Questão 802115f4-b0
Prova:UNEMAT 2017
Disciplina:Geografia
Assunto:Globalização

“O medo invade, por não se saber medo de que, o imaginário do indivíduo de forma tão voraz que não se percebe, verdadeiramente, suas profundas razões. Esse sentimento de insegurança e de medo é que justifica ao Estado tomar medidas simbólicas cada vez mais autoritárias, fortalecendo o imaginário da ordem, causando uma diminuição dos espaços sociais, o isolamento gradativo e voluntário das vítimas [...], exacerbando o individualismo, característicos da sociedade contemporânea”.

GRAZIANO SOBRINHO, Sergio Francisco Carlos. Globalização e sociedade de controle: a cultura do medo e o mercado da violência. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. p. 149.

No texto acima, o autor faz uma reflexão sobre uma das facetas da atualidade que se expressa em torno do medo. Ao fazê-lo, sugere que

A
o medo é uma característica do Homem e graças a ele a humanidade conseguiu sobreviver nas primeiras etapas de sua evolução, na savana africana, em meio a outras espécies bem maiores e mais selvagens.
B
a relação entre medo e individualismo é uma das premissas da sociedade capitalista, desde o seu nascimento no século XIX, pois “medo de passar fome”, “medo de não ter onde morar” e outros medos impelem os indivíduos ao mercado de trabalho.
C
o papel do Estado na atualidade é manter uma relação de equilíbrio entre os vários grupos que compõem a sociedade e, nesse sentido, a ideologia do medo deve ser combatida para o bem-estar de todos.
D
o medo é uma forma de controle social que se dá através da produção do discurso da insegurança generalizada, em que o Estado e a mídia se constituem como protagonistas centrais neste processo e, de sua aceitação muitas vezes voluntária, pela coletividade.
E
o aumento da insegurança e do medo, na contemporaneidade, está vinculado ao aumento da pobreza, o que tem levado muitos jovens que não conseguem emprego a buscar na criminalidade formas de sustento e reconhecimento social.

Gabarito comentado

P
Paula DelgadoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa D

Tema central: o texto trata da “cultura do medo” contemporânea e de como esse sentimento é produzido e usado como mecanismo de controle social, com destaque para o papel do Estado e da mídia na fabricação do discurso de insegurança.

Resumo teórico (essencial para concursos): a literatura sobre globalização e insegurança aborda que, em sociedades complexas, o medo deixa de ser só reação a riscos reais e transforma‑se em instrumento simbólico que legitima medidas autoritárias e reduz espaços públicos. Autores úteis para aprofundar: Ulrich Beck (Sociedade de Risco), Zygmunt Bauman (Modernidade Líquida), Gilles Deleuze (sociedades de controle) e Michel Foucault (vigilância e poder). Esses trabalhos explicam como discursivamente se constrói uma sensação generalizada de perigo que molda comportamentos coletivos.

Por que a alternativa D está correta: ela sintetiza exatamente o argumento do enunciado: o medo é produzido como discurso de insegurança generalizada; o Estado e a mídia atuam como protagonistas na construção desse imaginário; e a aceitação desse discurso pela coletividade leva ao isolamento voluntário e ao reforço do individualismo — ou seja, é uma forma de controle social. Essa leitura casa com a ideia de medidas simbólicas e autoritárias citadas pelo autor.

Análise das alternativas incorretas (como eliminar cada uma):

A — fala de medo em um contexto evolutivo na savana: tema distinto (biológico/antropológico) e não corresponde à crítica sociopolítica presente no texto.

B — reduz a relação medo‑mercado ao impulso para entrar no trabalho (medos de fome, moradia). Embora medo e mercado se cruzem historicamente, a proposta do autor é outra: foco no uso político e midiático do medo na contemporaneidade, não numa explicação econômica clássica do século XIX.

C — apresenta uma postura normativa (o papel ideal do Estado é equilibrar grupos e combater a ideologia do medo). Correta como ideal, mas não capta a observação do texto sobre o Estado como agente que implementa medidas autoritárias a partir do medo.

E — vincula aumento da insegurança principalmente ao aumento da pobreza e à criminalidade juvenil. É uma explicação parcial e socioeconômica; o trecho em análise enfatiza a produção simbólica do medo e o papel da mídia/Estado, não apenas fatores estruturais econômicos.

Dica de estratégia para prova: busque palavras‑chave do enunciado — “medidas simbólicas autoritárias”, “imaginário da ordem”, “isolamento voluntário” — e relacione‑as à alternativa que explicitamente menciona discurso, Estado e mídia. Elimine respostas que mudem o nível de análise (biológico, estritamente econômico ou normativo).

Referências recomendadas: Ulrich Beck, Zygmunt Bauman, Gilles Deleuze, Michel Foucault; e o próprio G. Sobrinho (Globalização e sociedade de controle) para contexto.

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