Entesouramento e personagens como o Capitão Kidd, um corsário escocês a serviço do Reino Unido (que existiu de fato e viveu no século XVII), são de outros tempos. Mas parece ser de outro tempo também, ou se tornado distante, a ideia de que o movimento do capital busca, acima de tudo, se valorizar por meio do trabalho, no processo de produção. Se não é mais cabível o entesouramento nos moldes dos piratas, tampouco é aceitável acreditar que o capital busque ainda, fundamental e prioritariamente, sua reprodução por meio do trabalho industrial no processo de produção fabril.

(Sandra Lencioni. Metrópole, metropolização e regionalização, 2017. Adaptado.)

A forma contemporânea de reprodução do capital sugerida no excerto corresponde à lógica do chamado capitalismo

Resposta: B - financeiro

Tema central: trata-se da mudança na forma de reprodução do capital — da valorização via produção industrial para formas em que o lucro advém principalmente de operações financeiras e especulativas (a chamada financeirização).

Resumo teórico: o capitalismo financeiro caracteriza‑se pela importância crescente dos mercados financeiros, bancos, fundos e instrumentos como derivativos, créditos e juros na geração de lucro. Autores como Gerald Epstein e Greta Krippner discutem esse processo (ver Krippner, 2005; Epstein, 2005). David Harvey também relaciona a ascensão da financeirização ao neoliberalismo.

Por que a alternativa B é correta: o enunciado afirma que o capital não busca prioritariamente a reprodução por meio do trabalho fabril — ou seja, não é mais a produção industrial o centro da acumulação. Essa descrição corresponde precisamente à lógica do capitalismo financeiro, em que o ganho prioritário vem de fluxos financeiros, crédito e especulação, não da produção direta.

Análise das alternativas incorretas:

A - concorrencial: refere‑se à rivalidade entre capitais no mercado, característica permanente do capitalismo, mas não explica a mudança para reprodução por meios financeiros.

C - mercantil: diz respeito ao capitalismo comercial/mercantil histórico (acumulação por comércio e colonização), não à forma contemporânea descrita.

D - utópico: termo inadequado e sem relação com regimes de acumulação do capital.

E - social: poderia remeter a formas de economia social ou a um capitalismo com regulação social, mas não descreve a primazia de operações financeiras sobre a produção.

Estratégia de prova: ao ler o enunciado, busque palavras‑chave (“não… produção fabril”, “entesouramento — outro tempo”) que indicam deslocamento histórico do núcleo da acumulação; relacione‑as com conceitos (financeirização, mercantilismo, concorrência) para eliminar alternativas.

Referências sugeridas: Krippner, G. (2005). "The Financialization of the American Economy" ; Epstein, G. (ed.) (2005). "Financialization and the World Economy" ; Harvey, D. (2007). "A Brief History of Neoliberalism".

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