns imaginavam até que
estaríamos assistindo ao nascimento de uma nova
civilização nos trópicos, que combinava a incorporação
das conquistas materiais do capitalismo com a
persistência dos traços de caráter que nos singularizavam
como povo: a cordialidade, a criatividade, a tolerância.
De 1967 em diante, a visão de progresso vai assumindo a
nova forma de uma crença na modernização, isto é, de
nosso acesso iminente ao ‘Primeiro Mundo’.” (NOVAIS,
F. A.; MELLO, J. M. C. de. Capitalismo tardio e
sociabilidade moderna. In: SCHWARCZ, L. M. (Org.)
História da vida privada no Brasil. v.4. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998, p. 560).
Considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre
a formação e as transformações do Estado Brasileiro,
entre 1950 e 1979, assinale o que for correto.
Gabarito comentado
Resposta: C — certo
Tema central: a questão relaciona traços culturais atribuídos ao “povo brasileiro” (cordialidade, criatividade, tolerância) à ideia de que, historicamente, no Brasil houve fraca separação entre as esferas pública e privada — isto é, uma tendência ao patrimonialismo e ao personalismo nas relações políticas e administrativas.
Resumo teórico (claro e progressivo):
- Patrimonialismo (conceito de Max Weber): sistema em que o poder público se organiza segundo relações pessoais e familiares, sem clara distinção entre bens e autoridade privada e pública.
- Na interpretação clássica da formação brasileira, autores como Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) descrevem o “homem cordial” e a prevalência de laços pessoais nas relações sociais e políticas, o que facilita a entrada do privado no espaço público.
- Raymundo Faoro (Os Donos do Poder) e estudos sobre coronelismo demonstram como práticas patrimonialistas e clientelistas minaram a institucionalização do Estado moderno no Brasil, sobretudo nas primeiras décadas da República, efeito ainda percebido em meados do século XX.
Justificativa do gabarito (por que C é correto):
O enunciado afirma que certas singularidades culturais levaram teóricos a concluir que a formação do Brasil ocorreu sem distinção nítida entre público e privado. Essa conclusão é consistente com a tradição interpretativa da historiografia e da ciência política brasileira: a noção de cordialidade e de relações pessoais explica a persistência de práticas patrimonialistas, clientelistas e de personalismo que confundem interesses privados com funções públicas. Fontes clássicas: Sérgio Buarque de Holanda (1936) sobre o “homem cordial”, Max Weber sobre patrimonialismo e Raymundo Faoro (1958) sobre a captura do Estado por interesses privados.
Estratégia para resolver questões assim:
- Identifique termos-chave do enunciado (aqui: cordialidade, público/privado, teóricos do Estado).
- Relacione-os a conceitos canônicos (patrimonialismo, clientelismo, coronelismo, institucionalização do Estado).
- Lembre autores referência para respaldar a alternativa (Holanda, Freyre, Faoro, Weber).
Referências essenciais para estudo: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala; Raymundo Faoro, Os Donos do Poder; Max Weber, escritos sobre formas de dominação e patrimonialismo.
Comentário final: a alternativa C é correta porque reflete uma interpretação consolidada sobre a formação sociopolítica brasileira: traços culturais e práticas patrimonialistas contribuíram para a dissolução das fronteiras entre público e privado.
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