“Do conselho dos notáveis do arraial somente fazem parte dois vogais que não pertencem a essa parentalha dos Pereira Moreira. O chefe, o que manobra, é o mais velho tratado por Zezão Vigilato Pereira Moreira, a quem todos obedecem. O conselho discute tudo, mas na hora de decidir, quem dá a palavra se consente ou não é seu Zezão”.
BERNARDES, Carmo. Santa Rita. Goiânia: Ed. UFG, 1995, p. 13.

Com base no fragmento textual de Carmo Bernardes e no processo histórico concernente a ele, assinale a alternativa incorreta no que se refere ao coronelismo em Goiás.

O texto nos mostra, através de uma história fictícia, algumas práticas do coronelismo em Goiás: familiocracia, centralização do poder regional e estreita relação entre o público e o privado.

No período da Primeira República brasileira, em Goiás, os coronéis, representados pelo personagem Zezão Vigilato, tinham grande poder regional.

O coronelismo em Goiás não é muito bem caracterizado na narrativa de Bernardes, pois as práticas dos Caiados e Bulhões se apoiavam mais na Política do Pão e Circo.

A prática coronelística em Goiás não é registrada apenas nas obras de Carmo Bernardes. Escritores como Bernardo Elis e Hugo de Carvalho Ramos, entre outros, escreveram obras que também abordam este fenômeno político-social.

Caiadismo e bulhonismo são expressões regionais do coronelismo que caracterizou a política em Goiás na Primeira República.

Gabarito comentado

Monica Lima Monitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: trata-se do coronelismo em Goiás — sistema político da Primeira República marcado por poder local concentrado em chefes oligárquicos, controle de votos, clientelismo e predominância de famílias locais na administração e na tomada de decisões.

Resumo teórico: o coronelismo combina: familiocracia (famílias dominantes), clientelismo (troca de favores por votos), coerção e influência sobre administrações locais. Obras fundamentais: Os Donos do Poder (Raymundo Faoro) e Coronelismo, Enxada e Voto (Victor Nunes Leal). Em Goiás, estudos regionais (p.ex. Carmo Bernardes, Hugo de Carvalho Ramos) mostram expressões locais como o “caiadismo” e o “bulhonismo”.

Por que a alternativa C é a incorreta (logo, a resposta certa da questão)?

A alternativa C afirma que a narrativa de Bernardes “não caracteriza bem o coronelismo” porque as práticas dos Caiados e Bulhões se baseavam mais na “Política do Pão e Circo”. Isso é equivocado: a obra de Bernardes evidencia a dominação local por um chefe (Zezão) que impõe decisões, família dominante e cumplicidade entre público e privado — elementos típicos do coronelismo. Além disso, Caiadismo e bulhonismo são formas regionais de coronelismo, não fenômenos centrados em “Pão e Circo” (que remete a clientelismo urbano/populista distinto da lógica oligárquica rural). Portanto, a afirmação da alternativa C deturpa a natureza do fenômeno em Goiás.

Análise das demais alternativas (por que estão corretas):

- A: descreve corretamente práticas visíveis no trecho — familiocracia, centralização e fusão público-privado.

- B: historicamente correto — na Primeira República os coronéis detinham grande poder regional em Goiás.

- D: correto — Bernardes não é único; outros autores regionais trataram do fenômeno (p.ex. Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Elis).

- E: correto — “caiadismo” e “bulhonismo” são denominadores regionais do coronelismo goiano.

Dica de interpretação: ao buscar a alternativa “incorreta”, repare em termos deslocados (como “Pão e Circo” aqui). Verifique se a alternativa confunde fenômenos distintos (coronelismo rural vs. populismo urbano) e atente para a presença de negações na pergunta.

Fontes sugeridas: Raymundo Faoro, Os Donos do Poder; Victor Nunes Leal, Coronelismo, Enxada e Voto; Carmo Bernardes, Santa Rita; estudos de Hugo de Carvalho Ramos.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!