“O medo invade, por não se saber medo de que,
o imaginário do indivíduo de forma tão voraz que não se
percebe, verdadeiramente, suas profundas razões. Esse
sentimento de insegurança e de medo é que justifica ao
Estado tomar medidas simbólicas cada vez mais
autoritárias, fortalecendo o imaginário da ordem,
causando uma diminuição dos espaços sociais, o
isolamento gradativo e voluntário das vítimas [...],
exacerbando o individualismo, característicos da
sociedade contemporânea”.
GRAZIANO SOBRINHO, Sergio Francisco Carlos. Globalização e
sociedade de controle: a cultura do medo e o mercado da violência.
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. p. 149.
No texto acima, o autor faz uma reflexão sobre
uma das facetas da atualidade que se expressa em torno
do medo. Ao fazê-lo, sugere que
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa D
Tema central: o texto trata da “cultura do medo” contemporânea e de como esse sentimento é produzido e usado como mecanismo de controle social, com destaque para o papel do Estado e da mídia na fabricação do discurso de insegurança.
Resumo teórico (essencial para concursos): a literatura sobre globalização e insegurança aborda que, em sociedades complexas, o medo deixa de ser só reação a riscos reais e transforma‑se em instrumento simbólico que legitima medidas autoritárias e reduz espaços públicos. Autores úteis para aprofundar: Ulrich Beck (Sociedade de Risco), Zygmunt Bauman (Modernidade Líquida), Gilles Deleuze (sociedades de controle) e Michel Foucault (vigilância e poder). Esses trabalhos explicam como discursivamente se constrói uma sensação generalizada de perigo que molda comportamentos coletivos.
Por que a alternativa D está correta: ela sintetiza exatamente o argumento do enunciado: o medo é produzido como discurso de insegurança generalizada; o Estado e a mídia atuam como protagonistas na construção desse imaginário; e a aceitação desse discurso pela coletividade leva ao isolamento voluntário e ao reforço do individualismo — ou seja, é uma forma de controle social. Essa leitura casa com a ideia de medidas simbólicas e autoritárias citadas pelo autor.
Análise das alternativas incorretas (como eliminar cada uma):
A — fala de medo em um contexto evolutivo na savana: tema distinto (biológico/antropológico) e não corresponde à crítica sociopolítica presente no texto.
B — reduz a relação medo‑mercado ao impulso para entrar no trabalho (medos de fome, moradia). Embora medo e mercado se cruzem historicamente, a proposta do autor é outra: foco no uso político e midiático do medo na contemporaneidade, não numa explicação econômica clássica do século XIX.
C — apresenta uma postura normativa (o papel ideal do Estado é equilibrar grupos e combater a ideologia do medo). Correta como ideal, mas não capta a observação do texto sobre o Estado como agente que implementa medidas autoritárias a partir do medo.
E — vincula aumento da insegurança principalmente ao aumento da pobreza e à criminalidade juvenil. É uma explicação parcial e socioeconômica; o trecho em análise enfatiza a produção simbólica do medo e o papel da mídia/Estado, não apenas fatores estruturais econômicos.
Dica de estratégia para prova: busque palavras‑chave do enunciado — “medidas simbólicas autoritárias”, “imaginário da ordem”, “isolamento voluntário” — e relacione‑as à alternativa que explicitamente menciona discurso, Estado e mídia. Elimine respostas que mudem o nível de análise (biológico, estritamente econômico ou normativo).
Referências recomendadas: Ulrich Beck, Zygmunt Bauman, Gilles Deleuze, Michel Foucault; e o próprio G. Sobrinho (Globalização e sociedade de controle) para contexto.
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