Assinale a alternativa correta sobre a cidade de Detroit, ex-símbolo da indústria
automobilística mundial.
A partir da leitura do texto “De volta à condição proletária”, de Ruy Braga e Marco
Aurélio Santana, responda à questão.
“Berço histórico do chamado ‘novo sindicalismo’ brasileiro, o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC comemorou 50 anos de existência no último dia 12 de maio. É praticamente
impossível lembrar dessa efeméride sem associá-la àquele movimento grevista do ano de
1978 que renovou o cenário político brasileiro catalisando o fim da ditadura e impulsionando a luta pela redemocratização do país por meio, principalmente, da criação do Partido
dos Trabalhadores (PT) – e, posteriormente, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). (…)
Amalgamada pelo desenvolvimento industrial acelerado, pelo despotismo fabril, por
condições de trabalho degradantes, pelo autoritarismo estatal e por intensos fluxos migratórios, essa ‘nova’ classe trabalhadora fordista, periférica, do ABC paulista não tardaria a
contradizer os prognósticos sociológicos do início dos anos 1970. Em vez de politicamente
‘passiva’, pois carente de ‘tradições’ organizativas, ela seria militante e rebelde. (…)
Contudo, como indicava a filósofa Simone Weil, ‘a condição operária muda continuamente’ (…)
As razões para o desmanche da classe mobilizada e o retorno a uma condição proletária
indiferenciada são conhecidas e enlaçam processos econômicos, políticos e simbólicos. Indo
do geral ao particular, parece-nos que a mundialização capitalista, tendo os mercados financeiros à frente, responde por parte substantiva dos motivos que geraram essa realidade.
Nos países capitalistas avançados, após a longa transição dos anos 1970, a entrada em
cena de quantidades desmedidas de capitais financeiros – na forma de fundos de pensão,
fundos mútuos, seguros e fundos hedge – reconfigurou o modelo de desenvolvimento
fordista que vigorava até então. Resultante da desregulamentação dos mercados de capitais e da contraonfesiva política neoliberal, somadas ao desenvolvimento das tecnologias
da informação, um novo regime de acumulação financeirizado emergiu para restabelecer a
lucratividade da empresas. (…)
No Brasil, a década de 1990 foi marcada por essas características. As transformações
produtivas incrementaram o desemprego e degradaram o ambiente laboral, desestruturando ainda mais nosso mercado de trabalho. O aumento da concorrência entre os trabalhadores foi acompanhado pela multiplicação das formas, até então atípicas, de contratação
de trabalho. (…)
Uma imagem capaz de ilustrar com nitidez o especial significado das transformações do
mundo do trabalho no Brasil contemporâneo talvez seja a da ocupação que mais cresceu
em termos numéricos nos anos recentes: os operários de telemarketing. Amalgamado
pelos investimentos no setor de serviços, pelas privatizações, pelas tercerizações, pela rotatividade, pela informatização e pela financeirização das empresas, esse ‘infoproletariado’,
carente de tradições organizativas e, portanto, despolitizado e com baixa aparição coletiva
na cena pública, é a verdadeira antítese da classe mobilizada das greves de 1978”.
“De volta à condição proletária”, Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, Revista Cult, ano 12, número
139. Texto adaptado.
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: o texto e a questão tratam de desindustrialização e das transformações do mundo do trabalho após o fordismo — usando Detroit como estudo de caso da queda de um pólo industrial.
Resumo teórico (essencial): o modelo fordista (produção em massa, forte sindicalização, emprego industrial estável) entrou em crise a partir dos anos 1970 por automação, competição internacional, financeirização e políticas neoliberais. Resultado: perda de empregos industriais, êxodo populacional, enfraquecimento da base tributária urbana e degradação socioespacial. Para Detroit, obras clássicas como Thomas Sugrue, The Origins of the Urban Crisis (1989), explicam esse processo.
Por que E é correta: a alternativa resume fatos históricos: Detroit foi centro automotivo e, na Segunda Guerra, foi chamada de “arsenal da democracia” por sua produção bélica. Hoje enfrenta desemprego elevado, declínio populacional, criminalidade e degradação urbana — diagnóstico compatível com estudos sobre a cidade e com a narrativa de desindustrialização.
Análise das incorretas:
A — incorreta: atribui o fenômeno ao furacão Katrina (evento de New Orleans, 2005). Detroit sofreu declínio por desindustrialização, não por Katrina.
B — incorreta: mistura causas e locais. Cidades como Filadélfia/Durham não explicam a decadência de Detroit; o processo é ligado à perda da indústria automotiva, automação, relocalização fabril e políticas econômicas, não à ascensão de “áreas high‑tech” como causa direta.
C — incorreta: a crise do “american way of life” já vinha sendo questionada décadas antes; além disso, afirmar que é a “primeira vez” é exagero histórico e impreciso.
D — incorreta: dados exagerados/errôneos (mão de obra de US$70/h e saída completa das montadoras para China/Índia/Brasil na década de 1980). A deslocalização foi parcial, gradual e complexa; muitos fatores domésticos e externos explicam a migração industrial.
Fontes recomendadas: Thomas Sugrue, The Origins of the Urban Crisis; estudos sobre fordismo/post‑fordismo e relatórios históricos sobre Detroit. Para a referência do termo “arsenal da democracia”, confira os discursos de Franklin D. Roosevelt e estudos sobre a indústria norte‑americana na 2ª Guerra.
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