Leia o texto a seguir:
Esse mundo globalizado, visto com fábula, exige certo número de fantasias... Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta através da disposição, cada vez maior, de mercadoria para o consumo... Podemos indagar se não estamos diante de uma ideologização maciça, segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações.
Milton Santos, 2000

O geógrafo Milton Santos faz uma importante abordagem sobre o processo geopolítico contemporâneo, cujo contexto socioespacial está amplamente relacionado com todas as alternativas apresentadas a seguir, EXCETO:

A forte crença na flexibilização das relações sociais de produção e na terceirização de algumas etapas do processo produtivo para consolidar os ajustes espaciais necessários à nova acumulação do capital globalizado.

A criação de expressões que são dadas como regras. Termos, como “aldeia global”, “morte do Estado” e “flexibilidade”, aparecem, comumente, veiculados pela mídia e são adotados como modelo político e econômico na economia globalizada

A aceleração do tempo, por meio da informação em rede, e o encurtamento do espaço para proprietários de multinacionais ou agentes financeiros internacionais que transformam a compressão da distância em vantagens econômicas e em poder.

A difusão cada vez maior de notícias. O mito do tempo-espaço e o mercado dito global, homogêneo, que vêm aumentando a fragmentação espacial e social e a desterritorialização das pessoas e do processo produtivo

A valorização da experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares e visão do mundo, que são expressas por meio das atitudes e dos valores humanos, nos espaços de vivência.

Gabarito comentado

Jair CaldeiraMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: E

Tema central: compreensão da crítica de Milton Santos à globalização como processo socioespacial marcado por desigualdades, fabulações midiáticas e reorganização espacial do capital (tempo-espaço comprimido, flexibilização, terceirização).

Resumo teórico (síntese): Milton Santos analisa a globalização como um fenômeno desigual e ideológico: fala de “fabulações” — narrativas que naturalizam o mercado global; do encurtamento do espaço e aceleração do tempo (vantagem para agentes transnacionais); da flexibilização e terceirização como estratégias da acumulação; e da aparente homogeneização que, na prática, gera fragmentação e desterritorialização. Fontes: Milton Santos — Por uma outra globalização (2000); A Natureza do Espaço (1996).

Por que a alternativa E é a EXCEÇÃO? A alternativa E enfatiza a valorização da experiência individual/grupal e sentidos ligados ao lugar — abordagem típica da geografia humanista/phenomenológica (por exemplo, Yi-Fu Tuan). Embora Santos reconheça práticas cotidianas, sua ênfase nas questões desta questão é estrutural e geopolítica (capital, ideologia, reestruturação espacial). Portanto, E não representa o foco central da crítica de Milton Santos à globalização.

Análise das incorretas (por que se relacionam a Milton Santos):

A: Flexibilização e terceirização — alinha-se à reestruturação produtiva que Santos descreve como ajuste espacial para a nova acumulação do capital.

B: Criação de expressões midiáticas (“aldeia global”, “morte do Estado”, “flexibilidade”) — corresponde à ideia de fabulações e à ideologização que naturaliza a globalização.

C: Aceleração do tempo e encurtamento do espaço — é exatamente a noção de compressão espaço-tempo que beneficia agentes transnacionais, central na obra de Santos.

D: Difusão de notícias, mito do tempo-espaço e aumento da fragmentação/desterritorialização — sintetiza a crítica de Santos sobre a falsa homogeneidade do mercado global e as desigualdades produzidas.

Estratégia para resolver questões tipo “EXCETO”: 1) Identifique o enfoque teórico do autor citado; 2) marque alternativas com termos-chave (flexibilização, compressão espaço-tempo, fabulação); 3) descarte aquela que traz enfoque diferente (aqui, humanista/afetivo).

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