Questão 6cf100da-eb
Prova:CÁSPER LÍBERO 2009
Disciplina:Geografia
Assunto:Globalização

Assinale a alternativa correta sobre o contexto mundial contemporâneo no qual está inserida a classe trabalhadora.

A partir da leitura do texto “De volta à condição proletária”, de Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, responda à questão.


“Berço histórico do chamado ‘novo sindicalismo’ brasileiro, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC comemorou 50 anos de existência no último dia 12 de maio. É praticamente impossível lembrar dessa efeméride sem associá-la àquele movimento grevista do ano de 1978 que renovou o cenário político brasileiro catalisando o fim da ditadura e impulsionando a luta pela redemocratização do país por meio, principalmente, da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) – e, posteriormente, da Central Única dos Trabalhadores (CUT). (…) Amalgamada pelo desenvolvimento industrial acelerado, pelo despotismo fabril, por condições de trabalho degradantes, pelo autoritarismo estatal e por intensos fluxos migratórios, essa ‘nova’ classe trabalhadora fordista, periférica, do ABC paulista não tardaria a contradizer os prognósticos sociológicos do início dos anos 1970. Em vez de politicamente ‘passiva’, pois carente de ‘tradições’ organizativas, ela seria militante e rebelde. (…) Contudo, como indicava a filósofa Simone Weil, ‘a condição operária muda continuamente’ (…)
As razões para o desmanche da classe mobilizada e o retorno a uma condição proletária indiferenciada são conhecidas e enlaçam processos econômicos, políticos e simbólicos. Indo do geral ao particular, parece-nos que a mundialização capitalista, tendo os mercados financeiros à frente, responde por parte substantiva dos motivos que geraram essa realidade. Nos países capitalistas avançados, após a longa transição dos anos 1970, a entrada em cena de quantidades desmedidas de capitais financeiros – na forma de fundos de pensão, fundos mútuos, seguros e fundos hedge – reconfigurou o modelo de desenvolvimento fordista que vigorava até então. Resultante da desregulamentação dos mercados de capitais e da contraonfesiva política neoliberal, somadas ao desenvolvimento das tecnologias da informação, um novo regime de acumulação financeirizado emergiu para restabelecer a lucratividade da empresas. (…)
No Brasil, a década de 1990 foi marcada por essas características. As transformações produtivas incrementaram o desemprego e degradaram o ambiente laboral, desestruturando ainda mais nosso mercado de trabalho. O aumento da concorrência entre os trabalhadores foi acompanhado pela multiplicação das formas, até então atípicas, de contratação de trabalho. (…)
Uma imagem capaz de ilustrar com nitidez o especial significado das transformações do mundo do trabalho no Brasil contemporâneo talvez seja a da ocupação que mais cresceu em termos numéricos nos anos recentes: os operários de telemarketing. Amalgamado pelos investimentos no setor de serviços, pelas privatizações, pelas tercerizações, pela rotatividade, pela informatização e pela financeirização das empresas, esse ‘infoproletariado’, carente de tradições organizativas e, portanto, despolitizado e com baixa aparição coletiva na cena pública, é a verdadeira antítese da classe mobilizada das greves de 1978”.
“De volta à condição proletária”, Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, Revista Cult, ano 12, número 139. Texto adaptado.

A
Trata-se da intensificação do processo de globalização do capital, facilitado pela queda do chamado socialismo real, que, por sua vez, marca o fim da bipolaridade mundial.
B
Trata-se de um mundo multipolar, expresso pela Guerra Fria e pela democracia no Cone Sul da América do Sul, sob a liderança dos Estados Unidos.
C
Trata-se da transição de um mundo bipolar, marcado pela Guerra Fria, para um mundo multipolar, no qual predomina a chamada organização fordista do trabalho.
D
Trata-se de um espaço mundial hegemonizado por duas potências com distintas orientações ideológicas que garantem a democracia e a estabilidade política nos países aliados.
E
Trata-se de um mundo bipolar pautado na relação Norte/Sul, sob hegemonia dos EUA e da China, que se beneficiam da mão-de-obra barata.

Gabarito comentado

J
Jair CaldeiraMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: o enunciado trata da transformação do mundo do trabalho no contexto da globalização capitalista — especialmente a financeirização, a desregulamentação e a crise do modelo fordista, que enfraqueceram a classe trabalhadora organizada e ampliaram formas precárias de emprego (terceirização, telemarketing, etc.).

Resumo teórico (claro e progressivo): - Pós-1970 houve declínio do rígido modelo fordista (produção em massa, vínculo estável de trabalho) e emergência de regimes flexíveis de produção e acumulação. - Nas décadas de 1980–1990, políticas neoliberais (privatizações, desregulamentação) + avanço das tecnologias da informação + entrada massiva de capital financeiro (fundos, hedge funds) deram origem à financeirização. - Resultado: maior rotatividade, precarização, desemprego estrutural e enfraquecimento de tradições sindicais — o que o texto chama de retorno à “condição proletária indiferenciada”. Fontes úteis: estudos de David Harvey sobre neoliberalismo e financeirização; trabalhos de Saskia Sassen sobre globalização; relatórios da OIT sobre trabalho precário.

Por que a alternativa A está certa: A descreve corretamente um fenômeno central do texto: a intensificação da globalização do capital, facilitada pelo fim da bipolaridade (queda do “socialismo real”) que ampliou mercados e circulação de capital. Esse cenário explicita a transição para um regime financeirizado que reconfigurou relações de trabalho — exatamente o argumento dos autores.

Análise das alternativas incorretas: - B: mistura conceitos equivocados — afirma que o mundo multipolar está expresso "pela Guerra Fria" (contraditório) e que há “democracia no Cone Sul sob liderança dos EUA”; frase imprecisa e anacrônica. - C: diz haver transição para multipolaridade com predomínio do fordismo — incorreto: o texto aponta o oposto: o fordismo perde centralidade, dando lugar a regimes flexíveis/financeirizados. - D: descreve um espaço hegemonizado por duas potências ideologicamente distintas que garantem democracia — remete a uma visão idealizada da bipolaridade e não corresponde ao processo real de globalização capitalista descrito. - E: fala de um "mundo bipolar Norte/Sul sob hegemonia dos EUA e da China" — confunde conceitos: a relação Norte/Sul é outra matriz analítica; além disso, a hegemonia atual é mais complexa e não caracteriza corretamente o processo histórico tratado (fim da bipolaridade e ascensão da financeirização nos anos 1990).

Dica de prova (estratégia): busque termos temporais (décadas, “1990”), palavras-chaves do enunciado (financeirização, desregulamentação, neoliberalismo, infoproletariado). Desconfie de alternativas que misturam conceitos anacrônicos ou contraditórios.

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