“Baianinho era cativo do coronel Batista, a quem
ficara devendo um despropósito. Dívida fantástica,
dívida inventada pelo coronel. Baianinho comprava
uma rapadura, o coronel assentava duas em sua
conta; no mercado a rapadura custava quinhentos
réis, nos assentamentos do coronel cada rapadura
custava o dobro. Com cinco anos Baianinho devia
tanto que não pagaria ainda que trabalhasse o restante
da vida”.
(ÉLIS, Bernardo. O Tronco. Rio de Janeiro: José Olympio,
1979)
As construções literárias buscam retratar, em
essência, ações culturais e a realidade social de um
povo ou região. A literatura goiana não foi diferente.
Nessa passagem da obra O Tronco, Bernardo Élis
busca retratar a realidade social das relações de
trabalho entre coronéis e seus agregados no sertão
goiano.
A partir do que foi apresentado sobre o
coronelismo em Goiás, assinale a alternativa correta.
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: coronelismo e relações de poder no campo goiano. A passagem literária descreve práticas reais de dependência: endividamento, exploração econômica e controle social — elementos-chave para identificar o fenômeno.
Resumo teórico: o coronelismo é um padrão de poder local baseado no clientelismo e na dominação econômica/política das oligarquias rurais. Meios típicos: controle de acesso ao crédito e ao trabalho (engenhos, armazéns do “coronel”), cobrança de dívidas fictícias, coerção física e manipulação de votos. Obras clássicas que tratam do tema: Victor Nunes Leal e estudos sobre coronelismo; Sérgio Buarque de Holanda (paternalismo e clientelismo); Raymundo Faoro (patrimonialismo). A literatura regional (ex.: Bernardo Élis) serve como fonte cultural e documental sobre essas práticas.
Por que B é correta: a alternativa descreve precisamente os mecanismos narrados no trecho — dependência construída por violência, abuso de poder e endividamento nos armazéns do coronel. A rapadura cobrada em dobro e a dívida “fantástica” são exemplos clássicos de peonagem por dívida (trabalho forçado por débito).
Análise das incorretas: A — erro: afirma que coronelismo ocorre em áreas de forte urbanização. Na realidade é típico do campo e das pequenas cidades; embora coronéis tivessem influência urbana, a caracterização é imprecisa e absolutista. C — erro: confunde campos distintos. Literatura pode ser fonte ou evidência interpretativa para a História, mas não se “confundem” metodologicamente; são campos complementares. D — erro factual: negar a existência de coronelismo nas oligarquias goianas contraria a historiografia regional; muitos líderes locais integravam práticas oligárquicas e clientelistas. E — erro: descarta o valor histórico da literatura. Ficção não é prova documental direta, mas é útil para entender representações sociais e práticas culturais; historiadores a utilizam como fonte crítica.
Dica de prova: busque no enunciado palavras-chave (ex.: dívida, armazém, coronel, cativo). Elimine alternativas absolutas (sempre, nada, todos) e aquelas que contradizem a cena narrada. Relacione texto + conhecimento historiográfico básico.
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