Leia o fragmento de texto abaixo.

“Em agosto de 2000, em Brasília, com o patrocínio do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento, do CAF –Corporação Andina de Fomento, e FONPLATA– Fundo de Desenvolvimento da Bacia do Prata e a presença de representantes dos 12 países sul-americanos, foi lançada a IIRSA –, Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana. Essa iniciativa propõe recortar o continente sul-americano em dez faixas prioritárias para investimentos em infraestrutura, tendo em vista o potencial exportador de cada uma delas. É preciso lembrar que os setores de infra-estrutura definem o modelo produtivo que vai prevalecer sobre os territórios” (Adaptado http://www.integracionsur.com/americalatina/NovoaGarzonIIrsaFuturo.htm).”

De acordo com o texto e seus conhecimentos sobre desenvolvimento regional sulamericano, sobre o IIRSA, é incorreto afirmar:

Grandes projetos energéticos e de transportes servem para fortalecer ainda mais os grupos econômicos nacionais e internacionais, baixando seus custos e aumentando sua escala de produção e escoamento.

Configura-se pelo disciplinamento de territórios através de novos espaços institucionais, novas lealdades e consensos de novo tipo. Por isso mesmo, multinacionais, mineradoras, empresas pecuaristas e monocultoras de soja, celulose e cana serão as beneficiárias diretas desses projetos.

A IIRSA representa um marco lógico orientador da integração subalterna do continente sul-americano aos mercados mundiais com participação ativa dos Estados nacionais já profundamente reformulados por medidas de ajuste e por reformas institucionais e administrativas correspondentes.

Os setores econômicos que sobrevivem aos processos de reestruturação são absolutamente dependentes dos mercados internacionais como supridores, intermediários ou distribuidores, em nome da competitividade e do crescimento.

Fortalece o tripé desenvolvimentista dos anos 1960/1970 (Estado, capital nacional e capital estrangeiro), com restauração de um processo decisório público, que operacionaliza e naturaliza a lógica do capital financeiro e dos setores estatais como a Petrobrás.

Gabarito comentado

Jair CaldeiraMonitor do Qconcursos

Resposta correta: alternativa E (incorreta)

Tema central: A questão trata da IIRSA — iniciativa de integração por infraestrutura na América do Sul — e de seu papel no modelo de desenvolvimento regional: promoção de corredores exportadores, atração de capitais e reordenação territorial para integração aos mercados mundiais. Fontes: documentos do BID/CAF sobre IIRSA e textos críticos como Novoa & Garzón.

Resumo teórico curto: A IIRSA organiza “faixas prioritárias” para infraestrutura (rodovias, portos, energia) com objetivo exportador. É associada a uma lógica neoliberal: redução do papel direto do Estado como empreendedor, estímulo ao capital transnacional, privatizações e financeirização — resultando em disciplinamento territorial e favorecimento do agronegócio, mineração e grandes empresas.

Por que a alternativa E está incorreta: Ela afirma que a IIRSA fortalece o modelo desenvolvimentista dos anos 1960/70 (Estado + capital nacional + capital estrangeiro) e restaura decisão pública estatal como a Petrobras. Na verdade, IIRSA promove a integração subalterna ao mercado mundial e amplia a participação do capital privado/financeiro, diminuindo o papel estatal como protagonista. Portanto a ideia de “restauração” do tripé desenvolvimentista e de centralidade estatal é contrária à lógica efetiva da IIRSA.

Análise das demais alternativas (por que são coerentes com o texto):

A: Correta — grandes obras reduzindo custos e ampliando escala beneficiam grupos econômicos nacionais e internacionais, exatamente o objetivo dos corredores.

B: Correta — a iniciativa disciplina territórios (novos mercados institucionais) e beneficia multinacionais, mineradoras e agronegócio.

C: Correta — IIRSA funciona como marco lógico para integração subalterna, com Estados já “reformulados” por medidas de ajuste.

D: Correta — setores remanescentes passam a depender fortemente dos mercados internacionais em nome da competitividade.

Dica de interpretação: ao ver “incorreto”, procure a alternativa que contrasta com a lógica geral do enunciado (aqui: privatização e subordinação ao mercado). Palavras-chave como “restauração”, “processo decisório público” são sinais de contradição.

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