Questão 6cf54998-eb
Prova:CÁSPER LÍBERO 2009
Disciplina:Geografia
Assunto:Industrialização, Indústria mundial contemporânea

Assinale a alternativa correta sobre a cidade de Detroit, ex-símbolo da indústria automobilística mundial.

A partir da leitura do texto “De volta à condição proletária”, de Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, responda à questão.


“Berço histórico do chamado ‘novo sindicalismo’ brasileiro, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC comemorou 50 anos de existência no último dia 12 de maio. É praticamente impossível lembrar dessa efeméride sem associá-la àquele movimento grevista do ano de 1978 que renovou o cenário político brasileiro catalisando o fim da ditadura e impulsionando a luta pela redemocratização do país por meio, principalmente, da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) – e, posteriormente, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). (…) Amalgamada pelo desenvolvimento industrial acelerado, pelo despotismo fabril, por condições de trabalho degradantes, pelo autoritarismo estatal e por intensos fluxos migratórios, essa ‘nova’ classe trabalhadora fordista, periférica, do ABC paulista não tardaria a contradizer os prognósticos sociológicos do início dos anos 1970. Em vez de politicamente ‘passiva’, pois carente de ‘tradições’ organizativas, ela seria militante e rebelde. (…) Contudo, como indicava a filósofa Simone Weil, ‘a condição operária muda continuamente’ (…)
As razões para o desmanche da classe mobilizada e o retorno a uma condição proletária indiferenciada são conhecidas e enlaçam processos econômicos, políticos e simbólicos. Indo do geral ao particular, parece-nos que a mundialização capitalista, tendo os mercados financeiros à frente, responde por parte substantiva dos motivos que geraram essa realidade. Nos países capitalistas avançados, após a longa transição dos anos 1970, a entrada em cena de quantidades desmedidas de capitais financeiros – na forma de fundos de pensão, fundos mútuos, seguros e fundos hedge – reconfigurou o modelo de desenvolvimento fordista que vigorava até então. Resultante da desregulamentação dos mercados de capitais e da contraonfesiva política neoliberal, somadas ao desenvolvimento das tecnologias da informação, um novo regime de acumulação financeirizado emergiu para restabelecer a lucratividade da empresas. (…)
No Brasil, a década de 1990 foi marcada por essas características. As transformações produtivas incrementaram o desemprego e degradaram o ambiente laboral, desestruturando ainda mais nosso mercado de trabalho. O aumento da concorrência entre os trabalhadores foi acompanhado pela multiplicação das formas, até então atípicas, de contratação de trabalho. (…)
Uma imagem capaz de ilustrar com nitidez o especial significado das transformações do mundo do trabalho no Brasil contemporâneo talvez seja a da ocupação que mais cresceu em termos numéricos nos anos recentes: os operários de telemarketing. Amalgamado pelos investimentos no setor de serviços, pelas privatizações, pelas tercerizações, pela rotatividade, pela informatização e pela financeirização das empresas, esse ‘infoproletariado’, carente de tradições organizativas e, portanto, despolitizado e com baixa aparição coletiva na cena pública, é a verdadeira antítese da classe mobilizada das greves de 1978”.
“De volta à condição proletária”, Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, Revista Cult, ano 12, número 139. Texto adaptado.

A
O auge da cidade de Detroit ocorreu na década de 50, com quase dois milhões de habitantes. Mas o fenômeno Katrina, que varreu a cidade, e a crise imobiliária desencadearam altos índices de inadimplência e de criminalidade, com muitas casas abandonadas e/ou ocupadas por viciados em crack.
B
A decadência da cidade de Detroit decorre da emergência de áreas “high-tech”, pósserviço, como Filadélfia e Durham, que estão perdendo usinas siderúrgicas e fábricas têxteis, forçando milhares de trabalhadores para as filas do auxílio-desemprego.
C
Desde o pioneirismo da linha de produção de Henry Ford, que fundou o império automobilístico americano, é a primeira vez que o american way of life da cidade de Detroit é questionado.
D
Com um custo de mão-de-obra de 70 dólares por hora, planos de saúde integrais e vitalícios e sindicatos combativos, a cidade de Detroit acabou afugentando, na década de 80, as montadoras General Motors, Ford e Chrysler, que se transferiram para a China, a Índia e o Brasil.
E
A próspera Detroit, que outrora foi palco da pujança da indústria automobilística, da produção dos tanques e veículos que abasteciam os aliados durante a Segunda Guerra, momento no qual foi denominada de “arsenal da democracia”, exibe hoje uma atmosfera desoladora: desemprego em massa, criminalidade e degradação da vida urbana.

Gabarito comentado

J
Jair CaldeiraMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: E

Tema central: o texto e a questão tratam de desindustrialização e das transformações do mundo do trabalho após o fordismo — usando Detroit como estudo de caso da queda de um pólo industrial.

Resumo teórico (essencial): o modelo fordista (produção em massa, forte sindicalização, emprego industrial estável) entrou em crise a partir dos anos 1970 por automação, competição internacional, financeirização e políticas neoliberais. Resultado: perda de empregos industriais, êxodo populacional, enfraquecimento da base tributária urbana e degradação socioespacial. Para Detroit, obras clássicas como Thomas Sugrue, The Origins of the Urban Crisis (1989), explicam esse processo.

Por que E é correta: a alternativa resume fatos históricos: Detroit foi centro automotivo e, na Segunda Guerra, foi chamada de “arsenal da democracia” por sua produção bélica. Hoje enfrenta desemprego elevado, declínio populacional, criminalidade e degradação urbana — diagnóstico compatível com estudos sobre a cidade e com a narrativa de desindustrialização.

Análise das incorretas:

A — incorreta: atribui o fenômeno ao furacão Katrina (evento de New Orleans, 2005). Detroit sofreu declínio por desindustrialização, não por Katrina.

B — incorreta: mistura causas e locais. Cidades como Filadélfia/Durham não explicam a decadência de Detroit; o processo é ligado à perda da indústria automotiva, automação, relocalização fabril e políticas econômicas, não à ascensão de “áreas high‑tech” como causa direta.

C — incorreta: a crise do “american way of life” já vinha sendo questionada décadas antes; além disso, afirmar que é a “primeira vez” é exagero histórico e impreciso.

D — incorreta: dados exagerados/errôneos (mão de obra de US$70/h e saída completa das montadoras para China/Índia/Brasil na década de 1980). A deslocalização foi parcial, gradual e complexa; muitos fatores domésticos e externos explicam a migração industrial.

Fontes recomendadas: Thomas Sugrue, The Origins of the Urban Crisis; estudos sobre fordismo/post‑fordismo e relatórios históricos sobre Detroit. Para a referência do termo “arsenal da democracia”, confira os discursos de Franklin D. Roosevelt e estudos sobre a indústria norte‑americana na 2ª Guerra.

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